O homem move montanhas

Entre Luxor, Aswan e Abu Simbel - sul do Egito, 21 de junho de 2011.

Os egípcios atigamente parece que não tinham muito o que fazer, passavam o dia inteiro esculpindo estátuas, templos e fazendo e desenhos entalhados nas rochas. Os hieróglifos foram os precursores da escrita através de símbolos que mostravam a vida dos faraós, culto aos deuses e outras mensagens para a posteridade. Nesses 5 dias que passei entre Luxor, Aswan e Abu Simbel no extremo sul do Egito (perto do Sudão), visitei templos magníficos. Entrar em uma das cavernas cheias de hieróglifos num silêncio ensurdecedor, ficar de frente para toda essa riqueza muito bem preservada,  é uma sensação extraordinária.
Em Luxor os impressionantes templos de Luxor e Karnak, com enormes blocos de pedra no alto de colunas muito altas tipo 20-25 metros me deixaram muito curioso como eles colocaram aquilo lá no alto ...no braço!
Templo de Luxor...Como os caras carregaram isso ???

Esculturas muito nítidas por todo o templo

Ramsés no Templo de Luxor

Uma entre as dezenas de esfinges que protegem o
Templo de Luxor
Os guardiões na entrada do grandioso templo
Pilares no Templo de Karnak- Luxor

Entrada do Templo de Karnak

 No Vale dos Reis estão os túmulos de dezenas de faraós, que são como túneis que levam à sala principal onde está o sarcófago, todo cheio de desenhos  muito coloridos mostrando toda a devoção que eles tinham pelos deuses. Os faraós eram colocados em seus sarcófagos com vários de seus pertences, pois eles acreditavam que precisariam entrar no céu com toda sua riqueza.

 O Vale dos Reis fica na margem oposta do rio Nilo, do outro lado de Luxor. Quase todo mundo visita através de passeios organizados pelos hotéis, o que eu evito ao máximo. Basta analisar o mapa, as distâncias e formas de transporte disponíveis. Aluguei uma bicicleta e fui sozinho, foi até melhor porque fui parando em outros lugares pelo caminho entrei em um templo muito bacana de graça e fico o tempo que quero. Outra coisa que me incomoda é saber que tenho um tempo determinado para visitar um lugar e saber que tem alguém me esperando. Fazendo sozinho, eliminamos o dinheiro que o hotel/agência ganham por fora. Serve pra vários tipos de passeio em qualquer lugar do mundo. É só saber bem como é o trajeto e o que inclui, e ir direto sem intermediários que encarecem o passeio. Quando envolve alguma atividade como passeio de camelo, elefante, barco ...sei lá,  é só ir direto na fonte que pagamos baratinho. Geralmente os agentes muito ganham mais do que os caras que fazem a coisa. Por exemplo, em Pai na Tailândia todas as agências oferecem os passeios de elefante, mas se pegarmos uma bicicleta ou moto e formos direto na fazenda onde eles criam os elefantes, pagamos baratinho. O mesmo para os passeios de camelo na Índia. Aqui em Luxor o cara ofereceu um passeio de feluca (barcos a vela) pelo rio Nilo por 75 EP, fui na beira do rio e paguei 20 pra fazer o mesmo.
Vale do Reis - Luxor

Tumba de Ramsés VI 

 Isso faz muita gente se assustar, com preços apresentados por agências, pensando que viajar é muito caro. Todo mundo se assusta quando digo que pago 3- 5 reais numa diária de hotel, e gasto 10 reais para comer por dia, ou menos, em alguns países. Conversando com um amigo pela internet esses dias, ele disse que sonha em conhecer a Tailândia mas os pacotes eram muito caros. Eu disse pra ele se preocupar só com a passagem, que aqui “nós é rei” como disse meu amigo gaúcho quando estávamos esbanjando num restaurante em Ko Phangan na Tailândia e gatando uma mixaria. Eu devo estar sendo repetitivo nesse assunto, mas é de propósito, pois um dos objetivos deste blog é divulgar a cultura mochileira e quebrar a ideia de que viajar é perigoso, difícil ou caro. O importante é falar inglês, o resto fazemos como se estivéssemos no Brasil, sem mistério nenhum. Experimente passar numa agência de turismo de sua cidade, e veja quanto custa um passeio na sua própria cidade ou estado, e faça as contas, já que você é morador local e conhece todos os caminhos e meios de transporte de sua cidade, quanto gastaria para fazer o mesmo passeio sozinho. Com certeza vai ser beeeem mais barato. Por quê? Porque você tem informação. Em outros países é a mesma coisa, porém temos que buscar essa informação, seja em guias, internet ou com algum morador local. Várias vezes fiz esta pergunta para um habitante da cidade: como você faria para visitar aquele lugar? Então, com a informação pode-se chegar em qualquer lugar.
Rio Nilo em Aswan

Aswan

As felucas no rio Nilo em Aswan

Um lugar que impressionou muito nessa região foi Abu Simbel, templos esculpidos na rocha, com estátuas de 20 metros na frente e o interior do templo cheio de desenhos esculpidos na rocha com uma nitidez e cor tão vivas que parece que acabaram de fazer. Abu Simbel impressionou muito também não só pelas relíquias deixadas pelos egípcios a milhares de anos, mas pela capacidade e tecnologia da engenharia moderna. Tem dois templos esculpidos em montanhas que ficavam na margem do rio, e com a construção de uma represa no local, as duas montanhas foram transplantadas para um local mais alto!!!! IMPRESSIONANTE ver uma motanha cortada em cubinhos e colada em outro local. Comprovei que teoricamente a fé remove montanhas. Mas na prática... sem guindastes, instrumentos ultra modernos e uma equipe de engenheiros de ponta...não sei não.
Abu Simbel

Uma das montanhas que foi transplantada



A chave da vida....tem muito esse símbolo nos hieróglifos


Terras de Alexandre


Alexandria - Egito, 17 de junho de 2011.

Norte do Egito, nas margens do Mar Mediterrâneo, fundada por Alexandre o Grande, um grande conquistador que dominou boa parte do Oriente Médio juntamente com seu exército durante uma jornada de uma década explorando e conquistando territórios no médio oriente.... Alexandria foi uma das cidades mais importantes da antiguidade ( Cleópatra passou seus últimos dias de vida aqui...), sendo capital do Egito por mil anos e um grande centro de conhecimento da época. A Biblioteca de Alexandria que existe desde antes de Cristo foi uma das mais importantes instituições do mundo antigo. Aqui também tinha o Farol de Alexandria, uma das sete maravilhas do mundo antigo que hoje não existe mais. O Museu Nacional de Alexandria é pequeno mas interessante, expondo várias peças encontradas no fundo do mar. Ainda hoje, existem estátuas e outros achados submersos, talvez seria um mergulho legal por aqui, mas soube que a visibilidade do Mediterrâneo é muito ruim então nem me animei.
O mar Mediterrâneo

A Biblioteca de Alexandria, hoje com uma arquitetura futurística

Em frente ao Museu Nacional de Alexandria

Na chegada , eu sentei numa barraquinha de lanche no terminal de ônibus e perguntei o preço do sanduíche de fígado, bem comum aqui junto com o de miolo de boi. O cara era fanhoso, e disse :
- 1 libra, mostrando também com a mão.
 Ok, era o preço certo, comi 4. Na hora de pagar ele cobrou 8 libras.
 – Peraí, você disse que custava 1 cada!
- Não, eu disse dois...mostrando com a mão de novo. Aí que eu reparei, o cara não tinha um dos dedos na mão....ele mostrava dois mas o segundo dedo era só um toquinho, então só aparecia um, e ainda falava pelo nariz !! rsrsrsrs  Fiquei encucado... não sabia se ele tava me enrolando ... acabei pagando os 8.     
Meus dias aqui foram tranquilos, a cidade é calma mas tem um comércio bem movimentado que fica aberto até 1 hora da manhã. Assim como em todos os países muçulmanos, as mulheres nem na praia tiram as túnicas e véus que cobrem todo o corpo, é engraçado elas tomando banho com tudo aquilo de roupa.   
No Egito como em todos os países pobres de Ásia a coisa é avacalhada que nem no Brasil e tudo funciona na base da negociação. Coisas de deveriam ter perço fixo são negociáveis, como uma van que peguei em Sharm no Sinai, perguntei o valor da passagem, motorista perguntou  quanto é que eu pagava.... no guarda-volume da rodoviária do Cairo como queria deixar minha mochila só por algumas horas, negociei com o guarda pra pagar metade do preço...até no correio fui mandar uma encomenda e negociei com o cara para diminuir o valor do seguro...diárias de hotel ...até a entrada em alguns pontos turísticos rola negociação com o guarda. Quase tudo aqui é subornável,  corrompível e negociável. Os guardas lá nas pirâmides em Guiza chamam os turistas para umas tumbas onde é proibida a entrada, dizendo para eles entrarem e ganhar um trocado depois. Lugares onde é proibido bater foto, o guarda diz que libera se der uma ponta... na Índia a mesma coisa, se der algumas rúpias pro cara que não deixa ninguém bater foto das tumbas dentro do Taj Mahal, ele abre uma excessão.
Daqui vou para o sul do Egito.

As mulheres todas cobertas


Alexandre o Grande

Centro da cidade, na hora da reza

Antiga Maravilha


Cairo, 15 de junho de 2011.

Praticamente todas as magníficas construções por aqui foram feitas pelos faraós a milênios atrás. Faraó é a denominação dada aos reis que governaram o Egito na antiguidade até o século IV A.C.. Assim como os imperadores da China antiga, eles ganhavam uma conotação divina, sendo considerados filhos dos deuses.  Eles reinaram por uns 3 mil anos até entrarem em desunião e aproveitando isso, Alexandre  o Grande conquistou o poder por volta de 300 A.C..
Devido à época de baixa temporada somado ao clima de instabilidade causado pela revolução meses atrás, são poucos os turistas circulando pelo Egito. As pessoas que trabalham em ramos relacionados ao turismo estão urrando e com isso os preços caem bastante. Dá pra pechinchar pesado que os caras estão topando qualquer coisa, teve um que me puxou pra dentro de uma loja de perfumes(os egípcios têm uma grande tradição no comércio de essências) e pediu por favor que eu comprasse alguma coisa pois ele tinha família pra sustentar! Pra ajudar o cara comprei uma das essências, que são como óleos, até porque eu não usava perfume há meses, e por 3 reais....
Passei 5 dias na cidade do Cairo, a capital do país. Uma cidade muito grande, de mais 20 milhões de habitantes, que é relativamente fácil de circular. Andar de transporte público é uma das coisas que gosto para sentir mais de perto uma cidade, além de ser mais barato, claro. Assim como outros grandes países pobres que passei, o transporte urbano aqui é muito barato: ônibus a 15 centavos de real e o metrô pouco mais de 30 centavos...não entendo por que no Brasil as passagens de ônibus são tão caras, mais de 10 vezes o valor desses outros países, o nosso poder aquisitivo nem é tão alto como dos países desenvolvidos e de um modo geral a qualidade dos ônibus também está longe do padrão.
 Bem em frente à praça Tahrir está o Museu Egípcio, com um acervo de mais de 100 mil relíquias de todos os períodos do Egito antigo, sendo um dos mais significantes museus do mundo. Enormes estátuas, centenas de sarcófagos, esculturas, múmias e imagens dos deuses da mitologia egípcia. O que mais me impressionou foi sem dúvida a sala de Tutankamon, o jovem faraó que reinou dos seus 9 aos 18 anos e não teve tanta importância na história. Mas seus sarcófagos, jóias e principalmente sua máscara de ouro maciço me deixaram hipnotizados por alguns minutos.
Museu Egípcio

A máscara em ouro maciço de Tutankamon

Visitei também obviamente as famosas pirâmides de Giza, a única sobrevivente das 7 maravilhas do mundo antigo, construídas há 4.500 mil anos. A pirâmide de Quéops, conhecida como a Grande Pirâmide reinou como o mais alto monumento da terra, só perdendo o título 4 mil anos mais tarde! Elas são realmente impressionantes, milhões de blocos de pedra cada  um pesando várias toneladas, simetricamente arrumados a uma altura de até 146 metros(a Grande Pirâmide). Tudo isso para proteger o túmulo dos faraós. Assim como Machu Picchu no Peru e os Moais da Ilha de Páscoa, fiquei um tempão sentado olhando tentando imaginar como os caras fizeram aquilo...até hoje não se sabe ao certo como eles carregaram as pedras naquela época. É muito curioso isso, 4.500 anos depois, não sei se o homem seria capaz de fazer o mesmo sem a ajuda de guindastes.





 Ao lado está a esfinge, também não se sabe exatamente com que propósito ela foi feita,se sabe a esfinge é uma forma de demosntração de poder e proteção. Mas também é uma obra impressionante, de uma criatura com corpo de leão e a face humana, esculpida num bloco de rocha único. O ‘motorista’ do camelo que foi também meu guia por lá, disse que o nariz da esfinge foi tirado por Napoleão e está exposto num museu na França. Ele não sabia qual era o museu, mas quando eu chegar na França vou procurar o tal nariz...quero ver a esfige toda, mesmo que seja por partes..rsrsrsrs

Desses dias que passei aqui a maior parte do tempo foi simplesmente vendo o povo. Tanto no centro quanto na  parte antiga. Prédios muito antigos...para subir para o oitavo andar do meu albergue, usava um elevador que eu acho que é do início do século, era só uma cabine no espaço aberto, puxada pelo cabo de aço entre as escadarias. Carros muito antigos e amassados circulando nas ruas...o fiat 147 ainda está na moda por aqui....No Egito como eles também têm uma mistura de raças, muitos deles disseram que eu pareço fisicamente com egípcio. Pra diminuir a encheção de saco, eu tentei parecer mais um local, tirando os indícios de turista como mochila, chapéu, pochete, brincos e qualquer acessório diferente. Passei quase despercebido...em muitos lugares que parei para ver ou comprar alguma coisa eles ficavam me  meio desconfiados sem saber se eu era ou não egípcio. Deu pra usar mais fácil a técnica para comprar alguma coisa, principalmente comida ou bebida, pelo preço correto ...eu encosto na banca ou balcão e fico olhando quanto os caras pagam e peço o mesmo. Essa é uma das vantagens de se estar num país por um tempo, dá pra reconhecer o dinheiro de longe. Tem que fazer assim, se não ...se chegar pergundando “How much” , é quase certo do cara te falar o dobro do preço. Um outro macete que uso , é pedir para algum local perguntar o preço ou pedir pro cara comprar o que estamos querendo. Detalhe: sem o vendedor ver.
Brasileiro perder pra malandragem não dá !!!  Tive que fazer muito isso no Nepal, Índia e aqui...fica aí a dica.
Sentado num café onde as mesas ficam no meio da calçada ou da rua,  tomando um chá e fumando uma shisha, simplesmente vendo o movimento da rua, enquanto tiro o gosto com alguma semente  e lendo um livro sobre o islamismo, sinto melhor o cotidiano deles. Foi assim que escrevi esse post. Curti bastante o Cairo.  

Igreja de São Jorge na cidade velha

Tem umas horas que o Egito me faz lembrar a Índia

Cena bem comum nos cafés


Na parte antiga da cidade

Por-do-sol no rio Nilo

Kushari - 2 tipos de macarrão, arroz, lentilha e molho de tomate
um prato bem típico das ruelas do Cairo

Tive que aprender a ler os números em árabe !!

Colapso faraônico


Cairo, 14 de junho de 2011.

Dia 25 de janeiro foi uma data bem importante para o povo egípcio. Dia da revolução. Do manifesto que movimentou as ruas do Cairo na praça Tahrir, onde tenho passado  a maior parte do tempo nesses meus dias por aqui. O povo está revoltado por fazer parte de uma civilização tão antiga e mundialmente  famosa, tão importante e sábia, com destaques em vários ramos do conhecimento e hoje em dia, por causa dos péssimos governantes ditadores, o Egito tem uma sociedade que sofre com uma população que cresceu, e continua crescendo multiplicando cada vez mais a pobreza. Sofre por não ter uma vida digna. Agora depois de milênios de história, o povo egípcio que deveria estar em lugar de destaque , passa por um grande problema social.
Eles vivem em conflito com o governo pois não aceitam pacificamente que o povo viva  nestas condições. Eles clamam pela liberdade e pela vida. Liberdade de expressão, de pensamento ...e além de tudo querem respeito.
Então o assunto nas diversas rodas de discussão que se prolongam até altas horas da madrugada diariamente é esse. Grupos de homens chegam , estacionam o carro e vão para o meio da praça participar dessas conversas. São várias rodas de homens de pé tecendo longas discussões bastante gesticuladas e em sonoro tom de voz. Mesmo sem entender nada da língua árabe, percebi como eles defendem ferozmente suas posições. Normalmente tem dois caras dicutindo em voz alta no meio da roda enquanto vários outros os cercam ouvindo atentamente e de vez enquando entrando na conversa e expondo (ou contrapondo) sua ideia. Parecem operadores de bolsa de valores em plena praça.  As discussões são tão fervorosas quanto aquelas rodas de pessoas discutindo política em cidades do interior do Brasil em período eleitoral.
A confusão começa de noite e entra pela madrugada. Duas horas da manhã homens montando uma barraca de lanche, pregando tábuas e adesivos...sapateiros consertando sapatos à marteladas, bares cheios de gente discutindo em voz alta. Na praça, para servir o povo que junta,  aparece um monte de  vendedores ambulantes: chá, pipoca, brinquedos de criança, camisas com dizeres nacionalistas e bandeiras. Toda noite, principalmente  às sextas-feiras, a principal praça do centro do Cairo fica movimentada  com o mesmo ritmo daquelas pracinhas de balneário em época de férias.
Camelô na praça Tahrir- essas camisas não são para turistas,
e sim apoiando a revolução

Bandeiras, chapéus, pulseiras, adesivos...para serem usados
nas manifestações

Eu sei  que isso não ocorre só aqui. Apelos por melhoria principalmente na saúde, educação e emprego, esse tipo de manifestação é comum em  países onde a maior parte da população vive abaixo da linha da pobreza. A vizinha Líbia, aqui ao lado, ainda está atravessando um período bem difícil também.  Mas eu vendo daqui, sentado numa rua do Cairo, num local onde meses atrás foi manchete de noticiários do mundo inteiro, na praça onde foram mortas dezenas de pessoas durante esses conflitos, posso entender bem melhor. A principal causa de tudo, não é briga por facções religiosas, não são confrontos de extremistas insanos. E sim de um povo que sofre com a realidade, grita por socorro através das manifestações rebeldes, batendo de frente com um governo incapaz e autoritário que os reprime de forma violenta. Comparo isto com uma rebelião num presídio, de presos(que psicologicamente eles são) exigindo melhores condições de sobrevivência. Até para saírem do país, eles têm que provar que têm bastante dinheiro e não vão emigrar.
É este Egito que estou tendo contato. O que vive do outro lado da esfinge. Que está andando nas ruas do presente e que não é enterrado em tumbas de ouro como a dos faraós...e sim do Egito que não tem onde cair morto. Um país que não evoluiu junto com o resto do mundo que inclusive nasceu bem depois deles. Os governantes que foram sucedendo os faraós foram cada vez perdendo o controle da nação. E depois do domínio árabe, fica difícil de ver um futuro próspero.  O poderoso império egípcio sucumbiu às mazelas trazidas pela modernidade e crescimento do povo.
Eu não quero aqui denegrir a imagem do país, muito menos modificar a ideia de quem ainda não veio mas sonha em conhecer o Egito. Só estou retratando a realidade que vejo e que estou tendo conhecimento. As pirâmides são realmente impressionantes e mesmo depois de mais de 4 mil anos continuam impressionando muito. Mas quando saímos do portão, pegamos o ônibus de volta para as ruas, tudo volta ao normal e vemos o caos. Gosto de sentir bem a realidade, conversar com gente na rua, ver o povo, comer o que o povo come. Toda aquela imagem que temos do Egito está guardada dentro dos museus, as mulheres nas ruas não usam roupas de Cleópatra. O regime árabe/muçulmano faz com que mesmo nós , os turistas, não tenhamos tanta liberdade. Não me sinto confortável em usar bermuda, pois ninguém usa e não quero destoar para não dar tanta pinta de gringo e não ser atormentado por vendedores na rua. A bebida alcoólica também não é bem vista, então também evito. E todo esse  clima religioso... gente se ajoelhando em tapetes para rezar o tempo todo, mulheres todas cobertas, muitas só com os olhos de fora...tudo isso me faz ficar mais contido. E por tudo isso, todos esses contrastes e peculiaridades...eu tô adorando o Egito! Já entrou na minha lista de favoritos, junto com a Polinésia,  Tailândia, China, Índia... 
  

Cena de novela

Cairo, 14 de junho de 2011.

Foi uma novela a história do meu visto para entrar nesta parte do país. Existem dois tipos de visto para quem entra no Egito. Um que é só uma permissão de 15 dias para o Sinai, e o visto propriamente dito que nos permite circular por todo o Egito. Quando saí de Israel pedi para me carimbarem num papel separado para não ter vestígio no meu passaporte que tinha entrado lá. Mas na entrada do Egito ganhei um carimbo de “Taba” (cidade no Egito na fronteira com Israel) que sujou meu passaporte. Quem cruza a fronteira por Taba, tem que pagar além dos 15 dólares(usd) do visto, mais 60 usd para um sujeito que fica lá na imigração que é de uma agência de turismo, pois só te dão o visto com uma empresa de turismo te dando respaldo. Uma grande safadeza! Acho que isso é para sacanear os turistas que vêm de Israel, pois o Egito não tem uma relação tão amigável com eles. Como tinha lido na net que o visto poderia ser conseguido também em Sharm el-Sheikh não quis pagar os 60 usd para eles e entrei só com a permissão do Sinai que é de graça.
Pois bem, entrei passei uns dias na praia, depois desci para Dahab e num dos dias que não teve mergulho no meu curso, fui resolver a “missão visto” em Sharm que é pertinho de Dahab. Uma hora e meia de busão, rachei um taxi e cheguei no aeroporto. A dica que um sujeito egipcio postou(recomedo : o fórum do Lonely Planet – tem informações muito boas e atualizadas) era que tinha que entrar pelo portão de desembarque e dar um jeito de comprar o visto. Porque o guichê onde se vende o tal visto é lá dentro, só quem tem acesso é quem chega de avião... Fui lá, entrei pelo desembarque, mas o cara me barrou(fudeu-se #1). Fiquei andando por lá, pedi para um outro guarda numa outra porta para entrar que me barrou de novo(fudeu-se #2) ele me apontou uma outra porta, tava cheio de guarda, escolhi o que tinha mais cara de patife(provavelmente eu teria que subornar!) e pedi pra ele...andei com ele pra cima e pra baixo no aeroporto até que entrei, passei por vários corredores onde passageiro nenhum tem acesso(e eu nem era passageiro!) até que cheguei no saguão do desembarque onde tinha o guichê, um cara gente boa me vendeu o visto pelo preço normal(15 usd) . Dei o trocado pro guarda patife e saí lá de dentro rindo à toa. Mas faltava ainda um detalhe: carimbar o visto, para validá-lo. Entrei por outra porta, e fui até o controle de passaporte, o cara quando viu o carimbo de Taba, na mesma hora disse que não podia carimbar, e eu teria que mostrar o tal documento de uma agência de turismo que garantisse minha entrada ou voltar a Taba para poder ter o carimbo(fudeu-se #3). Isso significava perder um dia inteiro de viagem e pagar os 60 usd pros patifes da fronteira. Falei que não tinha agência e estava viajando sozinho por conta própria, mas não adiantou. Dei meia volta chateado, e fui no balcão de informação do aeroporto tentar alguma coisa. O cara do balcão não sabia de nada, disse pra eu voltar de novo e pedir o carimbo pois eu podia sim ter o maldito carimbo. Voltei e o gordo dessa vez falou mais grosso, quase me expulsando de lá dizendo que eu tinha que voltar para Taba(fudeu-se #4). Todos os guardas não gostando da minha insistência me convidaram a me retirar do aeroporto(fudeu-se #5). Rodei tudo em Sharm, entrei em várias agências de turismo e nenhuma delas sabia do que se tratava o tal documento... Como não tive alternativa, relaxei e fui curtir a praia ....
No fim da tarde voltei no aeroporto para mais uma tentativa, na esperança de ser outro guarda na imigração no lugar do gordo. Fui no balcão de informação e disse pro outro gordo que também já tava de saco cheio de mim (eu queria mesmo isso, que eles carimbassem pra se livrar de mim!!) que não consegui o documento. E voltei no controle de passaporte depois de insistir muito pra entrar. Dessa vez era um outro cara, gente boa . Entreguei o passaporte, ele abriu , pegou o carimbo ,foi igual cena de novela....quando ele levantou o braço com o carimbo na mão eu tava nervoso já...na hora de dar a martelada ele parou...com o carimbo no ar e viu o maldito carimbo de Taba...e disse que não podia carimbar. Eu pedi por favor encarecidamente...era só um carimbinho! O cara muito gente boa disse que infelizmente  não podia fazer aquilo(fudeu-se #6).  Depois dessa desencanei, parei de pedir, fui embora.
Tinha o visto no meu passaporte,  mas o dito cujo não estava carimbado. Pedi opinião pra uns caras que fazem passeio para o Cairo alguns diziam que eu poderia ir só com aquele visto, outros diziam que aquilo não valia nada sem o carimbo. Ô dúvida cruel...será que eu perco um dia inteiro e pago os 60 usd, ou tento ir assim mesmo...fiquei uns 5 dias nesta dúvida.
Resolvi tentar, o que podia acontecer era me mandarem descer do ônibus no meio da estrada, e eu perder um tempão pra arrumar condução de volta....Já fui preparado para o pior, eu já imaginava a cena do policial me barrando, me tirando do ônibus e eu com cara de besta tentando arrumar carona na beira da pista. Então não comprei a passagem direto para o Cairo que era longe demais e se me mandassem descer do ônibus eu iria perder o dinheiro da passagem e o prejuízo seria maior.  Fui comprando as passagens para cidades no meio do caminho e trocando de ônibus...foi uma novela mesmo.
A primeira barreira na estrada para conferência dos passaportes não pediram nada ...passaram direto. Bom segui viagem para uma outra cidadezinha, e nada ...fui passando. Daí comprei pro Cairo e segui viagem...já estava umas 5-6 horas na estrada, próximo da travessia do canal de Suez (que é por um túnel sob a água)voltar dali seria um transtorno enorme...
Até que o ônibus pára numa fiscalização...(tinha um tanque de guerra na nossa direção...pois o Egito acabou de sair de uma grande guerra interna, então a fiscalização ainda está ‘meio’ pesada). E entra um guarda pedindo as identidades e dei meu passaporte. Eu já tinha ensaiado várias vezes mostrar o visto com um papelzinho cobrindo o local que deveria estar o carimbo, cobrindo também o carimbo de Taba...se o cara olhasse apressado nem perceberia. Falei que era do Brasil e mostrei a pontinha do visto, e o policial sorridente pegou o passaporte da minha mão(eu pensei: fudeu-se! #6)...Passei a última semana só pensando naquele exato momento.... Ele folheou, viu a minha foto, olhou minha cara...sorriu e me devolveu o passaporte. Yahooo!! Foi um friozinho gostoso na barriga...e entrei na parte africana do Egito.  
Moral da história: se o plano A (voltar a Taba) for um transtorno e prejuízo certo e o plano B (tentar passar, como fiz)pode levar a um transtorno bem maior e um prejuízo maior mas tem alguma chance de dar certo...tente o plano B.

Na hora que o ônibus parou...

Conversa num café do Cairo



 Cairo, 13 de junho de 2011.

Esses dias, de bobeira andando pela ponte sobre o rio Nilo que passa pelo meio da cidade, conheci um camarada chamado Emed. Ele também tava de bobeira e então sentamos em um dos cafés próximos ao rio Nilo para tomar um chá e fumar uma shisha(ou narguilé). Esses cafés são bem tradicionais onde os homens se reúnem para beber café ou chá, fumar shisha e jogar gamão ou dominó. Perguntei um monte de coisa sobre os costumes árabes e como é que eles funcionam na prática.
Um assunto que me deixa bem curioso é o casamento. Assim como fiquei intrigado ao conversar com aquele camarada na Índia sobre a questão do casamento, aqui também fiquei da mesma forma.
A poligamia é cultural e legalmente aceita, permitindo cada homem se casar com até 4 mulheres, e claro ser obrigado a sustentar todas elas, já que as mulheres não têm a mesma participação no mercado de trabalho. Eles precisam  mostrar que têm condições de sustentar a mulher...quanto mais bens ele tiver, mais chances ele tem de ‘conquistar o coração’ da moça e a ‘confiança’ da família dela. E com o grande apoio da família, meio que forçadamente ...convence a moça que o cidadão é a pessoa certa para ela. Fato bem comum é o homem comprar a mulher. Ele faz a oferta, dizendo quanto de dinheiro ou bens(que a um tempo atrás era mais comum a oferta de camelos!) ele possui, e a moça é quase forçada a se casar com o sujeito...parece mentira mas isso existe. E como a maioria da população é pobre, uma grande parte dos homens permanecem solteiros até o fim da vida.
É expressamente proibido o sexo antes do casamento. As mulheres, antes do matrimônio passam por um exame de virgindade (muitas vezes feito pelo próprio marido) num procedimento bem rudimental. O homem introduz seus dedos nas genitais da mulher, e confirma que rompeu o hímen. Quando durante o teste ocorre de fato o sangramento, ele enxuga o sangue com um lenço e comemora aquilo, juntamente com a família e com os amigos. – Olhem! Viva! Ela realmente é virgem! Minha esposa é virgem, é pura! E os pais e irmãos comemoram a pureza da mulher dando continuidade na festa e no casamento. Caso contrário, se o exame der ‘negativo’, o caso é sério, eu diria seríssimo. Ocorre que a mulher neste caso, muitas vezes é morta, e com a ajuda da família! Casos como esse, soube que são fatos comuns no cotidiano no Egito.
O namoro é aceitável, porém com muitas restrições. Primeiro porque o sexo é proibido e morar junto sem ser casado também é. Demonstrações de afeto em público não se vê. Vi pouca coisa, até mais do que na Jordânia que também é um país árabe, alguns poucos casais que se dão as mãos em alguns momentos ou o rapaz acompanha a moça com a mão no ombro. Mas a separação entre homens e mulheres é bem evidente, elas não entram sozinhas nas casas de chá e têm vagões separados no metrô, em transportes públicos onde não há separação, elas evitam sentar próximas de um homem.
No que diz respeito à falta de liberdade da sexualidade, é muito curioso vermos isso em pleno século 21. Ser tolhido dos seus desejos, e tê-los substituídos à força por costumes da sociedade e da religião, é algo bem estranho para nossa concepção ocidental. Imaginem jovens que não são praticantes convictos do islão, que assistem filmes ocidentais completamente ‘pervertidos’, fazendo-lhes almejar uma vida de luxúria, mas são socialmente proibidos. Ter os impulsos naturais impedidos é uma eterna luta consigo mesmo. Aliás, pensando bem, acho até que eles se acostumam e nem devem sentir tanta falta do sexo oposto.
No Brasil mesmo com toda essa nossa liberdade, ainda temos algumas discussões desse tipo, os ativistas lutam para que o Estado se torne laico. Ainda topamos com alguns entraves por causa de leis baseadas em preceitos religiosos, como o casamento homossexual por exemplo, que tem sido muito discutido recentemente.
Apesar da pobreza, com o peso das crenças islâmicas eles são honestos. Tentam sim enrolar turistas com frequência, pedindo preços abusivos e diferenciados para estrangeiros, que é de se entender pois fazem isso para sua sobrevivência. Mas entre eles, o comércio é honesto. Vi isso em vários lances perambulando nas ruas da Jordânia e Egito, os países árabes que visitei até agora. Um fato que exemplificou bem isto foi um quando, depois que saí do café com o camarada egípcio aqui no Cairo, me dei conta que tinha pagado muito barato pelo chá e pela shisha(narguilé), já tinhamos andado um quarteirão inteiro e a diferença que faltou eu pagar era muito pouca, insignificante. Ele fez a conta e se tocou que faltou eu pagar 1 libra egípcia (algo como 30 centavos de real), eu disse pra deixar pra lá...ele disse que não, não era uma atitude boa, e tivemos que voltar lá e pagar as moedas que faltaram.
Criminalidade baixíssima, comparada com a nossa. Vivemos no Brasil numa guerra que também é famosa no mundo todo. A fama de insegurança no país do futebol assusta e afasta milhares de turistas a cada ano. Todo mundo se assusta quando digo que é comum assaltos à mão armada em plena luz do dia. Isso para asiáticos é um absurdo. Preciso repetir várias vezes para eles acreditarem. A minha mãe se preocupa com minha segurança aqui, eu digo que eu é que me preocupo com a segurança dela lá.
Toquei no assunto felicidade e sonho. Quanta diferença nesses conceitos! Claro que isso foi uma conversa com apenas um camarada, e não posso generalizar. Mas pelo tempo que estou no Oriente Médio, dá pra ter uma ideia de que esse pensamento seja comum entre os muçulmanos. Ele me disse que não tem sonhos, pois imaginar coisas impossíveis causam descontentamento. O que não ocorre se ele concentrar a sua felicidade em Alah ( o Deus único e onipotente dos muçulmanos). Para eles, viver uma vida estável, e em paz...vivendo um dia após o outro mantendo sua fidelidade e submissão a Alah, isto é o suficiente. ...Ele frisou bem a frase ‘um dia após o outro’ , que eu entendi como, se eles mantiverem uma rotina centrada na fé em Alah, é o suficiente para ter uma vida plena. Eles querem simplesmente ter uma morte digna para se encontrarem no céu com o seu Deus. Simplesmente isso.
Eu não aceitando bem esse conceito de total falta de ambição pessoal, algo desvinculado ao amor por um Deus e sim voltado ao amor próprio, algo para tornar o desfrute da vida de uma forma mais feliz ou com mais prazer... perguntei se ele ganhasse 1 milhão na loteria, o que faria. Nem essa pergunta ele foi capaz de responder com veemência. Uma alma completamente varrida de ambições que não incluam Deus.
Entrar na mentalidade de um egipcio, ouvir pontos de vista de um árabe, com a mente intricadamente dominada pelo poder do alcorão e da cultura árabe, é uma coisa que não se sente, ou melhor não se tem nem ideia, de quem vem ao Egito e passa poucos dias só para ver as pirâmides e os templos dos faraós. Ver grandes obras de uma civilização riquíssima, dona de uma mitologia mundialmente reconhecida é realmente fascinante. Mas essa civilização viveu aqui a milhares de anos atrás. Hoje, o Egito que sobreviveu, e que vive no ano de 2011 da Era Cristã é outro. Não existe nenhum resquício de crença politeísta como era no tempo dos faraós. Vemos por aqui em museus e inscrições antigas, culto a deuses como Ísis ou Osíris entre vários outros, mas tudo isso virou folclore, dando lugar ao islamismo.

Mergulho na história

Sharm el-Sheikh, 10 de junho de 2011.
Aproveitando que estou no Mar Vermelho, quis explorar os melhores pontos de mergulho da região. De acordo com o  guia Lonely Planet e vários sites na internet que pesquisei, aqui no Mar Vermelho está o melhor ponto de mergulho em naufrágios do mundo! O navio cargueiro SS Thistlelgorm, que foi bombardeado em 1941 durante a Segunda Guerra Mundial. Ele foi descoberto em 1955 durante uma expedição de Jacques Cousteau no seu barco Calypso, que inclusive fez parte do filme “O Mundo do Silêncio”, gravado com uma das primeiras câmeras sub-aquáticas, ganhando a Palma de Ouro em Cannes em 1956. Eu assisti ao filme no albergue em Dahab, foi o que me motivou mais ainda a vir fazer este mergulho. Antes de vir, e durante o trajeto, num enorme iate projetado para mergulho que nos levou até o ponto do naufrágio, pesquisei mais sobre a história do navio, para entender melhor o contexto e aproveitar mais o mergulho.
O Thistlegorm fez parte da missão secreta chamada ‘Operação Cruzada’, que pretendia levar suplementos para os soldados ingleses que estavam no Egito e na Líbia durante a II Guerra Mundial. O navio cargueiro saiu da Escócia, em direção ao porto de Alexandria no Mediterrâneo. Como a parte leste do Mediterrâneo estava sendo controlada pelo exército inimigo(Itália e Alemanha), eles tiveram que contornar a África, passando pelo cabo da Boa Esperança e navegar pelo Mar Vermelho para alcançar o Canal de Suez e seguir para Alexandria.  Entretanto, a força aérea alemã mandou um esquadrão para controlar a navegação no Canal de Suez, e o Thistlegorm foi uma das vítimas desse ataque. Uma bomba na parte traseira do navio provocou uma explosão tão grande que quase divide o navio em duas partes, jogando duas locomotivas  de mais de 120 toneladas que estavam no navio a 30 metros de distância.
Um coroa do nosso grupo estava com uma câmera e eu peguei com ele as fotos do mergulho. O camarada mergulha desde 1978, o ano que eu nasci !... ele já trabalhou como instrutor na Tailândia, e já tem uns 4 mil mergulhos no currículo! Fiquei até sem jeito de dizer que só tinha 15,... um dia eu chego lá. 
O coordenador da equipe explicando o roteiro do mergulho

A trajetória do Thistlegorm até o dia que foi bombardeado
A japa foi minha parceira(por segurança, temos que mergulhar
sempre com um parceiro), e o coroa que me passou as fotos

Jacques Cousteau tupiniquim de Belém do Pará explorando o Golfo de Suez

A vida é assim,... tem dias que a gente tá comendo pão com mortadela 
o dia inteiro e dormindo na rua parecendo mendigo, 
...e outros que estamos num iatezão parecendo rico!...

O trajeto pelo Golfo de Suez – do outro lado é Hurgharda na costa do Egito 
O navio está a uma profundidade de 30 metros, sendo permitido o mergulho somente para mergulhadores habilitados(com no mínimo o curso avançado que fiz dias atrás) pela profundidade e por se tratar de um mergulho mais técnico, onde nadamos por passagens estreitas e lugares sem saída na parte superior.
 Como era um navio cargueiro que foi interceptado levando suprimentos para a guerra,  todo o conteúdo da carga eram equipamentos de guerra, que agora depois de 70 anos submersos já viraram parte do ambiente marinho, se tornando habitat de algas, corais e muitos peixes. A minha visita ao ‘museu de guerra sub-aquático’ foi feita em dois mergulhos, o primeiro exploramos a parte externa: a hélice ainda inteira, os tanques de água(que serviriam para os soldados cruzarem o deserto), dois tanques de guerra tombados, um vagão de locomotiva à lenha, alguns pneus...percorremos toda a área externa do navio, eu tentava imaginar nessa hora como ele era antes do naufrágio e quando foi descoberto em 1955. Naquele tempo ele estava bem mais conservado, pois com o tempo a corrosão destruiu boa parte de sua estrutura.
Tudo OK !  É só pular
Um dos tanques de guerra tombado para o lado
Na parte externa do navio
O navio só possuía uma grande hélice
A escada do convés ainda inteira

Parte externa
A locomotiva

Um dos tanques-reservatório de água
Engrenagens da corrente da âncora
Um peixe-crocodilo pensando que ia passar despercebido
A ansiedade estava para o segundo mergulho, onde exploramos o interior do navio. Foi muito emocionante percorrer os corredores estreitos e compartimentos internos. São três andares, nos dois andares inferiores vi mais de uma dezena de caminhões e jeeps ainda com várias, acho que mais de vinte motocicletas nas carrocerias, eram veículos de modelo bem antigo(claro, eram da década de 40) que ainda estavam inteiros, com rodas e pneus, e estacionados no compartimento de carga, vários pneus empilhados, foi muito bacana também ver várias botas de borracha dos soldados largadas pelo chão. No andar superior entramos na cabine de comando, em um dos camarotes e em um banheiro com a banheira de louça ainda intacta. Passamos por alguns locais e portas tão estreitos que só sobravam alguns centímetros acima e abaixo. Nessa hora realmente requer um controle total da nossa flutuabilidade.   Foi um mergulho que envolveu várias emoções juntas: a curiosidade de explorar um navio da II Guerra Mundial vendo todos aqueles equipamentos no local, ver todos os animais marinhos integrados naquele novo amiente, ter que usar haiblidade de mergulho(adoro qualquer atividade que exija mais habilidade) além do simples prazer de mergulhar que por si só já é maravilhoso.

Uma das motos na carroceria de um caminhão

Caminhão estacionado no compartimento de carga do segundo andar

Aí estamos cruzando do compartimento de carga do lado esquerdo para o lado direito
A banheira do capitão
O terceiro mergulho do dia foi no Parque Nacional Ras Mohamed , considerado também um ‘top site’ do Mar Vermelho. Lindo demais !!!! Arraias, moréias gigantes, peixes e corais super coloridos numa água muito límpida, com uma visibilidade de 25-30 metros. Passamos tamém por um outro naufrágio do navio Yolanda, este bem menor e bem desconfigurado. O que é melhor, é que quando estamos fazendo mergulhos sem fazer parte de um curso, temos mais liberdade durante o percurso, podemos parar para ver alguma coisa por mais tempo, é como um passeio sem um guia de excursão te apressando. De qualquer forma os mergulhos são sempre guiados por alguém que já conhece o local e que coordena a equipe.
No terceiro mergulho do dia,  Parque Nacional Ras Mohamed

Meu médico me disse que temos que ir no banheiro assim que  der vontade...independente da hora.
Destroços do navio Yolanda
A incrível transparência da água- Ras Mohamed
Voltando para o iate
De volta ao iate, tivemos um almoço muito bom, curtindo o visual do Mar Vermelho no Canal de Suez no caminho de volta a Sharm el-Sheikh. Ainda tivemos umas horas para passear na cidade, que não era novidade pra mim pois eu já tinha passado um dia inteiro rodando por aqui uns dias atrás  fazendo snorkel, curtindo a praia e a feirinha. Sharm, como é chamada por aqui, é a cidade maior e mais desenvolvida do Sinai.  Considerada a Cancun do Oriente Médio, atrai turistas ricos por toda sua infra-estrutura, resorts com praias particulares, cassinos, restaurantes e lojas requintadas. Sinceramente, não achei  lá essa coisa toda.
Por todos esses motivos,  os mergulhos fantásticos, a história do navio e a beleza de tudo que vi, hoje foi um dia es-pe-ta-cu-lar que nunca vou esquecer na vida
Um dos cassinos de Sharm elSheikh
Fazendo snorkel na praia de Sharm
Na’ama Bay
Os caras gente boa que conheci na rodoviária de 
Sharm elSheikh quando vim na primeira vez