Maravilha de mármore


Fatehpur Sikri, 27 de abril de 2011.

“Foi a mais linda história de amor...” já dizia Jorge Ben Jor, mas a história que contaram para ele foi entre um príncipe e uma princesa, na verdade quem construiu o Taj Mahal foi o imperador Shah Jahan da dinastia Mughal para a imperatriz Mumtaz Mahal, a sua esposa favorita, que morreu em 1631, enquanto dava luz ao 14° filho. Lá próximo também estão os mausoléus bem pequenos das outras duas esposas “menos amadas”.
Minha visita ao Taj fiz com um guia, que me serviu também de cinegrafista e fotógrafo(por 4 reais! ),ele me disse que Mumtaz Mahal antes de morrer fez dois pedidos ao imperador para que provasse o seu amor: que ele não se casasse novamente com outra mulher e que ele construísse para ela o castelo mais lindo do mundo, que ninguém pudesse fazer igual. E ele realmente atendeu, construindo este palácio, na verdade um mausoléu, para colocar o corpo de sua amada esposa. Uma obra feita por 20 mil homens e demorou mais de  17 anos para ser concluída, e outros 5 anos para concluir todos os monumentos ao redor.Todo o palácio é de mármore que foi trazido de Makrana - Rajastão, uma cidade a 350 Km daqui, e como não existiam veículos na época, foi trazido por elefantes ou camelos. Os artesãos foram recrutados de todo o império, inclusive da Ásia Central e Iran. Na área ao redor também foram construídos a morada dos trabalhadores, e outros dois monumentos idênticos em forma de palácio: uma mesquita e uma casa de hóspedes. As quatro torres, uma em cada canto que cercam o Taj, são ligeiramente inclinadas para o lado externo, para evitar que elas tombem para dentro no caso de terremoto (informação dada pelo guia). Shan Jahan morreu em  1966 e seu corpo também foi colocado no Taj, ao lado de sua esposa. As réplicas das duas tumbas estão lá bem no centro do palácio, disponíveis para visita enquanto que as reais estão logo abaixo, numa área fechada. 



Entrando no Taj

Mesquita ao lado do Taj


Detalhe das pedras incrustradas no mármore
no interior, próximo às tumbas...nessa flor tem mais de 50
pequenas peças



O Taj Mahal é  um dos monumentos mais famosos não só da Índia, mas de todo o planeta e foi eleito uma das sete maravilhas do mundo moderno. É realmente maravilhoso, como pude comprovar olhando bem de perto todos os seus detalhes, nas milhares de pedras semipreciosas encravadas no mármore compondo os adornos em forma de flores,  nada foi pintado, todo o colorido dos painéis se dá pelas cores das pedras translucentes cuidadosamente esculpidas à mão pelos artesãos. Foram utilizados jade e cristal da China, Turquesa do Tibet, Lapis Lazulis do Afeganistão, Ágatas do Yemen, Safiras do Ceilão, Ametistas da Pérsia, Corais da Arábia Saudita, Quartzo dos Himalaias, Ambar do Oceano Índico... Além de vários painéis de mármore branco com flores esculpidas com uma perfeição e uma minúncia espetacular. Por toda essa riqueza de detalhes e  pela imponência de sua estrutura de qualquer ângulo a que vemos, este foi o monumento mais bonito que já vi na vida. 
O que eu escrevo aqui ?



Outro local importante da cidade é o Forte de Agra ou Forte Vermelho, de acordo com o guia, o filho mais novo do imperador matou os outros três irmãos mais velhos para assumir o império, e mandou prender seu pai, Shan Jahan, nesse forte.
O Taj visto do Forte Vermelho

Forte Vermelho em Agra


 Usei essa pequena cidade, Fatehpur Sikri,  como base por uns dias, para visitar Agra, onde está o Taj Mahal, pois lá é muito turístico e barulhento. Mas nem aqui tive muito sossego, pelo calor e pelos povo na rua que não dá trégua. Aqui tem uma mesquita imensa e um palácio de grande importância histórica construída pelo imperador Akbar, e é uma extensão do trajeto de quem vem visitar Agra. Bem comum nos camelôs por aqui são peças de mármore: elefantes, camelos, esferas ocas com ornamentos vazados para para se por velas, vários deuses hindus e em Agra além desses,  miniaturas do Taj são os mais comuns. Mas o que mais me chamou a atenção foi um porta-treco com pedras semipreciosas em vários desenhos, mosaicos e flores encravadas num mármore bem polido, um trabalho realmente muito bem feito parecido com o das paredes do Taj Mahal.
Mesquita em Fatehpur Sikri


Mesquita

Palácio em Fatehpur Sikri

Curtindo o por-do-sol em Fatehpur


Ator de Hollywood


Gwalior, 24 de abril de 2011.

Viemos de carro particular para cá para Gwalior, uma cidade um pouco maior e mais agitada, se juntou ao nosso grupo mais uma turma que também foi recrutada pelos hotéis de Orchha. No caminho foi só brincadeira, já começamos daí a vida de “atores de Hollywood”, tinha um camarada muito figura que até dividiu o quarto comigo, o Steve, que fazia graça o tempo todo e com todo mundo.
O nome do filme é Singularity , é um romance onde durante um coma profundo o ator principal tem uma espécie de sonho que o transporta até o século XVIII e vive um romance impossível, sei que foi filmado uma parte na Austrália, agora aqui na Índia e depois outra parte será na Inglaterra ou Bélgica. (link em inglês -  outro link)O ator principal é o Josh Hartnett que fez outros filmes conhecidos como Pearl Harbor , 40 dias 40 noites entre outros.(veja mais e outras fotos) E o diretor, Roland Joffé, dirigiu alguns filmes indicados ao Oscar como Killing Fields(um filme muito bom que inclusive eu assisti quando estava no Camboja) e A Missão entre vários outros(veja mais)...... Como não sou ligado em cinema, não conhecia o ator e nem pedi pra bater foto com ele, mas ele tava lá do nosso lado na hora da gravação. Eu ouvi por lá que era uma produção de 27 milhões de dólares, não é uma superprodução mais também não é qualquer filmezinho. O lançamento deve ser no final do ano, espero que lancem nos cinemas no Brasil para eu ir me ver , rsrsr. A parte da Índia se passa no século XVIII, então todo o cenário e o figurino era desta época. Éramos um grupo de doze mochileiros viajando pela Índia e que agora estavamos numa cidade ‘a trabalho’, esperando a hora de estrear  como “atores sem fala” num filme de Hollywood....ehehe
 No primeiro dia mudaram a programação e não teria filmagem e nos liberaram, já começamos com um feriado. Saímos pra passear pela cidade e pelo forte que coincidentemente seria o local de filmagem no dia seguinte. Foi um dia divertido, fomos pagos para não fazer nada. 
Mesquita em Gwalior

Minha galera curtindo o "feriado" -
 Michael  (USA) , Serge(Bélgica) e o Steve(Inglaterra) meu parceiro de quarto

O entrada do forte


Passeando no feriadão

Muito bonito o forte de Gwalior, bem conservdo

No outro dia, muito ansiosos e curiosos o carro da produção nos pegou no hotel e fomos para o forte onde é o cenário da filmagem, a galera o tempo todo na sacanagem, aquilo tudo era uma grande diversão para todos nós. Primeiro foi o figurino, vestimos roupas de época, eu acho que éramos oficiais militares, sei lá, depois fomos para o outro ônibus-estúdio para a maquiagem, deram uma diminuída na minha barba, umas mudanças de cor no rosto como se fosse marcas de sol e uma peruca branca com uns cachos do lado. Tudo foi muito engraçado, a gente se olhava e ria o tempo todo por toda aquela situação, imagina...
Fomos para o set de filmagem, a cena deste dia seria à noite, e começamos a nos produzir 1h da tarde, e esperamos a filmagem até de tardinha num calor insuportável pois estávamos vestindo uma roupa muito quente e aqui está fazendo cerca de 43°C !!! A cena foi um espetáculo de dança feita no interior do forte. Nosso papel era só ficar sentado olhando o show. Foi fácil ficar sentado, rsrsrsrs, vendo um show de dança indiana com música ao vivo, provavelmente devem ter escolhido bons músicos e boas dançarinas além de dança de marionetes. Foi um show muito bom, de graça, repetido várias vezes e ainda sendo pago para estar ali. Muito interessante ver aquilo tudo de perto, cada um na sua função : iluminação, figurino, maquiagem, som, cenário...o diretor dando as orientações para cada um, e o assistente do diretor que é de Mumbai (cidade na Índia que produz cerca de 250 filmes por mês, conhecida como Bollywood) traduzindo as orientações em indi (língua falada na Índia) para as dezenas de indianos que fazem parte do filme.
A grana do dia que não fizemos nada

O figurino

No set de filmagem... em pé são as dançarinas


Um, Dois, Três...Ação!
Eu tô na primeira fila, em frente ao palco

No outro dia começamos cedão,  7h eu já estava na cadeira fazendo a maquiagem, as cenas foram em outro local, numa área aberta em frente ao forte. Foram duas cenas esse dia, uma nos disseram para andar numa espécie de mercado montado em um local que acredito que depois dos efeitos especiais será um porto, pois se vendiam peixes e tinha um mastro que deve virar um navio depois em computação gráfica. A outra cena eu fiquei ,com outros dois parceiros meus, em pé parado em frente ao forte conversando, aliás, fingindo que estávamos conversando, enquanto o galã passava falando com o seu coadjuvante.    
Passamos a manhã toda cozinhando no calor do set de filmagem e batendo papo entre uma cena e outra. Chegamos a uma possível conclusão: quer dizer que em filmes rodados em países asiáticos, os figurantes ocidentais são todos mochileiros !!!! É bem mais barato dar uma mixaria pra um mochileiro do que importar um monte de branquelos. Vou prestar mais atenção a partir de hoje quando eu assistir esses tipos de filme...
No set de filmagem - eu sou o primeiro da direita

Olha a pose do galã!


Durante a filmagem....


O ator principal e o diretor , nessa hora eles estavam
dando instrução para uns soldados que passam marchando
eu estava de pé do lado da cena, conversando com dois amigos

Josh Hartnett

Josh Hartnett

Steve com outros figurantes indianos

Na hora de receber nossa grana, os caras do hotel de Orchha estavam aqui no nosso hotel em Gwalior querendo receber comissão por ter nos recrutado. Formou-se um clima um pouco tenso pois nenhum de nós queria ter o dinheiro diminuído por causa da comissão dos caras. Mas no final foi resolvido, pegamos nosso trocado, ganhei 11.500 rupias(460 reais), o suficiente para viajar quase um mês pela Índia, não que seja muito dinheiro, é que aqui tudo é muito barato. Daqui sigo para Agra, terminaram meus dias de ator, vou ver o Taj Mahal com o dinheiro de Hollywood !!!  
Rúpias de Hollywood !!!

Palácios perdidos


 Orchha, 20 de abril de 2011.

No trem para cá conheci um casal do México e um da Espanha gente finíssima, enfrentamos juntos as 8 horas de viagem na segunda classe. Os indianos ficam muito curiosos diante de estrangeiros, eles se amontoam só pra ficar olhando pra gente, tinhamos ás vezes que fechar a janela durante as paradas no caminho porque era demais o público que nos deixava até sem jeito. Eram uns quinze do lado de fora e outros dez de dentro do vagão simplesmente parados nos olhando, a gente até brincava dizendo que parecíamos macacos num zoológico. Assim como o outro casal espanhol que conheci no caminho de Kathmandu dias atrás, com essa galera me dei super bem, combinamos em tudo, hora de sair, onde ir, quanto tempo ficar, onde comer....tudo. Ficamos juntos no hotel aqui em Orchha. Gostei de ver como alguns casais se dão tão bem ao viajar, como grandes amigos, entrando em acordo fácil em todas as ocasiões e compartilhando experiências com a mesma intensidade, devido à concordância de vontades.
O nosso público no trem

Ernesto e  Nai - Mário e  Bárbara -
 preparamos uma salada de fruta especial no hotel

Que cidade gostosa. É bem pequena, pouquíssimos turistas, um lugar que todos nós concordamos que tinha uma atmosfera especial. As pessoas, as cores, os palácios...tudo nos agradou.
As cores nas ruas de Orchha



Namaste !

Visitamos os grandiosos palácios dos marajás, uma pena que todos eles estão praticamente abandonados e nenhuma reforma tem sido feita para manter toda aquela estrutura,  mas são de uma riqueza arquitetônica impressionante. Existem várias cidades na Índia com palácios e fortes grandiosos bem pouco exploradas pelo turismo.  O que é ridículo e nos sentimos até discriminados , é a diferença de  preço que se cobra na entrada dos fortes e palácios aqui na Índia: em média 250 rúpias para estrangeiros enquanto que para indianos é 5 a 10 rúpias ! 
Depois de andar pelos palácios da cidade, fomos curtir a natureza. Passamos duas tardes inteiras de molho no rio que passa ao lado do palácio principal,  refrescando do calor castigante.





O marajá e seu palácio



No hotel, o dono nos disse que estavam gravando um filme, numa cidade próxima, de uma produtora de Hollywood em conjunto com uma produtora indiana, e estavam precisando de figurantes ocidentais, oferecendo hotel, alimentação e uma diária boa. Ficamos todos empolgados com a ideia, mais pela experiência  e curiosidade do que pela grana. Um carro vem nos buscar aqui para levar para Gwalior, cidade onde estão filmando.Não temos ainda muita informação, aguardem cenas do próximo capítulo.