Procurando por Shangri-la

Shangri-la, 24 de janeiro de 2011.

Depois do Tiger Leaping Gorge, um dos mais magníficos trekkings de toda a China, viemos para os pés dos Himalaias. Conta a lenda que em um antigo reino da província de Yunnan foi achada uma pedra onde estava esculpida em caracteres chineses o nome Xiang-ge-li-laShangri-la ou Shambhala em sânscrito e desde lá algumas cidades da província disputaram o nome. Elas queriam ser Shangri-la pois o nome refere a um lugar mítico -sagrado no Budismo Tibetano- de tranquilidade, felicidade e paz onde seus habitantes seriam iluminados. Em 1925 James Hilton escreveu o livro Lost Horizon(Horizonte Perdido), onde após um pouso forçado próximo aos Himalaias, os passageiros de um avião buscaram abrigo em um local mágico onde todos viviam em harmonia, o que acrescentou ainda mais mistério no local. A cidade de Zhongdian no norte da província de Yunnan, próxima ao Tibete foi então proclamada Shangri-la em 2001.
Já no caminho a paisagem foi se tornando branca ,tudo estava coberto de neve. As casas das vilas na entrada da cidade tinham uma arquitetura que eu nunca tinha visto nada parecido, com paredes mais largas na base e grossos troncos que serviam como colunas. Era muito diferente das outras cidade da China por onde eu passei.
Fiquei na cidade antiga, onde tem as casinhas antigas e ruas estreitas. Faz muito frio aqui nesta época do ano, mesmo com três calças, 3 camisas e três jaquetas eu tremia andando na rua, não era por menos, o camarada do albergue disse que tinha feito 16 graus negativos durante a noite!! Até a água do vaso sanitário tava congelada, não tinha água nas torneiras...banho?
Rodamos toda a cidade antiga. Aqui tudo tem ares de Tibete...as cores, os restaurantes, as bandeiras coloridas com orações do Budismo Tibetano...entramos em templos, lojinhas de artesanato, e um museu bem grande e interessante, não tinha absolutamente ninguém lá dentro e não deu pra entender bem pois estava tudo escrito em chinês mas tinha umas fotos de pontos de energia do corpo e uns instrumentos de medicina bem antigos. Várias salas tipo consultórios, acho que era alguma coisa a ver com cura através de oração...sei lá, só tinham uns papéis com orações tibetanas sobre a mesa. De noite fomos num restaurantezinho comer um prato bem típico dessa região: carne de yak, que é uma espécie de búfalo bem peludo, quase tudo aqui é de yak...o couro das bolsas, roupas e carteiras, objetos feitos  do chifre, derivados de leite...
Ruas estreitas de Shangri-la



Restaurante Tibetano
O outro dia amanheceu com sol, subimos uma montanha onde no topo tinha um templo tibetano. Um jovem monge fazia orações na porta e milhares de bandeiras coloridas com orações do Budismo Tibetano ao redor. Por todo o sudeste asiático entrei em zilhões de templos budistas, mas esse aqui é diferente. O Budismo Tibetano é uma  vertente do Budismo que utiliza outras imagens, eles veneram algumas entidades(correspondentes aos santos do Catolicismo)  e têm os Lamas como uma categoria hierárquica superior, onde o Dalai Lama é o posto máximo. De lá de cima dava para avistar toda a cidade, os campos e a cadeia de montanhas ao redor...tudo muito bonito. Depois fomos de bicicleta andar pelos campos cobertos de neve(nunca tinha pedalado na neve!!!) nas vilas próximas da cidade, passando por vários rebanhos de yaks.
Imagens do Budismo Tibetano

Campos ao redor de Shangri-la


Bandeiras com oracoes do Budismo Tibetano no alto da montanha

Monge no templo tibetano no alto da montanha
Estar aqui estudando sobre Shangri-la me fez refletir bastante sobre paz e felicidade. Na verdade, Shangri-la não existe no mundo físico, por mais que a procuremos. Ela está na nossa mente, pode estar em qualquer lugar desde que nosso coração sinta isso. Talvez por isso que eu goste de ir para pequenas cidades, onde a vida é simples e podemos chegar mais perto desse estado de espírito. Provavelmente um workaholic que vive numa estressante cidade não veja isso da mesma forma, confunde tranquilidade com tédio e busca Shangri-la na conquista de coisas materiais.
Temos que encontrar Shangri-la.
Ela pode estar em um prato de arroz com feijão, no por-do-sol de uma praia deserta ou num abraço apertado.
 Você pode encontrá-la?
 Talvez não esteja procurando com cuidado.

2 comentários:

Kahlyne disse...

É como alcançar o Nirvana. Todo mundo deveria ao menos tentar, não custa nada...

Marcelo disse...

Uau! Gostei muito deste seu post. Foste plenamente contagiado pela energia dessas pessoas.. desse lugar..