Urubu do Ver-o-peso

  Nha Trang, 3 de janeiro de 2011.

Cheguei de noite em Nha Trang (se lê: Nha Chaang) e não tava muito a fim de rodar atrás do albergue que me indicaram, onde se concentravam a maioria dos mochileiros. Aí fui pra um hotel pra passar aquela primeira noite, último andar,  um quarto bem confortável no terraço do hotel com uma vista belíssima pra praia. Mas era ano novo, eu não queria aquilo, queria me juntar com a moçada. Sou igual urubu do ver-o-peso. Essa expressão, bem belenense, significa uma pessoa que não quer ficar no luxo sem graça, prefere ficar meio da cagada por mais que seja uma coisa mais simples. Sem dúvida alguma, não troco um lugar requintado por um local onde tenha calor humano. Não é só por economia, aqui por exemplo, esse hotel bacana que passei a primeira noite era o mesmo preço(baratíssimo) do que o albergue. É o que muita gente confunde, pensa que ficamos em albergue só pra econimizar. Nada disso, gostamos de albergues porque conhecemos gente, essa interação com outros viajantes faz parte da viagem. Isso é um outro assunto que muita gente não aceita e não acredita. Pensa que se pode pagar o mesmo preço por um hotel “melhor”, não hesitaria em fazê-lo. Não me importo se divido quarto com outras dez -quinze pessoas, nem se o banheiro é coletivo. Isso é um detalhe besta que é confundido com falta de conforto. Conforto é um conceito muito subjetivo, assim como o que ele representa pra nós. Normalmente ele é uma espécie de premiação pelo seu status social. Pensamentos do tipo: eu mereço isso, ou, tenho dinheiro e ‘tenho’ que ter um carro confortável, quero me hospedar em bons hotéis, vou comer em bons restaurantes. Não sinto necessidade de nada disso, nem uma faísca de inveja dos bacanas saindo de luxuosos hotéis e entrando nos táxis. Não sinto necessidade de me proporcionar ‘conforto’ , priorizo outros valores e me sinto super bem com coisas simples.  
No outro dia , dia 31, me mudei para o albergue, quarto com oito camas. De cara já conheci dois ingleses do beliche do lado muito gente boa. Tinha também um bar em frente ao albergue onde todo mundo se encontrava. Ficamos lá pelo bar fazendo o esquenta pra descer pra praia na hora da virada. De repente éramos um grupo de uns vinte e cinco mochileiros rumo à praia em comboio, gente de todo lugar do mundo e na mesma vibração. Era uma festa numa barraca de praia bem bacana. Claro que dei um jeito de entrar sem pagar dando a volta pela areia!!! Já quase na hora da virada, tava toda a galera na frente de um palco bem bonito cheio de flores e luzes, onde tocava um DJ de fora. Nosso grupo era enorme, e na contagem regressiva fizemos uma grande roda e brindamos, desejando ‘Happy New Year’ com uma felicidade que parece que éramos uma grande família embora sabíamos que nunca veríamos aquelas pessoas nunca mais. O que importa é que naquele momento todos eram amigos de longa data. Fiquei feliz em passar a virada entre os mochileiros, que é a raça da qual estou fazendo parte nesses últimos cinco meses.
Depois foi só relax, dias de bicicleta,  praia e cerveja, sentado na areia olhando para o Mar da China.
Só uma parte da moçada...


Calçadão de Nha Trang



2 comentários:

Kahlyne disse...

tu gostas mesmo é da "cagada"!!!

Marcelo disse...

Rapaz, concordo em gênero, número e grau com o lance do conforto! Falou tudo!!! Feliz 2011!