A dois


Londres, 16 de julho de 2011.

A partir desse post vou usar mais verbos no plural. Nos útimos quatro dias a viagem está diferente com a companhia da minha irmã. Pode parecer besteira, mas só quem já sentiu na pele, entende a diferença de passar meses e meses viajando sozinho, depois passar a ter a companhia de alguém do nosso mundo ao lado. Quando estamos sozinhos ou mesmo com alguém de outro país, não fazemos certos tipos de comentários a respeito das impressões de algum lugar da mesma forma de quando estamos alguém do nosso mundo. E nesses poucos dias já senti aquela coisa da barreira que se forma quando estamos em par ou em grupo. Não nos sentimos completamente abertos para conhecer gente nova, bater papo ou se enturmar em outros grupos. Principalmente porque minha irmã, não está acostumada com viagens independentes, clima de albergue, quarto, cozinha e  banheiros coletivos e a interação entre outros mochileiros. Então, como ela mesma percebeu, fico me preocupando em não deixá-la sozinha e me achando meio responsável por tudo.
Minha nova parceira


 De vez em quando lembro dos casais que conheci pelo caminho que sabiam administrar muito bem essa coisa de estar em dupla mas se mantendo abertos. Fiquei impressionado pelo companheirismo deles, os chilenos que viajei  na China, os espanhóis que viajei pelo Nepal e os mexicanos na Índia,  pareciam viajantes independentes andando juntos. Eu viajei com eles por um tempo, em nenhum momento me senti atrapalhando a intimidade deles pois não me faziam sentir isso...se eu sentisse, com certeza na mesma hora eu me separaria e seguiria só. Era um clima de viagem a três, e não um casal mais um ‘agregado’. Lembro muito deles pois também conheci outros casais e outros pares ou grupos que ficam numa bolha, mantendo contato com alguém de fora mas sem dar a liberdade suficiente. Esse é o ponto que eu queria chegar,...quando se viaja com alguém, tem que ter o cuidado de não se fechar na bolha, temos que nos manter abertos a conhecer gente sem deixar ninguém desconfortável. Notei que isso é uma característica mais inerente aos mochileiros do que com outras classes de turistas, óbvio que estou generalizando, mas essa vontade de conhecer gente vai se desenvolvendo quando passamos um tempo sós e convivemos em ambientes comunitários. Os albergues (já passei por mais de 100 até agora...) têm áreas comuns, bares, salas de jogos ou de tv justamente para promover essa interação.
Estamos encantados por Londres, para todas as direções que olhamos tem algo bonito, bairros como Notting Hill ou Acton onde era nosso albergue, dá prazer em caminhar pelas ruas admirando as casinhas muito bem cuidadas e suas sacadas e jardins floridos. Fui novamente ao mercado em Candem Town, e pelas ruas do centro próximo às margens do Tâmisa. Um dia passando em frente ao parlamento resolvemos entrar e demos sorte de estar acontecendo uma das sessões, acompanhamos de dentro da sala dos lordes os parlamentares discutindo assuntos do governo...o  presidente da câmara ou sei lá o quê, usando aquelas perucas brancas e roupas bem tradicionais...
Detalhe do relógio mais famoso do mundo.

Canais próximos a Candem Town

383 dias para a próxima olimpíada em Londres,
cheguei cedo demais!




 Rodamos na London Eye, a famosa roda gigante que oferece uma vista bem privilegiada da cidade. Fomos em museus, legal que quase todos os museus têm entrada gratuita...pode-se apreciar de graça obras de Van Gogh, Monet, Renoir e outros não tão famosos mas com pinturas belíssimas. Fiquei admirado em ver grupos de crianças de 8-10 anos fazendo aquelas excursões de colégio no museu e a professora dando aula de hitória da arte fazendo uma análise profunda das obras de uma forma tão ‘adulta’... ver crianças daquea idade debatendo questões do tipo: com que intenção o pintor usou esta ou aquela cor, ou o porquê da expressão facial de algum personagem da tela. Cenas como essa nos faz pensar sobre a qualidade da educação no Brasil,... se desenvolvemos o senso crítico e artístico das nossas crianças como deveríamos.  
Fizemos pic-nic nos lindos parques da cidade todos esses dias. Em outras palavras: preparei comida no albergue e usei  minha marmita para não precisar comprar comida na rua que é carííííssima. Depois de todo esse tempo na Ásia, meus parâmetros de preço estão distorcidos...ainda mais aqui que é uma das cidades mais caras da Europa, e a libra esterlina  é  mais forte que o euro. Estou fazendo aqui como fiz na Nova Zelândia, comendo só comida que eu preparo, comprada no supermercado, dessa forma reduz-se muito o gasto na alimentação. Ter uma cozinha à disposição  é uma outra vantagem dos albergues em relação aos hotéis.
Passei 8 dias em Londres, vamos seguindo na Europa para o sul, próximo destino: Paris!

Rio Tâmisa e as luzes da London eye


London eye

Pic nic no parque Greenwich, pertinho onde
passa o meridiano


Enfim, a Europa

Londres, 11 de julho de 2011.

Cheguei no chamado velho continente, que não sei se vou ver coisas tão velhas assim, depois de ter passado pela China e Egito e visto várias cidades e relíquias de milhares de anos antes de Cristo.... Mas estava esperando esse momento há muitos anos. Na verdade a vontade de conhecer a Europa já vinha de uns dez anos atrás. A vontade de partir para uma volta ao mundo surgiu inicialmente com a vontade de conhecer a Europa. Incontáveis noites dormi debruçado na página do mapa da Europa do meu atlas, fazendo vários roteiros imaginários pelos países pertinho uns dos outros. Acho que minha paixão por mapas se fixou nessa época. Ainda mais o mapa da Europa, com todos aqueles ‘países famosos’ todos ali. Foi daí que a ideia de ...“esse país é perto desse, que é perto daquele”..foi expandindo até tomar a proporção da volta ao mundo.    
Durante o planejamento da minha viagem, eu pensei como seria visitar a Europa depois da Ásia, estava com medo de achar tudo sem graça depois de ver tanto exotismo e ter passado por um choque cultural tão forte. Mas agora depois desses primeiros dias por aqui, acho que não vai ser bem assim. Eu já tive uma prévia da Europa circulando por Istambul e me toquei  que o que vai me impressionar  não será o choque cultural, e sim a grandiosidade das cidades e suas atrações carregadas de história. Estou trabalhando minha cabeça para mudar o enfoque da viagem. Estou andando por esses dias na rua pensando nisso. Aquela coisa de viajar com calma sentindo a cultura exótica, priorizando o contato com gente diferente, observando costumes, tentando entender a influência da religião no cotidiano do povo, comendo comidas bem diferentes que ás vezes não sabia nem o que era, me comunicar por gestos, ver a pobreza e a miséria bem de perto....tudo isso não vai ter mais. Viajar pela Europa vai ser para ver lugares bonitos e glamurosos.
Londres realmente impressiona pelo cosmopolismo, atraindo gente do mundo inteiro que vem para morar ou a passeio. O look exótico ultra-moderno londrino espanta um pouco para nós sulamericanos, um estilo meio punk-rock-chique que dá uma característica bem forte nas ruas... vemos senhoras idosas de cabelo roxo ou rosa, outros com cabelo verde e botas com sola de dez centímetros...gente usando roupas que não entendemos o ‘segredo’ da combinação  ...acho que é justamente o oposto, quanto mais diferente e chocante parece que fica com mais a cara de Londres.  Além disso a cidade carrega uma imagem tão forte, uns ícones tão famosos no mundo inteiro: os soldados de uniforme vermelho usando chapéu preto renondo e peludo, as cabines telefônicas vermelhas, os ônibus vermelhos de dois andares, o Big Ben...todos são símbolos nacionais que ganharam uma fama muito grande. Talvez nenhuma outra cidade no mundo tenha cenas urbanas como essa, tipo o do telefone público, que são tão marcantes e famosas.
Taxi bonitinho no centro de Londres


Contagem regressiva para a próxima olimpíada
no ano que vem que será aqui

Big Ben

Estou no meu último dia de viagem solo, amanhã minha irmã Lilianne chega e vamos fazer juntos a Europa por mais um mês. Tenho imaginado como será viajar com ela, pois somos bem diferentes na questão  de estilo de viagem, e agora depois da Ásia que criei diferentes hábitos e me adaptei com a vida em trânsito, certamente temos visões ainda mais diferentes. Com certeza com ela vou ter que mudar um pouco o estilo, mas vai ser legal, acho que também andei treinando minha flexibilidade por ter conhecido,  convivido e viajado junto com outras pessoas de hábitos diferentes. Isso acredito que vai ser moleza aqui na Europa pois tudo aqui é muito fácil, muito turístico, fácil de chegar, de entender e ser entendido. Depois de atravessar quase toda a Ásia por terra, durante todo esse tempo, países muito pobres enfrentando a barreira da língua e sistemas de transportes bem precários, a Europa é ‘melzinho na chupeta’...rsrsrsrrs
Londres está abarrotada de turistas, andando nas ruas se ouve outras línguas como espanhol, francês, italiano...e português, quase na mesma proporção que se ouve o inglês. Muuuuitos brasileiros pra todo lado, não sei se sempre foi assim aqui nesta época do ano, ou se é pela desvalorização do dólar em relação ao real nos últimos meses... mas tem muitos brazucas, tanto é que em três dias já vi tantos que nem me espanto mais e me interesso em puxar papo como era na Ásia, onde eu passava meses sem topar com nenhum. Aquela coisa que já até escrevi num outro post, de que nós brasileiros quando nos encontramos no exterior fazemos uma festa e temos uma conversa mais calorosa e tal...não se aplica muito pela quantidade enorme de conterrâneos. Fiquei pensando se a frieza dos europeus quando encontram seus conterrâneos no sudeste asiático se dá pela quantidade deles por lá... Sei lá, deixa eu continuar pensando que temos o sangue mais quente mesmo.
Não entrei em nenhum museu ou atração por esses dias, estou esperando para fazer com minha futura parceira, só caminhei pelo centro da cidade que tem muitos atrativos próximos e nos arredores das margens do rio Tâmisa...o Big Ben e o palácio Westminster , a London eye, Piccadilly Circus, Trafalgar Square, Hyde park....e mais outros parques, palácios, praças, igrejas...tô achando tudo muito lindo...todos os detalhes da arquitetura exuberante dos palácios e o padrão ‘tijolinho bonitinho’ das casas nas ruas dos bairros mais afastados. Os dias estão longos nessa época com a claridade do sol que se prolonga até mais de 9 da noite, quer dizer 9 da tarde ! , só o tempo que é sempre nublado mesmo no verão.
      

Cidade dos Flintstones

Göreme - Turquia, 08 de julho de 2011.

De Pamukkale peguei um ônibus até Göreme. Na verdade foram quatro . Como só tinha ônibus direto no dia seguinte, eu peguei o próximo que ia para a mesma direção e fui trocando. Primeiro fui para Antalya que é uma cidade grande então seria mais fácil de arrumar outro ônibus para seguir, então segui para Konya, outra cidade grande e de lá para Nevşehir e finalmente para Göreme. Já fiz isso outras vezes, quando só tem ônibus para o dia seguinte, vou pra qualquer lugar no meio do caminho e vou trocando de busão até chegar no meu destino final. Isso é uma regra em quase todo lugar, quanto mais próximas as cidades, existem mais horários de ônibus entre elas.
Os ônibus na Turquia são os melhores que já andei até agora. Imagina sentar na sua poltrona bem confortável, não reclina tanto mas é confortável, e escolher na telinha na sua frente algum canal de TV a cabo, filme, música ou usar a entrada USB para ver os seus arquivos! Se não quiser, pode usar a internet no seu notebook... sim, sinal wireless do ônibus! Além do serviço de bordo, com lanchinho e água a vontade. Depois disso tudo o rodomoço passa distribuindo colônia para passarmos nas mãos! É interessante o cuidado que os turcos têm em oferecer um bom serviço dentro dos ônibus. O único detalhe é que os ônibus apesar de terem  todasessas mordomias, não têm banheiro! Teve um trecho que fiz entre Çanakkale e Istambul na semana passada(tive que voltar em Istambul para resolver uma problema com meu ticket no aeroporto) que depois de tomar umas cervejas no calçadão em Çanakkale enquanto eu esperava o ônibus... tive que pedir para o motorista parar duas vezes no meio da estrada que me deu uma votade de fazer xixi imprendível e inaguentável !!!
Göreme fica na região conhecida como Capadócia, acredita-se que aqui é a terra natal de muitos santos, entre eles São Jorge. E é a cidade mais exótica que já visitei até agora, ela fica no meio de um vale e é  cheia de pequenas montanhas no meio da cidade que foram transformadas em habitações e hotéis. Os quartos são em cavernas cavadas nesses montes, o que dá um clima muito diferente! Dormir no friozinho e silêncio de uma caverna por 3 noites foi a noite de sono mais original que fiz na vida.
Vista de Göreme

No terraço 

A entrada do hotel

Na minha bat-caverna

Na Capadócia existe um grande número de cidades subterrâneas, que foram feitas e habitadas há quase dois mil anos. Os pesquisadores acreditam que elas tinham várias funções, como proteger dos invernos rigorosos e se proteger do ataque de animais. Mais tarde acredita-se que elas serviram para proteger os primeiros cristãos da perseguição dos romanos. Visitei a maior das cidades subterrâneas da Turquia que fica em Derinkuyu. Uma coisa gigantesca, fiquei boqueaberto ao descer cada um dos  andares para baixo até uma profundidade de quase 60 metros! Aproximadamente outros 25 metros ainda estão soterrados totalizando 11 andares. Eu estava com uma coreana que conheci em Göreme, e demos sorte de ter um grupo de coreanos visitando com um guia, e ela traduziu pra mim o que era cada compartimento dentro da cidade. São vários : tem uma capela e umas salas ao lado onde se ensinava religião, uma parte onde se fazia vinho e azeite, lugares de estocagem de comida, várias salas de estar e além, claro de um túnel de ventilação...é um lugar gigantesco onde viviam mais de 20 mil pessoas, e que  passei quase duas horas andando entre os labirintos e túneis. Como para outros vários achados que não se sabe ao certo  sua origem, aqui também tem uma teoria que extraterrestres ajudaram na construção...
Na cidade subterrânea


A porta de uma das galerias

Existe passeio para toda a Capadócia partindo daqui de Göreme, não fiz nenhum, preferi ir sozinho de ônibus local para os pontos que mais me interessavam, como a cidade subterrânea em Derinkuyu e Ürgüp, uma cidadezinha também num vale de montanhas com hotéis mais sofisticados,  mas não tem o mesmo clima que Göoreme, fui até um mirante de lá onde també se tem uma boa vista da região.  E para explorar as montanhas e vales ao redor da cidade, fiz da forma que mais gosto: a pé, fazendo trekking cruzando os vales. Caminhei por quase 10 horas pelos vales e montanhas, passando por lugares onde não tinha trilha demarcada, e curtindo vistas muito interessantes. Tinha horas que parecia que estava andando na lua. Um local cheio de cavernas, igrejas muito antigas nas cavernas ainda com pinturas no interior. Foi um dia super cansativo mas muito diferente, essas montanhas daqui são bem diferentes de qualquer outra  que cruzei por aí.
Vale nos arredores de Goreme





Mas acho que o ponto alto da minha passagem pela Capadócia foi o voo de balão. Aqui está entre os melhores lugares do mundo para o balonismo. Sobrevoar toda aquela superfície lunar, vendo aquelas montanhas com formatos muito curiosos, a bordo de um cesto que não se pode dirigir...foi demais! Só se tem o controle do movimento vertical do balão, a direção quem decide é o vento. Chegamos a 500 metros de altura, depois fizemos uns rasantes  entre as imensas colunas de rocha pousando numa fazenda depois das montanhas. No final teve brinde de champane e entrega de diploma...só enrolação para os turistas para se esquecerem um pouco do preço salgado do passeio! Mas vale muito a pena, foi uma hora de voo num visual magnífico.




Dá um friozinho na barriga...

Não esquenta a cabeça!

Foi minha última parada na Turquia, daqui volto pra Istambul, passo algumas horas e embarco para Londres, onde começo meu roteiro pela Europa. Gostei bastante, é um país maravilhoso, moderno, com um povo acolhedor. Senti que poderia ficar por aqui mais um bom tempo e ainda tinha muita coisa interessante para explorar. Estou indo embora do Oriente Médio sem ter visitado a Síria e o Líbano por causa da fronteira que estava fechada entre a Jordânia e a Síria...eu até poderia ter ido se tivesse pegado um voo para lá, mas estava fora do meu orçamento, e poderia ter entrado na Síria por aqui pela Turquia...mas depois de ter o carimbo mostrando que entrei em Israel devido o clima que ainda não está bem em paz por lá...fica pra próxima. Pelo lado positivo, o tempo que iria para esses dois países eu distribuí e passei mais tempo no Egito e aqui na Turquia...valeu de qualquer forma. 

Castelo de algodão

Entre Selçuk e Pamukkale, 03 de julho de 2011.

A Turquia é um país bem diversificado, uma costa com lindas praias, sítios arqueológicos com vários resquícios da civilização greco-romana, paisagens montanhosas, cidades tranquilas  e clima bem agradável.
Desci para Selçuk,  cheguei num sábado e estava tendo um grande bazar e uma feira, com as frutas da estação bem baratas...me enchi de morango e pêssego a pouco mais de um real o quilo. Gosto do colorido da Turquia, nas lanternas de ladrilhos bem típicas e nos artesanatos, o símbolo mais comum é um olho da sorte em tons de azul e branco que eles usam em tudo: decorações de parede, chaveiros, pulseiras, brincos...vemos por toda parte. Os turcos também têm tradição na tapeçaria, assim como seus vizinhos iranianos(antiga pérsia),  nas lojas de tapetes vemos peças muito bonitas todas bordadas à mão.
Mercado em Selçuk

Próximo a Selçuk está a única outra sobrevivente , além das pirâmides do Egito, das sete maravilhas do mundo antigo, o templo de Ártemis que originalmente era um monumento enorme de colunas de mármore e esculturas de pedras pretas, ouro e prata, dedicado à deusa grega Ártemis. Foi o maior templo do mundo antigo, hoje depois de sucessivos  incêndios e depredações não restou nada além de uma única coluna e algumas pedras amontoadas.
O que sobrou do templo de Ártemis

Mas a maior atração nas redondezas de Selçuk,  sem dúvida são as ruínas da antiga cidade de Éfeso, que foi por muito tempo a segunda maior cidade do império romano depois de Roma. Diz-se também que São João escreveu sua parte do evangelho por aqui.
O grandioso teatro de Éfeso, onde também tinham
espetáculos de gladiadores

A biblioteca de Celso

Éfeso
Nike (Nique), a deusa grega da vitória, ela é a deusa que entrega
 as honras da vitória ao vencedor. Daí veio o nome da famosa
marca esportiva que chamamos de "Naique" , com  o logomarca
que representa as asas da deusa.

De Selçuk segui para Pamukkale, para visitar as fantásticas cascatas cor de neve. Elas são derivadas do acúmulo de carbonato de cálcio, dando origem à uma formação geológica chamada de mármore travertino. Um lugar que me deixou muito impressionado, nunca tinha visto nada parecido com aquilo ali...passei uma tarde toda de molho nas piscinas admirando toda aquela enorme montanha branca, suas piscinas e cascatas. Tinha que ficar de molho na água mesmo, pois por conta do reflexo dos raios solares no branco da montanha, fazia um calor bem forte que queimava a pele e doía nos olhos.
Pamukkale em turco significa "Castelo de algodão"





Com bem frequência ainda me perguntam se eu não estou cansado de viajar e se já sinto vontade de voltar pra casa. Mas como é que eu conseguiria cansar de ver essas coisas maravilhosas no mundo!?!?!  Cada dia é uma coisa diferente...tá certo que já se passaram 322 dias, mas como cada dia é uma coisa diferente, não tem como cansar.
Essa semana recebi uma ótima notícia que minha irmã vai se encontrar comigo em Londres para viajarmos juntos no meu último mês  pela Europa. Fiquei bem feliz, vai ser legal compartilhar com ela um pouco da mochilada. Já viajei com várias pessoas durante esse tempo, gringos e brasileiros,  mas vai ser diferente, estou ansioso com a chegada dela desde já! Conversando esses dias, gostei de sentir nela a empolgação, ansiedade e nervosismo de se preparar para uma viagem. Na verdade o prazer de viajar já começa  muito antes do embarque.
A empolgação eu ainda sinto todos os dias, a ansiedade ainda sinto um pouco quando estou chegando em um país novo, mas perdi completamente o nervosismo. Acho que o nervosismo nesses casos, que está associado à ansiedade, surge quando enxergamos um desafio pela frente, algo que teremos alguma dificuldade em realizar por acharmos difícil, perigoso e não nos achamos preparados o suficiente para encarar. Depois de ter viajado sozinho por vários países pela Ásia que eu não falava a língua, especialmente por alguns onde pouquíssimas pessoas entendem o inglês como na Ilha de Java na Indonésia, Malásia, China e algumas cidades do Vietnã, vi que não tem mistério nenhum rodar por esses lugares....isso torna o passeio até mais divertido...rsrsrsrs...e não vejo mais como desafio portanto não sinto nervoso. Vários outros viajantes que conheci pelo caminho disseram que não encarariam uma trip pela China sozinhos. Eles só vão mudar de ideia o dia que eles forem e constatarem que não é nenhum bicho de sete cabeças. Se lançar sozinho a algum país asiático sem ter ninguém para dar apoio, é uma ideia que causa temor em muita gente, principalmente pela questão da língua. Estou na Turquia sem saber falar nem ‘oi’ em turco, mas é moleza...vou fazendo como sempre fiz, ao pedir alguma informação e ver que não sou entendido, vou tentando com outras pessoas até achar alguém que eu entenda ...e assim vai. E assim vou.

Presente de grego

Çanakkale, 1° de julho de 2011.

O que me trouxe para cá foi uma lenda. Uma lenda contada por um autor que não se sabe nem se ele realmente existiu, ou se foi uma compilação de várias histórias contadas na época reunidas em uma narrativa e assinada com algum pseudônimo. Entretanto o que se sabe é que Homero, por volta de 730 A.C. escreveu Ilíada sem nunca ter pisado em Tróia e depois de uns 30 anos escreveu Odisséia. Em suas narrativas ele descreveu a Guerra de Tróia como uma história muito curiosa permeada com a realística ficção da mitologia grega, envolvendo vários deuses e semi-deuses como Afrodite, Poseidon, Aquiles, Zeus...Nem os historiadores afirmam com certeza que a Guerra de Tróia realmente existiu, porém a fabulosa história ganhou fama. A guerra entre gregos e troianos durou 10 anos e o triunfo dos gregos se deu por um plano formidável. Eles construíram um enorme cavalo de madeira onde esconderam seus guerreiros no interior e deixaram em frente ao portão da cidade de Tróia. Os barcos também foram ancorados longe da vista dos inimigos.
Na manhã seguinte, estava tudo em silêncio, quando os troianos acordaram, viram o cavalo de madeira e não viram nenhum navio grego por perto. Eles ficaram meio confusos com aquilo e  carregaram o tal cavalo para dentro da cidade imaginando que seria um sinal de rendição dos inimigos, e comemoraram a vitória. Quando todos os soldados estavam dormindo de tão embriagados da grande festa, os guerreiros gregos saíram de dentro do cavalo, abriram os portões para o resto do exército que aguardava do lado de fora e atearam fogo destruindo a cidade de Tróia.
Esta história, literalmente homérica, encantou tanto que mesmo depois de mais de 2500 anos se tornou objeto de estudo e inspiração para a arte e nos cinemas. O filme “Tróia” com Brad Pitt no papel de Aquiles teve uma grande  repercussão mesmo mostrando uma história um pouco diferente daquela contada originalmente.
A descoberta das ruínas da cidade de Tróia  se deu em torno de 1870, quando um arqueólogo alemão decidiu dedicar os útimos anos de sua vida na causa, e de tão aficcionado pela lenda contada em Ilíada, começou uma busca para achar a tal cidade de Tróia( também chamada de Ílios – daí o nome Ilíada), e seguindo as descrições dos locais e a localização geográfica, após cansativos estudos, foi encontrado o local e iniciadas as escavações para desenterrar a cidade perdida. Os achados nas escavações foram enviados para museus em Istambul, Atenas e Berlim e até hoje são de grande importância para a investigação arqueológica e  entendimento das antigas civilizações que habitaram essa região.
Eu sabia que as ruínas da cidade de Tróia não eram tão interessantes de se ver por estarem bastante deterioradas, mas desde que comecei a ler sobre os países que iria visitar nos anos que antecederam esta viagem, estava curioso, não para ver grandes colunas ou paredes, mas queria simplesmente me sentir andando pela cidade de Tróia por conta de toda a força que esta história/lenda teve na crença popular que atravessou milênios. As informações que coloquei aqui, foram baseadas nos painéis do pequeno museu na entrada do sítio arqueológico de Tróia.
As ruínas de Tróia

O anfiteatro 

Em frente à cidade de Tróia
Mãe, olha eu aqui! rsrsrs

O pequeno museu na frente do sítio arqueológico,
explicando todas as Tróias

Çanakkale é a cidade que serve de base para visitar Tróia, e é aqui que está o cavalo usado no filme do Brad Pitt, bem na orla, onde também tem uma maquete da cidade de Tróia com alguma informação sobre a lenda e a história da cidade que na verdade foram nove cidades denominadas didaticamente de Tróia I, II...até IX...pois elas foram sendo destruídas e outras sendo constuídas por cima ao longo dos séculos.  Para chegar aqui vim num ônibus noturno onde o sono não é tão saudável, e na sombra do Cavalo de Tróia dei um cochilo de umas duas horas e recarreguei minhas baterias para seguir viagem. 
Em Çanakkale, o cavalo usado no filme de Hollywood

O calçadão de Çanakkale