Sob a lua cheia

Tiger Leaping Gorge, 22 de janeiro de 2011.

* Enviei esse post por email tambem...depois arrumo e coloco fotos...

Saimos cedo em direção ao ponto de partida, duas horas ao norte de Li Jiang na província de Yunnan,  para um trekking  de dois dias nas montanhas que formam o vale do Rio Yangzi – o maior rio na China. Um cânion - o Tiger Leaping Gorge - com várias montanhas que chegam a 4.000 metros , com uma trilha de 18 Km que chega a 2.679 metros. Nosso grupo era composto por umas dez pessoas. No primeiro dia caminhamos umas 4 horas, que não é muito mas na montanha cansa...Eram paisagens(literalmente) de tirar o fôlego! Que lugar magnífico! O rio passando lá embaixo, casinhas e algumas plantações nas encostas, algumas pessoas da etnia Naxi que tem aquela trilha como seu caminho diário onde conduzem os animais e vão para as suas plantações. Uma coisa tão imensa e tão bonita que durante a caminhada a gente ficava o tempo todo comentando aquela beleza.



No primeiro dia percorremos metade da trilha parando para dormir em uma pousada lá no alto. Pedimos um jantar para todo o grupo  (que agora eram uns doze) com umas comidas típicas dos Naxi, tinha um grupo de coreanos bebendo e cantantando do nosso lado, não demorou para nos juntarmos e fazer uma grande festa. Inventei uma brincadeira lá, cada um tinha que subir numa espécie de palco e cantar uma música do seu país. Tinha coreano, sueco, inglês, chileno, chinês...gente de toda parte na bagunça. Eu e o gaúcho cantamos duas músicas do Mamonas Assassinas ensinando a dança para os coreanos que adoraram(aqueles pulinhos do Vira Vira...lembra?), depois eles ensinaram umas brincadeiras e danças pra gente...lá pelas tantas tinha chinês cantando alto e pulando, todo mundo dancando em roda abracado...foi uma noite muito bacana. De vez em quando ia no banheiro, via aquela lua cheia imensa brilhando no céu e agradecia pra ela por eu estar ali. Tenho uma atração esquisita pela lua, gosto de conversar com ela, ás vezes agradeço  outras eu conto algum segredo ou pergunto alguma coisa. Tive noites inesquecíveis de lua cheia nos últimos meses, agosto em Bora Bora dançando com os polinésios  na beira da praia, setembro cruzando a ilha de Bali vendo todas as cores da festividade Hindu, outubro na Full Moon Party em Ko Phangan –Tailândia...sem comentarios, novembro com uma galera muito bacana numa ponte de bambu em Luang Prabang-Laos , dezembro em Saigon-Vietnã na época de Natal onde a gente reflete sobre todo nosso ano que passou e faz um monte de pedido pra lua pro ano seguinte, e agora essa lua aqui no alto de uma montanha na China...



Durante a noite, conversando com um coreano que era o organizador do grupo ele disse que eles estavam indo no dia seguinte para Shangri-la, um pouco mais ao norte, bem proximo do Tibet. Um lugar que eu já tinha lido alguma coisa a respeito e tinha uma certa curiosidade devido a magia que tem esse nome, e por ser um lugar com a cultura tibetana, bem diferente de tudo que eu tinha visto.Passei o resto da noite e a manha seguinte pensando nessa mudança de rota.
    Cruzamos alguns vilarejos, cachoeiras e  pontes no segundo dia igualmente fantásticos. Até o ponto final na margem do rio onde nos encontramos com os coreanos novamente. De lá, eu e o Gabriel nos separamos da galera que voltou para Li Jiang ...e seguimos de carona para Shangri-la.  
 

Filme chinês

Li Jiang- China, 20 de janeiro de 2011.

**Detalhe: enviei esse post atraves do email, pois aqui na China o Blogger eh bloqueado, assim como outros sites. Assim que puder eu posto as fotos e arrumo...

Chegamos de madrugada, estava nevando aqui em Li Jiang  e fomos procurar albergue. Foi uma missão andar de madrugada atrás de acomodação, tudo fechado, sem um mapa detalhado da cidade antiga onde estávamos e embaixo de neve! Até que encontramos um albergue bem barato, dormimos mais um pouco para esperar clarear o dia e vermos que lugar encantador que estávamos. A cidade antiga de Li Jiang é igual uma cidade cinematográfica de filmes chineses antigos. Casas antigas, ruas estreitas, canais que cruzam as ruas com água cristalina e carpas coloridas...Se  pedisse pra alguém descrever uma cidade imaginária, com tudo que a gente imagina de uma cidade antiga na China, talvez descrevesse Li Jiang. A gente andava encantado com tudo, tudo merecia ser fotografado.
Praca central de Li Jiang

Tudo eh bonito em Li Jiang

Li Jiang
Encontrei um gaúcho no albergue, o Gabriel, que estava morando em Beijing para aprimorar o mandarim(língua falada na China), ele foi com a gente(eu e o casal de chilenos) andar pela cidade.Assim como ele, os chilenos e outros que conheci no albergue,todos moravam na China há algum tempo e estavam viajando de férias dos estudos ou folga do trabalho. Todos eles falam alguma coisa de mandarim que é uma língua muito difícil. A escrita então é dificílima,  através de caracteres com diversos significados que quando se combinam passam a ter outros significados. Eles me falaram algumas curiosidades sobre a língua por exemplo, pra perguntar o preço, a frase em mandarim se for traduzida ao pé da letra fica: Mais menos dinheiro? Qual a sua idade?, fica: Você grande?   Como vai?, fica: Você já comeu? E outras várias frases que se formam pela combinação de caracteres. Uma palavra isolada tem um significado, mas se combinada com outra, passa a ter outro, e por aí vai.

Conversamos sobre outros costumes dos chineses ...eles não respeitam fila, vão se metendo na marra sem esse papo de licença, desculpa ou por favor, educação por aqui não tem tanta importância; pechinchar é regra, sempre é dado o preço acima do normal; eles  escarram, tiram meleca, jogam resto de comida no chão; fazem xixi e cocô em qualquer lugar,... aconteceu comigo em uma das paradas do ônibus entre Heikou e Kunming, como em muitos lugares, o banheiro é uma valeta no chão que serve para todos os tipos de necessidades, eu estava fazendo xixi  e veio um camarada na maior naturalidade e agachou do meu lado para fazer o n.2 !!!...Eu já tinha visto alguma coisa na semana que passei entre Hong Kong e Macau e sei que ainda vou ver muito mais aqui na "verdadeira China".
Subimos numa montanha onde podíamos ver a cidade de cima, os telhados de estilo antigo bem típicos ainda um pouco cobertos de neve da noite anterior, a cadeia de montanhas que circundava a cidade,  tudo isso formava um cenário que eu ainda não tinha acreditado que eu estava ali. De volta à cidade  andando pelas ruas de pedra, entramos em uma das lojas de chá e pedimos para provar alguns. A habilidade do cara preparando os chás era uma coisa impressionante, tipo um croupier de cassino ao manejar um baralho. Reparamos o ritual que ele seguia: primeiro despejava a água quente em uma pequena jarra de porcelana onde estavam as ervas e em seguida ele jogava fora esse primeiro chá como se estivesse limpando as folhas ou tirando as impurezas. Depois colocava novamente a água fervente sobre as ervas, daí passava um pouco mais de tempo, enquanto ele jogava água fervente também nas xícaras para limpá-las. Degustamos uns três tipos de chá muito bons antes de entrar numa outra lojinha, uma de brinquedos educacionais tradicionais chineses...ficamos umas duas horas brincando numa mesinha cheio de quebra-cabeças , brinquedos de montar de madeira, de encaixar...divertido.

Loja especializada em cha...mesa onde fizemos a degustacao

Oficina de brinquedos educativos tradicionais chineses
Espetinho de ovo de codorna frito...que bonitinho
Tinha umas comidas diferentes por lá, muita coisa que normalmente jogamos fora  no Brasil, aqui são muito consumidas: cabeças de pato e galinha(imagina pedir um prato somente de cabecas de galinha!); pés de galinha tem em toda parte: assados, cozidos ou industrializados naqueles pacotes embalados a vácuo no supermercado; aquela pontinha da asa da galinha que é só pele e osso...espetinho só com aquilo; bombons de carne de boi ou de yak(uma especie de bufalo); insetos fritos e mais uma porção de coisas de franzir a testa. Na volta pro albergue encostamos num barzinho onde estavam uns outros amigos nossos, pedi o violão para mandar umas músicas brasileiras, dessa vez pelo menos tinha um brasileiro para entender o que eu cantava...aí combinamos com essa outra turma de ir juntos para o trekking no dia seguinte.

De volta ao Planeta Vermelho

 
Li Jiang – China , 19 de janeiro de 2011.

De Sapa  fui para Lao Cai, uma outra cidade no Vietnã que faz fronteira com Heikou, na China. Eu sabia que era perto mas não sabia o caminho para cruzar a fronteira. Mermão, foi uma situação muito inusitada.Foi assim: desci do busão, montei a bicicletinha e saí pedalando na direção da ponte que liga as duas cidades, ou seja, os dois países. Mas eu não sabia o caminho, aí eu parava de vez em quando e perguntava para alguém na rua: Onde é a China? Imagina uma situação dessa! Andar de bicicleta com uma mochila na costa e outra no peito perguntando onde é a China!!!! Pior é que muita gente não me entendia, pois ‘China’ em vietnamita tem outro nome. Até que achei a fronteira, fiz os trâmites da imigração do lado do Vietnã,  cruzei a ponte, me apresentei na imigração chinesa, tranquilo e entrei pedalando em Heikou. Geralmente em fronteiras, as duas cidades vizinhas tem uma mistura entre as duas culturas, aceitam as moedas do outro país por exemplo, tem coisas escritas nos dois idiomas...Mas aqui foi diferente, saí de um mundo e entrei em outro. Fiquei abismado como cem metros de distância podem separar duas realidades completamente diferentes.
Em todo o sudeste asiático achamos com facilidade lugares que nos dão informações em inglês, o que facilita demais nossa vida, na China quase  NINGUÉM FALA INGLÊS !!  Pra começar fui atrás de um banco para sacar dinheiro, eu não tinha muito tempo, eu tinha uma hora  para achar o banco e pegar o ônibus , a bicicletinha quebrou um galhão pra rodar atrás do caixa eletrônico, eu fui em umas duas agências de viagem, hotéis, correio, pra perguntar onde tinha banco e ninguém me entendia. Teve um que me entendeu quando eu peguei um cartão de crédito e fiz o gesto de sacar dinheiro, mas ele me ensinou um banco que não aceitava a bandeira do meu cartão. Rodei, até que achei o banco, consegui sacar aguns Yuans, achei a rodoviária e comprei minha passagem. Ufa! Menos de duas horas de China e já deu pra sentir o drama que eu iria enfrentar. Acabou a moleza do sudeste asiático, onde todos os hotéis/albergues e agências de turismo te dão informações sobre tudo e vendem qualquer tipo de passagem, seja de ônibus, trem ou barco.
Já no ônibus fiz amizade com dois casais chilenos e um casal argentino, foi um encontro sulamericano em direção a Kunming, a outra cidade onde eu iria pegar um trem para o norte da província de Yunnan.  Tinha um chinês com um chulé insuportável deitado do nosso lado no sleeper bus, rimos muito, até que pedimos pra ele mudar de cama(sim, cama do ônibus) aí conseguimos dormir numa boa.Dei muita sorte, meus anjinhos colocaram esses chilenos no meu caminho, pois eles também estavam vindo no mesmo caminho que eu e como eles moram em Shangai há sete meses, falam um pouco de mandarim... Colei neles! pois é muito difícil andar aqui. Dez horas depois chegamos em Kunming, sete da manhã ainda estava escuro (aqui o sol nasce oito da manhã!!!) e rumamos para estação de trem. Como o Diego e a Macarena tinham que resolver um problema com uns tickets, nos separamos dos outros dois casais e  resolvemos passar o dia em Kunming para pegar o trem a noite para cá para Li Jiang. Valeu muito! Foi muito bacana esse dia. Andamos o dia todo, eu estou maravilhado novamente com a China. Apesar de já ter ido a Hong Kong e Macau, a China impressiona de qualquer jeito. Lembra quando eu desembarquei em Hong Kong, que eu disse ter tido a sensação de ter sido abduzido?! Então, agora estou de volta para esse planeta vermelho e gigantesco. É o país mais populoso do mundo, com mais de 1 bilhão e 300 milhões de habitantes!! ( o Brasil tem 190 milhões...)existem mais de cem  cidades de cinco-seis milhões de habitantes(Belém tem menos de três milhões).
Fomos num parque enorme em Kunming, um lugar muito bonito com lagos, pontes, jardins, milhares de gaivotas brigando pelo pão que lhes eram oferecidos...vários de grupos de idosos dançando, tipo dança de salão, é gostoso de ver como eles dançam, como uma forma de ginástica ou terapia para manter a vitalidade. Sem se importar se estão no ritmo ou se tem um monte de gente vendo, eles dançam com muita vontade. Outros idosos cantando e tocando uns intrumentos bem diferentes, pessoas praticando o Tai Chi Chuan(ou Kung Fu , ou Karatê – não sei a diferença).
Divertido foram os chineses nos chamando para bater foto. A gente brincava: “viemos pra China pra passear em paz, mas até aqui nos reconheceram!!” A gente parecia artista da TV posando para tanta foto.  A noite pegamos um trem para Li Jiang.
Atravessando a fronteira entre o Vietna e a China...
Diego e Macarena, meus amigos chilenos
Alguem adivinha o que e isso?

Parque de Kunming


Andando nas nuvens

Sapa - Vietnã, 17 de janeiro de 2011.

Assim que saiu o meu visto da China, deixei Hanói e vim para uma cidade no extremo norte do Vietnã, uma cidade bem pequena com 36mil habitantes sendo a maioria composta por minorias étnicas,é a região mais alta do país, fronteira com a China.
Cheguei em Sapa já sabendo que iria congelar, pois conheci um pessoal em Hanói que tinha acabado de chegar de lá. Muita neblina que não conseguia ver o outro lado da rua e muito, muito frio. Essa região é muito bonita, com terraços de plantações de arroz e várias vilas onde moram etnias com costumes bem peculiares. Mas nada disso eu pude ver pela péssima visibilidade, que pena. Pelo menos tive sorte de chegar num domingo, dia que muitas pessoas dessas minorias vêm para a cidade para vender seus bordados e artesanatos, movimentando bastante o mercado. Muito interessante, mesmo estando tão distante da América do Sul , eu achei estes grupos étnicos muito similares aos Quechuas do Peru que conheci na região de Cusco: o colorido das roupas, os cestos que eles carregam nas costas, a forma que eles carregam as crianças com um pano amarrado nas costas.

Na última noite saí para comer alguma coisa e no restaurante uns caras me convidaram pra tomar vinho de arroz, e fomos para o andar de cima do restaurante. Não era bem vinho, tava mais pra cachaça de arroz, junto com uma comida deles, daquelas que não se vende em restaurante. Eram uns pedaços de porco e uns ovos meio crus que eles colocavam num caldo quente, não chegava a ser ovo pochê, a gema ainda ficava meio crua. Me lembrei da ocasião lá em Bora Bora que me deram aqueles pedaços de porco mergulhados num leite azedo fedorento...mas dessa vez deu pra comer de boa, sem fazer careta. Tive que comer e brindar com eles, seguindo o ritual: brinda, bebe e dá um aperto de mão, um por um.

Não tenho muita coisa pra falar daqui, não fiz muita coisa, o frio incomoda, dói os dedos. Daqui a pouco vou cruzar a fronteira da China...de bicicleta!


As cores de Sapa

Adorei essa calca com bordado feito a mao

Brindando a cachaca de arroz


No mercado de Sapa




Numa esquina de Hanói

Hanói, 15 de janeiro de 2011.

Aqui eu entendi porque o Djavan cantou em uma música que estava “perdido numa esquina de Hanói” , tem várias ruas aqui que mudam de nome a cada um, dois ou três quarteirões. Mas eu não me perdi não, acho que o Djavan não tinha o Lonely Planet !!!
Preferi ir no barco organizado pelo albergue(Hanoi Backpackers Hostel) para a Halong Bay, um lugar magnífico com centenas de ilhas num mar bem verde.Foi um passeio de dois dias, e dormimos no barco em quartos bem confortáveis. Apesar de ter sido um pouco mais caro mas eu queria estar no meio da fuzaca. O mineiro que conheci em Hue disse que foi num barco normal de uma agência e disse que se ele tivesse levado uma agulha de tricô para tecer algum bordado, o passeio seria mais emocionante, rsrsrs Não deu outra, foi uma galera do albergue muito bacana e apesar do frio, fizemos uma festa no barco muito louca. Inclusive tinha no barco gente que eu conheci em Nha Trang onde passei o ano novo. Halong Bay é um lugar muito bonito, no verão deve ser bem melhor fazer esse passeio, não deu nem pra tomar banho direito, a água tava muuuito gelada.
Dando um Triplo Back Flip Splash em Halong Bay...

Pausa para conhecer uma caverna - Halog Bay


Gostei de Hanói, bem arborizada, o trânsito não é tão caótico quanto o de Saigon. O que inferniza, como em todo o Vietnã (eu já até comentei isso) são as buzinas, dá raiva, eles buzinam muuuito. Andar de bicicleta pelo acostamento é um saco, eles querem avisar o tempo todo que vão passar.Às vezes dá vontade de gritar: EU TÔ VENDO POOOORRA!!!
Uma coisa curiosa que vi no Vietnã foi muitas pessoas, principalmente as mulheres usando máscaras. Tentei entender o porquê, se era pela poluição mas até em pequenas cidades elas usam; se era pelo vento, quando estão andando de moto, mas até sem moto elas usam...se era porque elas estariam gripadas...mas não é possível que tanta gente gripasse ao mesmo tempo. Aí conversando com um camarada numa banquinha de comida numa rua de Hue ele disse que além de todas essas razões, elas também usam máscara para se proteger do sol, pois aqui a pele bem branca em mulheres é sinal de beleza, elas têm pavor do sol realmente.Aí perguntei pra ele por que então que até de noite elas usam...ele disse que ás vezes é para esconder o rosto para não serem reconhecidas quando tivessem saindo escondidas. Essa teoria não me convenceu muito, cheguei a seguinte conclusão, que somado a todos esses motivos está o lado cultural, elas usam porque gostam, puro costume.
Essa outra curiosidade quem me tirou foi o Tram, que me hospedou em Saigon...por que algumas pessoas tinham uma unha da mão bem comprida...tirar cera do ouvido?(nojento!) ele me disse que isso vem de um costume bem antigo talvez venha da China, onde os nobres utilizavam unhas grandes pois não precisavam trabalhar...então é mais ou menos isso, eles usam unha grande prá ‘dar uma de bacana!’
Moto aqui é muito barato, por 1.500 reais pode-se comprar uma moto zero quilômetro, e qualquer  500-600 reais compra-se uma motinha de segunda que quebra o galho. É por isso que tem muita moto aqui em relação ao número de carros que são caríssimos. Um modelo popular custa em torno de 25-30 mil reais.
Vi muito aqui em Hanói em vários lugares, os caras sentados em bancas de rua ou bares reunidos tomando chá e comendo alguma semente, tipo de girassol. Tarde da noite...um bando de macho na rua bebendo chá!! Sentei um dia pra fazer isso também, mas descascar semente de girassol dá muito trabalho pra comer uma sementezinha de nada, escolhi um chá gelado que eles colocam um monte de coisa dentro:amendoim, frutas cristalizadas, frutas desidratadas, o que tem muito também é café gelado(com gelo), eles tomam muito.Eles jogam tudo no chão quando estão comendo, osso, gordura, a casca das sementes de girassol, guardanapo, o limão que espremeram na comida...o chão é a lixeira.
Mausoléu do Ho Chi Minh

Numa esquina de Hanói...

Eles cuidam muito bem das praças
Sentado tomando chá gelado e comendo semente de girassol

Sangue bom

Hue - Vietnã, 10 de janeiro de 2011.

Chuva e vento frio não combinam com passeio, tá fazendo frio aqui. Hoje não botei o pé na rua, passei o dia todo no albergue. Não fazer nada e mesmo assim não sentir tédio é uma dádiva. Senti definitivamente que estou curado do estresse que eu estava antes de sair de férias. Sentia uma agonia enorme em vadiar, a cabeça não sossegava um instante.  Todo o tempo tinha que ser preenchido de alguma forma...a vida está passando! eu pensava. Muitas vezes não percebemos quando estamos estressados. A gente sente uma ansiedade sem razão aparente, nos preocupamos com coisas que poderiam ser resolvidas ‘no horário comercial’. A única coisa que me fazia relaxar era alguma atividade física, sei lá correr ou pedalar  ou então ler sobre algum assunto relacionado a viagem. Isso me tranquilizava. Aliás, há mais de dez anos que ler sobre viagem pra mim é uma coisa muito prazeirosa. Por ser uma coisa que, digamos, se confunde com meu objetivo de vida, esse assunto me motiva demais pra fazer qualquer coisa. Lembro como se fosse ontem, quando morei no Rio Negro, quando saía pra correr quase toda a tarde sozinho na estrada do aeroporto, mesmo depois de ter corrido uns doze quilômetros pensar em viajar me dava um gás que eu conseguia dar mais velocidade na chegada. É bom isso, é bom ter algo pra pensar que nos motive a fazer outras coisas: trabalhar, malhar, estudar, aprender, conhecer. Quando fazemos alguma coisa motivados por algo que nos deixa feliz fazemos com muito mais amor, mais vontade. Diferente quando fazemos simplesmente por dinheiro.
 Pelo menos ontem não choveu pela manhã e pude visitar o lugar mais importante daqui , a cidade imperial. Hue foi a capital do Vietnã entre 1802 e 1945, e possui uma região murada de estilo bem antigo que era o centro do império. E dentro dessa antiga cidade murada tem um palácio onde era a morada do imperador.Infelizmente uma boa parte foi destruída durante a guerra mas mesmo assim vários locais ainda exibem a exuberância imperial, com uma arquitetura que lembra o estilo chinês. Tinha um grupo de brasileiros fazendo uma visita guiada com explicações em espanhol, aproveitei e segui eles, mas não puxei papo. Fiquei no anonimato perto deles só pra ouvir os comentários em português. Quase dois meses que não cruzava com brasileiros, e aqui eu cruzei além desse grupo que não interagi, com um mineiro, o Arthur,  no albergue. Conversamos por poucas horas mas deu pra aliviar a vontade de encontrar um brazuca. Trocamos uma ideia legal sobre viagem e alguns costumes vietnamitas pois ele já estava há quatro meses morando em Saigon por conta de um estágio. Eu tava  comentando com um camarada dia desses, a diferença quando dois brasileiros se esbarram por aí, é uma conversa bem mais calorosa e enérgica, ficamos felizes em conversar com alguém da nossa espécie, como se fôssemos antigos amigos de um paraíso bem distante...carregamos em nossos genes um nacionalismo incomum. Temos o sangue quente, bem diferente dos alemães por exemplo que, quando se falam, parece que estão na Alemanha, numa frieza sem graça do caramba.  
Na Cidade Imperial 




Cidade Imperial

Debaixo de um chuvisco enjoado segui até o próximo local que queria visitar  umas tumbas numa parte meio afastada da cidade, na região rural. Todo mundo ia pra essas tumbas em passeios de barco mas de teimoso eu queria ir por terra.Depois de quase duas horas pedalando me dei conta que aquele caminho não era muito bom pra fazer na minha bicicletinha, e porque eu não tinha um mapa detalhado da área, só sabia o rumo e esperava encontrar placas no caminho. Nada, rodei entre umas plantações de arroz , quase me atolei na lama e resolvi voltar...tinha rodado uns 2 quilômetros de volta quando vi umas motos trazendo uns gringos, no meio daquele nada. Êpa! Dei meia volta e chutei atrás deles, deviam estar indo pra algum lugar. Tem hora que a gente reza pra ver algum gringo! Eles desceram da moto e entraram num barco, que levaria à uma pagoda(espécie de templo)na margem do rio. Deixei de lado o lamaçal e as tumbas,  e entrei no barco também, não sabia pra onde tava indo, mas era melhor do que ficar se atolando ali. No guia dizia que essa pagoda era um dos mais importantes monumentos do Vietnã...tinha também um templo com escritas em chinês e um jardim com vários bonsais( que são aquelas plantas tipo árvores anãs) eu gosto de bonsai, um dia quero ter um.
Pagoda Thien Mu fundada em 1601

Em frente à pagoda nas margens do Rio Song Huong ('Rio Perfumado')

Comecei a escrever esse post no albergue, e estou continuando agora dentro do ônibus, que nem no post anterior e outros vários. Gosto de escrever no ônibus porque é um tempo morto que faço alguma coisa útil e essa sensação de movimento, de trocar de cidade me dá inspiração...  e tô achando legal descrever algumas situações ‘em tempo real’. Por exemplo , estou num sleeper bus, na parte de trás onde tem cinco poltronas que quase deitam, e elas não têm braço para separar, ou seja, uma cama na largura do ônibus para cinco pessoas. Tem um gordo roncando do meu lado que ocupa muito espaço, a noite vai ser boa... são sete da noite e só chego pela manhã em Hanói. Tive um momento de tensão quando entrei neste ônibus. Como já tinha acontecido antes , o cara quis me cobrar pelo transporte da  bicicleta, ficamos uns quinze minutos na porta do busão, eu me negando a pagar como fiz várias vezes e não paguei mesmo. Simplesmente dizia que não ia pagar(que é o certo, pois é minha bagagem) entrava no ônibus e pronto. Mas dessa vez a coisa engrossou, o japinha ficou nervoso, ligou pro chefe dele, falava comigo tremendo de raiva. Eu também tava ficando nervoso mas me contive e continuei comendo meu pãozinho...e perguntava pra ele por que ele tava nervoso e falando alto. Ele ameaçou tirar minha bagagem e a bicicleta de dentro do bagageiro e disse que eu não iria embarcar caso eu não pagasse o extra. Tinham uns cinco caras da companhia me olhando. Dessa vez eu cedi, muito mordido mas cedi, paguei os dez reais que ele pediu (aqui é muito dinheiro!!!!) e entrei.Desgraçado, primeira vez em dois meses que pago para transportar minha amada bicicletinha. Que sentimento ruim é esse que tenho, que quando alguém me enrola eu quero revidar, preciso mudar isso.








Pela tela, pela janela

Entre Hoi An e Hué, 08 de janeiro de 2011.

Dentro do ônibus de Hoi An e Hué. Estou deixando pra trás uma cidade muito interessante. Nesta minha passagem pelo sudeste asiático tenho visitado todas as cidades de interesse turístico de todos os países, além de algumas outras fora da rota também. Todo país tem uma cidade que chama mais atenção, que tem um brilho diferenciado. Eu apontaria Chiang Mai na Tailândia, Luang Prabang no Laos e agora Hoi An aqui no Vietnã. Talvez em Salvador (Bahia) eu sinta o mesmo, onde já fui oito vezes e sempre sinto a mesma coisa, beber um cravinho em algum boteco do pelourinho tem um significado muito mais forte do que uma cajuína em Teresina ou um chimarrão em Porto Alegre. Não sei dizer especificamente o que cada um desses lugares tem de especial, talvez o ‘conjunto da obra’: arquitetura, culinária, atmosfera...é difícil ás vezes dizer objetivamente o que nos atrai numa cidade. Algumas vezes as pessoas com quem você passou uns dias naquela cidade te fazem adorá-la, enquanto outros nem deram tanta importância por estarem sós ou em companhia desagradável.
Hoi An era uma importante cidade portuária no século XVII, e o seu centro histórico com influências Chinesas, Japonesas e Europeias é um local que nos transporta para séculos atrás. As lanternas que decoram as lojas, os restaurantes e as ruas complementam esse toque antigo nas ruas estreitas e nas margens do rio.  A maioria dos estabelecimentos no centro antigo são lojas de roupas e sapatos por encomenda, a alfaiataria é a garande atração, com roupas de estilo oriental e ternos e vestidos ocidentais bem baratos.
Hoi An

Centro antigo de Hoi An

Estou passando nesse exato momento pela estrada da saída da cidade que acompanha a praia. Fiz esse trajeto anteontem de bicicleta, 25 quilômetros até as montanhas de mármore, nem se compara a sensação de vir pedalando com essa dentro desse ônibus. Eu vim parando pelo caminho, encostei numa plantação de arroz e fui até um agricultor ver de perto ele plantando as mudas. Muito bacana, ele me deu um punhado. Plantei uma dez mudas de arroz no Vietnã! Tá bom, já dei minha contribuição para a agricultura! Chega serviço pesado, segui pedalando. Enorme a quantidade de Hello!! que a gente ganha no caminho, encostei num desses grupos de crianças na beira da estrada. Imagina a felicidade deles quando disse que ia bater uma foto, foi uma festa. Depois se aproximou uma senhora bem castigada pelo tempo, ela não devia enxergar mais tão bem. Ela ficou me olhando com uma doçura, pegou nos pelos do meu braço, no meu brinco...talvez eu fosse o primeiro branquelo que ela visse de perto. Ela mastigava alguma coisa roxa que com o tempo já tinha pintado de preto os seus dentes. O jeito que ela me tocou e olhou foi tão cativante...tem momentos simples que mexem com a gente. Me senti como se fosse um neto que ela não visse há vinte anos. Encostei para  almoçar um peixe na China beach, uma praia em frente às montanhas, pena que o tempo tava feio e o mar perigoso para banho. E finalmente subi na montanha, enormes esculturas de buda dentro dumas cavernas. E do topo uma vista bem bacana das outras montanhas que um dia foram ilhas, a praia, plantações de arroz, e a vila onde quase todas as casas vendem esculturas de mármore muito bem trabalhadas, fiquei um tempão admirando os budas sorridentes, os leões, golfinhos e outras várias estátuas.
Muito bom o Cau Lau, prato típico de Hoi An feito com um tipo especial de macarrão de arroz que só tem aqui. Outro prato é o White Rose (Rosa Branca) que é feito da mesma massa do macarrão de arroz comum nas sopas, mas em formato de rosa e com um recheio de carne de porco. A carne mais consumida por esses lados é a de porco. Gosto da comida do Vietnã.

O tempo tá fechado, ontem choveu o dia todo, vou tocar o barco. Nesse exato momento também me dei conta que deixei, aliás não me devolveram, meu passaporte no hotel em Hoi  An...merda. Chegando em Hué eu ligo pra eles me mandarem no próximo ônibus. Não faço mais isso, deixar passaporte na recepção do hotel, eles esquecem de devolver...merda. Tô escrevendo o que passa na cabeça.Falou.
Comendo Cau Lau nas ruas de Hoi An

Essa dura vida de lavrador no Vietnã...

Olha a festa da molecada na estrada entre Hoi An e Da Nang.


Alucinações

Hoi An , 07 de janeiro de 2011.

Sentado num quarto de hotel aqui em Hoi An, sozinho olhando para a parede esperando a chuva passar pra sair e dar um rolê. Eu tava escutando Maria Gadu na cama sentindo aquela brisa e um barulho de chuva gostoso. Na janela vejo umas casas com arquitetura bem antiga. Me deu uma palpitação nos dedos, tem hora que fico com uma sensibilidade mais aguçada na ponta dos dedos e escrevo minhas viagens com mais fluência...sei lá. Fiz uma poesia, quer dizer, um conto. Qualquer semelhança com fatos reais, terá sido mera coincidência.

Tu mora em mim

Teu espírito tá dando a volta ao mundo comigo.
Consigo ver todas tuas reações, senti todas tuas percepções diante de todas as situações esquisitas que passei. Vejo a tua aura com nitidez, percebo o significado de qualquer contração de um músculo teu. Vejo o teu suspiro. Sei tudo o que passa aí dentro. Pra mim és transparente. Exatamente o oposto da minha poker face.
Lembra na praia em Mui Ne?  Conversei contigo um tempão sentado na areia, no point do Kitesurf.
Tu tava sentada do meu lado, comendo lagosta e umas ostras assadas na brasa. Era barato lá.
O curso de Kite é muito caro, mesmo aqui no Vietnã, não deu pra ti fazer dessa vez, ainda temos meio mundo pra cruzar.
E quando comi o escorpião em Bangkok!! A tua cara de nojo, quase que tu vomita! Falou que era igual uma aranha horrível e me deu um tapa na costa. Nem conseguiu segurar a câmera pra filmar.Depois começou a coçar teu couro cabeludo e sentir coceira também no pescoço e nos braços, tava começando a empolar.O escorpião foi foda.
Foi gostoso aquele friozinho em Probolinggo e em Da Lat que ficamos embrulhados quentinhos no cobertor. Vi tu sentindo muita dor nos ossos com aquele frio lá na Nova Zelândia, quando esquiamos... tu tremia mais que não sei o quê, mas tinha mais equilíbrio sobre os esquis do que eu. Tu nem caiu quase! e ficava rindo de quando eu caía e me amarrava pra levantar naquela neve escorregadia. – Bora gordinho!
Mas dei a forra na hora da bicicleta...bora gordinha! Tu ficou morta que tive que reduzir a velocidade várias vezes. Que nem quando tivemos que andar quase uma hora com mochila pesada na costa pra achar albergue em Ko Phangan. -Bora gordinha!
Te vejo de vez em quando com mochila do meu lado. E gosto do teu olhar de quem se sente protegida comigo. Tu nunca faria nada disso sozinha, e estaria completamente em apuros e perdida se de repente eu sumisse.  
Ontem mesmo, vi tuas botas de trekking quase escorregando nas montanhas de mármore que subimos , tu tava me pedindo pra segurar na tua mão. Foi muito bacana quando chegamos no topo dessa montanha vendo a praia, as outras montanhas as plantações de arroz e a vila lá embaixo ...depois de ter pedalado vinte e cinco quilômetros...não disse que tu conseguia?
Vibrei junto contigo durante o show de luzes em Hong Kong depois de rir muito da roupa do chineses no metrô...cantamos juntos aquela canção do Chico andando na rua dos cassinos de Macau.  E em Bali, que tu queria ficar um tempo a mais pra aprender a surfar, sem ter noção do perigo daquelas ondas enormes que quebram nas pedras, mas estás aprendendo comigo a aceitar com mais facilidade algumas situações e analisar mais racionalmente algumas coisas que a emoção manda a gente fazer.(Tô gostando de ver tua evolução na racionalidade.)
Eu também queria ter ficado mais tempo naquela praia em Ko Phi Phi, mas deixa guardado na memória, vai ser um motivo pra voltar na Tailândia um dia.Tá bom, a gente pode andar de elefante de novo.
Tá aprendendo também comigo a não deixar se abalar tanto com realidades tristes, o olhar daquelas crianças no Laos e depois o sorriso de esperança daquela senhora no Camboja que eu até bati uma foto, me ajudaram nisso.
Quando estávamos abraçadinhos bem no alto da roda gigante, vendo as luzes de Cingapura lá do alto...tentando lembrar onde tínhamos visto alguma coisa tão magnífica quanto aquela....lembra?
Tá, desculpa por não querer ter pagado hotel na ilha de Redang, as coisas na Malásia são baratas, mas aquela praia na frente...compensou a dormida na rede de baixo dos coqueiros. Diz se não foi legal ser acordada pelos esquilos no punho da rede ?
Fiquei com raiva quando tu perdeu aquele bilhete de metrô em Sydney, tu nunca vai botar essa cabeça no lugar e lembrar onde tu guarda as coisas, ainda bem que tu nunca mais perdeu dinheiro.
Te vi naquele supermercado em Moorea enquanto eu escolhia um óleo com um perfume muito gostoso de flores típicas da Polinésia, tocou uma música legal e te chamei pra dançar. Assoviei e não ouvi resposta. O que foi? Vergonha? Ninguém conhece a gente aqui! Bora dançar no supermercado!
Arroz todo dia, estamos comendo igual pombos, aguenta. Te contei do ceviche que comi lá em Lima, quando comemos aquele na Ilha de Páscoa, era diferente, consegui lembrar de algo que tinha comido a 8 anos atrás .Aquela música Rapa Nui tocada no violão deve ter ajudado a lembrar. 
Aquelas saias coloridas lá daquele mercado em Saigon iriam ficar lindas em ti, mas nessa hora tu não tava lá pra experimentar. Será que vou acertar no tamanho, que tamanho estás agora? É muito colorida ? Mas estamos na Ásia e tudo é mais colorido. Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome...  
Tive que te controlar pra não comprar muita coisa em Ko Tao, e falei que não iria carregar peso esse tempo todo.
Qual é esse filme? "O sexto sentido" Para de ler essas legendas em Vietnamita, minha barriga já tá doendo de tanto rir.

Surdos, mudos e malucos

Quy Nhon, 4 de janeiro de 2011.
Sul do Vietnã


Estávamos no terraço do hotel aqui em Quy Nhon, uma pequena cidade de praia no litoral do Vietnã, e depois de tomar algumas várias cervejas, desci junto com a galera (que conheci em Nha Trang e viemos juntos para cá) para jantar. E como é uma cidade fora da rota turística, vi pouquíssimos gringos aqui que dava pra contar no dedo, e os restaurantes locais não tem menu em inglês e tampouco alguém que nos entendesse. Isso já virou rotina pra mim, mas dessa vez foi muito engraçado pois estávamos todos embriagados!! Chegamos no restaurante e o cara nos deu o cardápio...mesmo que nada...tentamos algum tipo de comunicação mas não surtiu efeito, daí partimos para os gestos, e procuramos em  alguma outra mesa do restaurante, alguma comida que pudéssemos apontar pra pedir igual, tudo bem fizemos o pedido. Aí tinha uma menina meio fresca na nossa galera que quando chegou a sopa dela ficou em dúvida de que animal eram  aquelas víceras mergulhadas em sua sopa...aí ela chamou o cara que atendia e tentou perguntar o que era aquilo. Só que todo mundo porre foi muito engraçada a cena, a menina depois de várias tentativas de pescar uma carne na sopa com os pauzinhos, (pela perda coordenação motora...)  ela conseguiu, aí ela mostrava pro cara e perguntava: Galinha ? Galinha? e nada, e partiu pro gesto. Cara, a gringa imitando uma galinha batendo a asa e fazendo có có ri có , e o vietcong olhando pra ela sem entender nada foi uma cena muito engraçada, ela desistiu. Depois foi minha vez, chegou meu prato, era um pato cozido com gengibre, mas não veio o arroz. Pra perguntar pro cara : cadê meu arroz? Em gesto...e porre... foi uma missão muito difícil pra minha cabeça. Tentem, mesmo que sóbrios, perguntar pra alguém – Onde está meu arroz? Em linguagem de surdo e mudo!! É dificílimo! Como é um gesto pra arroz??? O cara me trouxe lá de dentro pão, pimenta, garfo...rimos demaaaais. Aliás, fazer qualquer coisa porre é uma situação muito cômica, me desculpem os caretas, mas a alegria que o álcool nos dá supera todos os danos no organismo que ele pode nos causar. Na relação custo-benefício , o prazer da embriaguez ganha disparado. Claro, isso é quando não nos tornamos dependentes, não tô falando em dependência química, de alcoolismo. Mas a cervejinha junto com uma turma é uma forma de colocar todos numa mesma sintonia, acontece muito aqui onde formamos uma irmandade entre os mochileiros .Como eu comentei no post anterior, chega um momento durante uma dessas cervejadas que todos os que estão no bar parece que se tornam amigos, e em uma noite conhecemos umas dez-quinze pessoas, e como na maioria das cidades tem uma região onde é o gueto dos mochileiros, você acaba esbarrando com toda essa gente que conheceu no bar nos dias seguintes e depois nas cidades seguintes.. é um fato bem comum cruzar com pessoas que conhecemos dois três meses atrás em outros países. Reencontramos muita gente no meio do caminho.
Quy Nhon é uma cidade muito pacata, quando eu cheguei aqui eu pensava que era domingo, depois que constatei que era segunda-feira. Quando estamos viajando perdemos completamente a noção de que dia estamos, segunda, quarta ou sábado é a mesma coisa, tanto faz. Ninguém sabe mesmo, ás vezes estamos um grupo  de cinco ou seis e alguém pega um panfleto de propaganda de um evento, uma festa por exemplo, o cara lê e depois: Olha legal essa festa vai ser na sexta...que dia é hoje? Ninguém sabe responder!
Saí pra correr  um dia até o final da praia e recebi mais de uma dezena de ‘Hello’ dos moleques pelo meio do caminho. Eles não são acostumados a ver muitos turistas aqui como nas outras cidades da rota turística. Depois voltei pelo calçadão, encostando pra ver o pessoal jogando vôlei, pra comer coisas que via diferente em banquinhas na beira da rua ou só pra ficar vendo a vida passar. A rotina nas cidades de praia aqui no Vietnã é bem diferente das cidades longe do litoral. Sentimos uma paz no ar, só de ficar sentados num banco de alguma praça no calçadão ou de andar pela areia. Eles cuidam bem das praças e jardins da orla, está sempre limpo e as árvores bem podadas, vi isso em todas as cidades de praia como Mui Ne, Nha Trang e agora aqui em Quy Nhon.
Vista do terraço do hotel em Quy Nhon

Urubu do Ver-o-peso

  Nha Trang, 3 de janeiro de 2011.

Cheguei de noite em Nha Trang (se lê: Nha Chaang) e não tava muito a fim de rodar atrás do albergue que me indicaram, onde se concentravam a maioria dos mochileiros. Aí fui pra um hotel pra passar aquela primeira noite, último andar,  um quarto bem confortável no terraço do hotel com uma vista belíssima pra praia. Mas era ano novo, eu não queria aquilo, queria me juntar com a moçada. Sou igual urubu do ver-o-peso. Essa expressão, bem belenense, significa uma pessoa que não quer ficar no luxo sem graça, prefere ficar meio da cagada por mais que seja uma coisa mais simples. Sem dúvida alguma, não troco um lugar requintado por um local onde tenha calor humano. Não é só por economia, aqui por exemplo, esse hotel bacana que passei a primeira noite era o mesmo preço(baratíssimo) do que o albergue. É o que muita gente confunde, pensa que ficamos em albergue só pra econimizar. Nada disso, gostamos de albergues porque conhecemos gente, essa interação com outros viajantes faz parte da viagem. Isso é um outro assunto que muita gente não aceita e não acredita. Pensa que se pode pagar o mesmo preço por um hotel “melhor”, não hesitaria em fazê-lo. Não me importo se divido quarto com outras dez -quinze pessoas, nem se o banheiro é coletivo. Isso é um detalhe besta que é confundido com falta de conforto. Conforto é um conceito muito subjetivo, assim como o que ele representa pra nós. Normalmente ele é uma espécie de premiação pelo seu status social. Pensamentos do tipo: eu mereço isso, ou, tenho dinheiro e ‘tenho’ que ter um carro confortável, quero me hospedar em bons hotéis, vou comer em bons restaurantes. Não sinto necessidade de nada disso, nem uma faísca de inveja dos bacanas saindo de luxuosos hotéis e entrando nos táxis. Não sinto necessidade de me proporcionar ‘conforto’ , priorizo outros valores e me sinto super bem com coisas simples.  
No outro dia , dia 31, me mudei para o albergue, quarto com oito camas. De cara já conheci dois ingleses do beliche do lado muito gente boa. Tinha também um bar em frente ao albergue onde todo mundo se encontrava. Ficamos lá pelo bar fazendo o esquenta pra descer pra praia na hora da virada. De repente éramos um grupo de uns vinte e cinco mochileiros rumo à praia em comboio, gente de todo lugar do mundo e na mesma vibração. Era uma festa numa barraca de praia bem bacana. Claro que dei um jeito de entrar sem pagar dando a volta pela areia!!! Já quase na hora da virada, tava toda a galera na frente de um palco bem bonito cheio de flores e luzes, onde tocava um DJ de fora. Nosso grupo era enorme, e na contagem regressiva fizemos uma grande roda e brindamos, desejando ‘Happy New Year’ com uma felicidade que parece que éramos uma grande família embora sabíamos que nunca veríamos aquelas pessoas nunca mais. O que importa é que naquele momento todos eram amigos de longa data. Fiquei feliz em passar a virada entre os mochileiros, que é a raça da qual estou fazendo parte nesses últimos cinco meses.
Depois foi só relax, dias de bicicleta,  praia e cerveja, sentado na areia olhando para o Mar da China.
Só uma parte da moçada...


Calçadão de Nha Trang