Happy Holi !

Kathmandu - Nepal, 20 de março de 2011.

Este fim de semana foi uma data especial para os hindus. Todos foram ás ruas para celebrar o Holi Festival comemorado na lua cheia de março, dizendo adeus ao inverno e benvindo a primavera num arco-íris de cores. É uma espécie de carnaval, comemorado tanto aqui no Nepal quanto na Índia, onde todos se jogam um pó colorido de cores bem vivas desejando “Feliz Holi”. Eles também jogam baldes água de cima das casas em todos que passam na rua, ou então saquinhos com água colorida. É uma grande festa onde todos terminam coloridos, os gringos principalmente(especialmente as mulheres), mas é um pó natural que é fácil de lavar. Eu terminei o dia todo roxo e azul!! Na praça teve música ao vivo, foi divertido pular no meio dos nepaleses dançando a música deles.
As cores do Holi

Brincadeiras nas ruas de Kathmandu




Happy Holi !!!


Eu disse que é uma espécie de carnaval porque todos vão para as ruas e se divertem ao jogar pó colorido uns nos outros em um clima bem festivo, todos esbanjando alegria. Detalhe, não se vê ninguém bêbado. É bonito ver como eles comemoram  fraternalmente se abraçando de desejando felicidade da mesma forma como desejamos feliz ano-novo uns aos outros na hora da virada. Eu gosto dessas manifestações culturais populares. Lembro que eu passei um carnaval em Caiena(Guiana Francesa) com meu irmão e dois amigos de Belém, quando fomos disputar uma competição de judô. Acompanhamos os desfiles de rua, as fantasias e os carros alegóricos eram de uma simplicidade e ao mesmo tempo carregados de uma cultura que eles fazem questão de preservar. Fomos inclusive a um grande baile, interessantíssimo onde  as mulheres iam todas cobertas com máscaras, perucas, luvas, ficando nenhuma parte do corpo exposta e só elas podiam chamar os homens  para dançar.
 Mas este festival nem se compara com o nosso carnaval, que todo mundo enche a cara com música muito alta pulando o dia inteiro e a noite inteira durante 4-5 dias. Aliás nada se compara ao nosso carnaval. Já é o segundo carnaval que eu “pulo”, ano passado eu me isolei numa vila de pescadores e esse ano eu estava na China...ninguém sabia o que era carnaval por lá.( ainda bem, pois se os chineses fossem brincar carnaval seria uma tragédia)
E agora depois de uma semana em Kathmandu já estou me familiarizando mais com essa realidade aqui. Com os apagões diários: são 14 horas de racionamento de energia por dia, ou seja temos 10 horas de energia por dia, divididos em dois períodos de 4-6 horas normalmente um em horário comercial e outro na madrugada. Então junta-se aí no meio da poluição do ar e sonora  o barulho dos geradores na porta das lojas e a fumaça que eles liberam se misturando com o cheiro dos incensos que estão em todo lugar.
Eu queria aproveitar esse post para avisar que eu vou dar uma sumida por 17 dias, amanhã cedo vou partir para um trekking, vou fazer o Circuito  Annapurna, que é uma cadeia de montanhas com mais de 8 mil metros, situadas a oeste do Nepal. Chegarei a 5.416 metros! (o ponto mais alto do Brasil é o Pico da Neblina com 3.014m). Vai ser uma maratona bem difícil, com ar rarefeito e atravessando a neve. E não vou ter como entrar na internet nesse período. Até a volta.     

Namastê

Kathmandu – Nepal, 17 de março de 2011.

O Nepal é um país bem pequeno  situado entre o Tibet (China) e a Índia. É o quarto país mais pobre de toda a Ásia. A maioria da população, cerca de 80% é hindu. Na verdade aqui se vê uma mesclagem do budismo tibetano e do hinduísmo. Hindus frequentam templos budistas e budistas frequentam templos hindus. São duas religiões que caminham lado a lado, assim como o budismo e o taoísmo na China, isso é bom que pelo menos não existem conflitos religiosos como no Oriente Médio.
A minha cabeça está começando a se situar. Esses cinco primeiros dias em Kathmandu foram bem confusos. Saí de um planeta e horas depois eu estava outro completamente diferente. Desembarquei do voo de Chengdu pra cá com conexão em Lhasa(capital do Tibet).  No caminho do aeroporto para o Thamel , região comercial e  turística da cidade, já senti o impacto cultural muito forte, uns dois dias depois de chegar aqui, eu ainda não entendia direito onde eu estava  e tudo que tava vendo, não consegui nem escrever nada. Não acreditava direito que eu estava vendo tudo isso. 
As vacas "sagradas" no meio da rua

Comendo Momo numa barraquinha de rua

Um caos, uma miséria bem evidente. A cidade toda parece um grande cortiço, um labirinto de ruas sem nome. Muita poeira e lixo. Acabei de chegar da China onde apesar de eles jogarem tudo no chão, tinha muita gente encarregada da limpeza pública, então em geral as cidades eram limpas. Além da sujeira espalhada nas ruas, as condições sanitárias são as piores possíveis, eles não tem a menor noção de higiene, as crianças brincam no meio do lixo e da sujeira. Vi algo parecido no Laos e Camboja, onde a maior parte da população também vive abaixo da linha da pobreza.
O pior é que eu estou adorando tudo isso, quanto mais me sinto um peixe fora d’água, mais eu me atraio por tudo  aqui. O cheiro de incenso, o barulho dos carros e das buzinas, as vacas ‘pastando’ no meio do lixo, o trânsito de veículos muito velhos, bicicletas, riquixás no meio de muita gente, uma loucura.
Kathmandu é conhecida por ser a cidade dos templos. E apesar de estar vendo templo há meses, aqui eu senti renovar o fôlego pois a atmosfera é completamente diferente dos outros países que passei até agora.
Pois bem, todos esses dias tenho circulado pela região comercial do Thamel, onde estou hospedado. Eu acho que 95% das lojas são de: artigos de trekking, roupas/ tecidos e chá/incenso. As roupas todas têm um colorido que eu me identifiquei bastante. Aqui também é a meca do trekking(tenho usado muito este termo e esqueci de traduzir, trekking se refere a caminhada, normalmente por terrenos acidentados como montanhas e florestas), um dos principais atrativos de turistas que vêm para o Nepal, devido às paisagens montanhosas presentes em todo o país.
Saí para conhecer os pontos mais importantes da cidade(todos são templos!!). O Nepal tem 7 Patrimônios Mundias da UNESCO, 4 deles estão em Kathmandu. A  Durbar Square(Praça do Palácio), no centro antigo da cidade é um dos locais mais movimentados da região com vários templos e construções com arquitetura bem típica. Sentei em um dos degraus dos monumentos para tomar  um chá (o chai mais consumido por aqui é feito com leite) e fiquei olhando todo aquele movimento: os riquixás(bicicleta com uma pequena carroceria que serve de táxi), os camelôs, os homens passando de mãos dadas ou abraçados(costume muito comum), mulheres vestindo saris  , com aquela marca vermelha na testa e os olhos contornados por lápis pretos que dão uma expressão bem forte no olhar. Aliás aqui eu vi gente bonita nas ruas, tanto homens(sem viadagem!) quanto mulheres, coisa rarííííssima no sudeste asiático e na China(desculpem se estou descriminando de alguma forma, mas é a minha opnião, baseada nos padrões brasileiros de beleza...) Um ambiente muito diferente de tudo que eu já tinha visto.
Figuras na Durbar Square

Ruas de Kathmandu

Em outra barraquinha esperando minha Samussa chaar

Durbar Square - Centro antigo de Kathmandu

Resolvi ir a pé para outros templos, foram oito ou dez quilômetros que nem senti cansaço porque tudo era novidade pelo caminho. O inglês parece ser a segunda língua falada aqui, mesmo longe das regiões turísticas as pessoas falam inglês.O local que me chamou demais a atenção foi  a região do Pashupati , uma área com vários prédios religiosos e um templo principal dedicado à Shiva. Estava tendo lá uma grande celebração hindu, uma espécie de batismo, onde os jovens recebiam a bênção de um guru e depois recebiam oferendas de sua família como arroz, frutas, flores, dinheiro...
Na entrada de um outro templo: o Templo dos Macacos

Detalhe de um símbolo típico do Nepal: os olhos de Buda.
O nariz é o número 1 em nepalês que simboliza a igualdade

O templo dos macacos, no alto de uma montanha de onde podemos ver toda a cidade.

Jovens na cerimônia hindu no Pashupati

Recebendo as oferendas

O templo de Shiva no Pashupati- só hindus podiam entrar

Um camarada que eu fiquei batendo um papo pra tirar umas dúvidas...

Enquanto estou me adaptando com essa outra realidade, paralelamente estou pesquisado sobre os trekkings, assim como em Ko Tao na Tailândia tudo gira em torno dos cursos de mergulho que a gente acaba fazendo mesmo sem ter planejado, aqui ocorre o mesmo com os circuitos de trekking. Devo ir na semana que vem fazer um circuito de 15 dias pelas montanhas nos Himalaias, depois eu conto.   Nesses poucos dias que estou em Kathmandu deu pra ter uma idéia do que vou ver também na Índia que é meu próximo destino. Esta é uma parte da viagem que eu tô vendo que vai ser muito marcante.Viajar não é só ver paisagens e monumentos, mas ter sensações fortes simplesmente ao andar numa rua de um país como esse.  Gostaria muito que minha família e todos meus amigos tivessem a oportunidade de sentir isso, pelo menos uma vez na vida, pra entender melhor tudo o que eu conto aqui. Me vejo sacudindo eles pelo ombro dizendo que eles precisam fazer isso, precisam sentir esse impacto cultural. Tem países que são maravilhosos, e claro que sentimos a diferença cultural, as ilhas do pacífico, o sudeste asiático onde eu passei quatro meses inesquecíveis(eu amo a Tailândia!), mas impacto mesmo foi na China e agora no Nepal, e acredito que a Índia deve ser a mesma coisa.     

* Namastê é uma saudação em nepalês : olá ou até logo. O seu significado real é: “ O Deus que habita em mim, saúda o Deus que está em você”. Eles falam unindo as mãos, como em oração.
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Pandas e Coelhos

 Chengdu, 12 de março de 2011.

No outro dia fomos visitar o Centro de Pesquisa e Criação do Urso Panda Gigante, o maior centro de estudos de panda da China, consequentemente do mundo, pois o panda é uma espécie que só existe na China. Daqui foram mandados alguns espécimes para zoológicos espalhados pelo mundo. É um lugar imenso com um museu sobre a história dos gigantes que parecem bichões de pelúcia. Numa galeria ao lado do centro de reprodução e no cinema dentro do parque, são exibidos vídeos sobre os hábitos e a reprodução em cativeiro. Curioso é que o filhote do panda gigante é menor que um filhote de cachorro, é do tamanho de um gatinho recém-nascido com 100 gramas. Por essa fragilidade dos filhotes e pela devastação do seu habitat natural(os pandas só comem bambu!!) a população de pandas no mundo reduziu bastante e hoje em dia não chega a 2 mil. Já tinha visto alguns no parque de Guilin, mas fiquei mais amarrado depois de ver toda essa informação sobre a criação e reprodução deles, não tem como não ficar, eles são muito fofos.



Na volta fomos jantar num restaurante bem típico de Chengdu, onde são servidos hot pots, uma espécie de panela no centro da mesa onde os ingredientes são cozinhados na hora e nos servimos diretamente. Sugeri um prato de coelho que estava apimentadíssimo, como todos os pratos aqui. Nunca tinha comido coelho, muito menos nesse estilo. Foi um jantar especial para fechar com chave de ouro toda a minha viagem na culinária chinesa. Quando estamos com moradores locais experimentamos a cidade de forma diferente, esse é o fundamento básico do couchsurfing.
Rodando em Chengdu 

Restaurante em Chegdu, comendo um hotpot de coelho

"Surfando no Sofá" em Chengdu


A cultura do chá

O chá é de longe a bebida mais consumida na China, numa tradição que vem de milênios atrás. Nesse tempo que passei aqui consegui  captar bem o que representa o chá para os chineses. É muito comum eles carregarem sua garrafa de chá pra beber como água. E em toda parte: hotéis, trens e estações de ônibus eles têm água fervendo á disposição.
 Em várias províncias acompanhei o ritual de preparação que é basicamente da mesma forma em todo lugar. Claro que esse ritual não é feito no dia-a-dia, ele é utilizado só para demonstração nas casas onde se vende as ervas, assim como os degustadores de vinho têm todas aquelas regrinhas para cada tipo de vinho, como o copo  e a temperatura certa. Primeiro o bule de vidro e as louças são purificadas com água fevente e então as ervas, ou flores, são oferecidas para sentirmos o aroma. A forma de preparo varia de acordo com o tipo do chá. Por exemplo, alguns como o Oolong, a primeira água serve para lavar as folhas e depois é desprezada  e outros como o de jasmin  e o chá verde não se usa a água fervendo pela sensibilidade das folhas. E em hipótese alguma é adicionado açúcar pra não modificar o sabor da erva.  Outras formas de consumo também foram popularizadas recentemente como o chá gelado com frutas e outros misturados ao leite. As casas de chá são bem tradicionais aqui em Changdu, depois de uma sessão de degustação escolhi  três tipos (é muito barato) pra levar de lembrança. No último dia em Chengdu passeando pelo parque da cidade que estava cheio de idosos dançando, cantando, crianças no pedalinho, ..., passei por uma das casas de chá: mesas em um  jardim cheio de flores, passarinhos e borboletas, as pessoas tomando chá em cadeiras de bambu em um ambiente tão sereno que me deixou paralisado por uns instantes. Eu estava sem a minha máquina mas na verdade aquela foi uma cena para ser sentida e não fotografada.
Aprendendo sobre os chás com minha intérprete

Estou deixando a China depois de passar por vinte cidades em dois meses intensamente vividos e saboreados. Visitei 12 Patrimônios da Humanidade:
- Grande Muralha (Beijing)

- Palácios Imperiais das Dinastias Ming e Quing (Cidade Proibida) – Beijing
- Exército de Terracota (Xi’an)
- Paisagem do Monte Emei, incluindo a Paisagem do Grandoe Buda de Leshan (Província de    Sishuan)
- Cidade Antiga de Li jiang
- Jardins Clássicos de Suzhou
- Palácio de verão, um Jardim Imperial em Beijing
- Templo do Céu, Altar Sagrado Imperial em Beijing
- Grutas de Longmmen(Luoyang)
- Túmulos Imperiais das Dinastias Ming e Quing (Xi’an)
- Centro Histórico de Macau
- Santuário do Panda Gigante em Sichuan(Chengdu)


 Cultura riquíssima, paisagens fantásticas, costumes ímpares numa atmosfera que causa impacto  em qualquer ocidental que passe por aqui. Vou embora do gigante planeta vermelho maravilhado, intrigado e todos os adjetivos que uma grande viagem permite. Tudo aqui superou minhas expectativas. Estou no aeroporto de Chengdu esperando meu voo para Katmandu - Nepal.


Como assim?

Chengdu, 11 de março de 2011.

Eles adoram placas de proibição e outras escritas em Chinglish, termo  criado para nomear o inglês macarrônico utilizado na China. Só pra relaxar vou mostrar umas placas que vemos frequentemente, com seus possíveis significados. Se alguém tiver outra ideia de interpretação das placas, enviem como comentário!   rsrsrsr

Foto 1- Proibido cuspir / jogar papéis picados no chão/ tirar lixo da lixeira/ficar perto de cachorro/ler cartazes / bicicleta / carregar coisas com um vara no ombro / dormir utilizando bacia como travesseiro / retirar trevo de 3 folhas/ proibido segurar lápis quem tiver braço de borracha

Foto 2 – Desengonçados, proibido  se encostar na porta

Foto 3- Proibido carregar maletas pegando fogo
Foto 4 – Proibido ver o preço da gasolina
Foto 5 – Proibido entrar de carro pela porta
Foto 6 – Proibido usar havaianas/ garrafas / máquina fotográfica /cachorro/moleque correndo/enfiar faca em barras de chocolate pegando fogo
Foto 7 – Proibido entrar com camburões/jogar pedras pegando fogo por cima da fogueira/jogar líquidos que derretam a mão/veneno / armas
Foto 8 -  Proibido acender dinamite
Foto 9 – Proibido sentar na escada? Não, essa aí é: Proibido ficar de bobeira, vadiar
Foto 10 – Na entrada de um condomínio: Proibido andar de moto/entrar com trompete / taxi / jogar várias pedras no chão / passear com cachorro sentado/roubar flores com a mão suja de graxa / como assim?!?!?!!!! / entrar com espingardas  / fazer fogueira de São João/ pular a cerca/ usar patins de gelo no cimento/ pisar na bola
Foto 11 –Na escada rolante: Proibido pessoas/ conserve-se à direita/ não encostar na parede(?)/ proibido jogar no chão: alicate, martelo e rolhas de champanhe/ segure a criança/ proibido carrinhos de bebê
Foto 12 – Cuidado, não corte o dedo, pode sair sangue!
Foto 13- No metrô: Proibido jogar garrafas e maçãs mordidas na água/proibido suicidar-se
Foto 14 – Proibido rasgar papel/ ter 3 bolas brancas na mão/ pentear macaco/ mostrar carteirinha / correr / gritar / mostrar carteirinha para o macaco pois ele não se importa / jogar peteca com os macacos


Pare turista !!!
Chinglish
Primeiro chute,
Segundo chute,
Na trave!
Essas foram algumas que eu vi e fotografei, tem mais na internet que você pode ver (aqui) .

Macacos me mordam!

 Chengdu, 11 de março de 2011.

Vim passar minha última semana na China em Chengdu, capital da província de Sichuan,  famosa por ter culinária mais saborosa do país e por ser o habitat dos pandas. Optei por ficar na casa de chineses através do couchsurfing, pela primeira vez aqui na China. Quem me hospedou foi a Yingchu , que é formada em turismo, e poderia me explicar melhor sobre a cultura local. Couchsurfing literalmente significa ‘surf de sofá’ como eu já expliquei em posts anteriores, e aqui eu realmente fiquei no sofá da sala, eheheh. Cheguei quebrado depois de 16 horas sentado no trem de Xi’an pra cá e depois de um cochilo no meu sofá, saímos pra dar uma volta. Passamos pela universidade onde ela estudou, me adimirei com as 20 mesas de ping pong que tinham na área de recreação, o ping pong é um dos esportes mais populares na China, eu já tinha visto também em praças e parques, inclusive idosos jogando. Na volta passamos num mercado perto de casa pra comprar os ingredientes do jantar. Ela e a namorada do primo que também mora lá, prepararam um jantar muito bom com umas linguiças feitas pela mãe dela e os vegetais com um tempero bem carregado na pimenta.Realmente o sabor da comida daqui é bem mais forte do que eu tinha comido em várias províncias que passei pela China.
Jantar com tempero de Sichuan na casa da Yingchu

No outro dia fui para Leshan, duas horas de Chengdu ver de perto o maior Buda sentado do mundo. O Buda que fui Hong Kong era o maior do mundo em bronze, esse aqui é o maior mesmo, em tamanho. O gigante tem 71 metros e foi  escavado na rocha.Está sentado na margem do rio há 1.200 anos.
O Buda de Leshan

O gigante de 71 metros na margem do rio

De Leshan segui para Emei, para caminhar  por outra montanha sagrada, o Emei Shan (Monte Emei) é uma das montanhas sagradas do Budismo e junto com o Buda de Leshan, é outro Patrimônio da Humanidade da UNESCO.  Dormi na pequena vila de Emei aos pés da montanha, para fazer a caminhada no dia seguinte. Na verdade eu imaginava paisagens parecidadas com as monte Hua Shan que fui na semana passada mas aqui é diferente, as trilhas são rodeadas por floresta e a beleza se dá pela natureza que nos cerca e não uma vista do alto da montanha. Vários templos budistas pelo caminho mas confesso que já estou saturado de tanto templo e não passava mais de dois minutos dentro de cada um deles, e em outros só olhava de longe. Depois de cinco horas de uma feliz e tranquila caminhada pela montanha sagrada..rsrsrs passei por uma parte que era uma espécie de floresta dos macacos, com várias placas dizendo que ali era uma região de macacos selvagens e alguns procedimentos de segurança, tipo não correr, não fazer movimentos bruscos e tinha lido no guia também histórias do tipo ”Com um macaco no caminho, nem 10 mil homens podem passar” mas ignorei tudo isso pois imaginava situações iguais como passei em Ubud na ilha de Bali, onde os curiosos macaquinhos pegavam tudo que tinha pendurado na gente ou na mochila, tipo chapéu, óculos, ou alguma comida. Guardei tudo dentro da mochila e continuei caminhando tranquilo por uma trilha que ninguém estava indo mas achei bonito e resolvi seguir. Cara, passei por um momento de tensão que há tempos não passava, talvez desde que fugi do tubarão na ilha de Redang na Malásia. Tinham DEZENAS de macacos no caminho, engoli seco mas mantive o passo. E não era macaquinho não, eram grandes, e mantendo o passo cruzei uma ponte de um lado ao outro do riacho que corre no meio do vale, e pela primeira vez na vida fiquei com medo de macaco! Eles começaram a me seguir, eram uns 4 ou 5, agarraram na minha perna e eu acelerei o passo com um macaco pendurado em cada perna, até que eles largaram e eu corri pálido numa trilha escorregadia tendo que usar as mãos pra não me esborrachar de cara numa escada cheia de limo. Até que passei e continuei na trilha ainda com a garganta seca porém aliviado por ter escapado na boa. “Foi até melhor do que eu imaginava” eu pensava comigo, como forma de consolo pra poder relaxar novamente e voltar a curtir a paisagem. Após meia hora de caminhada, achei uma casinha que tinha um restaurante e parei para confirmar se estava no caminho certo...a mulher disse que aquela trilha dava para um outro templo fora da minha rota e eu tinha que voltar!!! Atravessar pelos macacos de novo!!!! Bom, se eu sobrevivi na primeira vez, da segunda vou sentir medo mas vou sobreviver também. Caso contrário se eu fosse por aquele caminho eu teria que rodear a montanha por outro lado anadando uns 15 km e dormir em algum templo para voltar no dia seguinte...não, vou encarar a macacada de novo. A mesma coisa, quando eu me aproximei eles começaram a pular e rosnar(macaco rosna??) eu mantive o passo. Novamente passei no meio deles, pareciam enfurecidos com aquele intruso invadindo a sua área. Pode parecer frescura sentir medo de macaco, mas eu queria ver o macho que não sentisse medo naquela situação. E quando eu passo de novo pela bendita ponte enfestada, um deles pulou no meu pescoço agarrando na minha cabeça, enquanto outros continuaram puxando minha perna. Mermão, andei uns 30 metros com o bicho atracado no meu pescoço, eu não podia correr nem me sacudir pois ele não ia soltar, era grande,  pesado e segurava com força.Eu vi a hora dele morder minha orelha, sei lá, ele rosnava no meu ouvido, nunca queiram passar por uma situação como essa. Me acalmei um pouco quando ele lambeu minha cabeça, aí percebi que ele não estava tão mal intencionado... rsrsrsrs...até que ele largou, os que estavam na minha perna também largaram. Escapei sem nenhum arranhão, e fiquei tranquilo quando comecei a ver gente de novo. Não queria mais andar, peguei um atalho e voltei para a vila de Emei, depois busão pra Chengdu.
Templo budista no alto da Emei Shan

Placa em Chinglish:"Cuidado macacos agressivos aqui. Não brinque com os macacos"
Emei Shan
Adentrando na zona dos macacos.