Himalaias - Parte 03 > A passagem: 5.416m

Muktinath- 29 de março de 2011.

7° dia – Manang( 3.540m) para Yak Kharka (4.050m )
A partir dessa altura já sentimos bem a dificuldade na respiração. Qualquer esforço cansa muito mais. No meio da trilha encontrei uma canadense que conheci no avião para Kathmandu, encontrar conhecidos no meio do nada tipo agora numa trilha depois de andar por quase uma semana é um fato comum durante uma viagem. Que nem o japonês que dividi o dormitório em Ko Tao na Tailândia e um mês depois trombei com ele numa ruela em Vientiane no Laos e mais um mês depois eu estava num mercadinho em Nha Trang no Vietnã e ele estava na minha frente na fila do caixa.
A esta “altura” do campeonato (literalmente!) as jornadas são cada vez mais curtas, cerca de 4h, pois não é aconselhável subirmos mais de 700 metros num dia. Nesse trecho conheci um coroa de 58 anos e a passos lentos está fazendo o circuito. Encostei nele para bater papo, ele veio ao Nepal pela primeira vez a 35 anos atrás, alguns anos depois voltou e passou um tempo maior e na oportunidade se casou com direito a uma cerimônia nepalesa onde mataram uma cabra e fizeram uma grande festa. Agora ele está voltando com seu filho e reencontrou amigos que fez naquela época. Relembrando o Nepal daquela época onde não tinha nada desenvolvido para o turismo em comparação com os dias de hoje. Aproveitei e fiz umas perguntas pra ele sobre um assunto que tenho pensado esses dias acerca   da diferença de mochilar quando se é jovem e depois de uma certa idade. Ele confirmou que ainda prefere viajar de mochila e ter mais contato com a cultura local, claro que com algumas diferenças relacionadas à sua capacidade física. Gosto muito de conhecer viajantes de mais idade, durante as conversas sempre aprendo alguma coisa que  ajuda a guiar meu futuro.

Stupas budistas 

Deixando Manang

8°dia Yak Kharka(4.050m) a Thorong Pedi (4.450m)
Caminhada curta, com mais tempo para descansar, curtir o visual e ficar pela vila. Essa vida de montanha está sendo muito prazerosa , cada dia a paisagem é diferente: vale do rio com verde ao redor, áreas desérticas, lagos, cachoeiras, montanhas cobertas de neve, trilha pela neve...O objetivo do trekking é sentir toda essa paisagem de perto e sentir o clima da montanha. Toda noite nos reunimos na sala de jantar do hotel (onde tem aquecedor!) para jogar baralho, tocar violão...enquanto é servido o jantar com pratos nepaleses ou tibetanos. Em toda essa região as vilas são em parte tibetana (estamos a um passo do Tibet), os templos, estupas, as bandeiras de oração do budismo tibetano em toda parte, as rodas de oração, a comida...cruzamos também com vários rebanhos de yaks, animal típico do Tibet. Estamos na última parada antes da passagem, amanhã será o dia mais difícil e esperado.
Pausa pelo caminho...

Esse moleque de 14 anos era carregador, levava uns 30 quilos nas costas!!!


9°dia – Thorong Pedi (4.450m) – Thorong La Pass(5.416m) – Muktinath (3.800m) 
O grande dia!
O circuito consiste em cruzar uma cadeia de montanhas em trajetória em forma de semi-círculo, onde vamos subindo devagar até cruzar uma passagem entre as montanhas que atinge 5.416 metros, literalmente o ponto alto do Circuito Annapurna. Duas semanas atrás conheci um grupo que teve que voltar desse ponto pois a neve cobria o trajeto e não tinha como passar, mas agora sabíamos que estava OK.
Pausa durante a subida

O dia da passagem foi sem dúvida o mais desgastante. Comecei cedão, estava amanhecendo ainda o dia, os primeiros raios de sol estavam começando a surgir por trás da montanha coberta de neve. Foi o dia mais esperado, onde cruzaríamos a Thorong La Pass. Quase todo o trajeto de subida(umas 5 horas) foi pela neve e o ar nessa altitude só tem 50% do oxigênio em relação ao nível do mar. Tinha que caminhar muito devagar e parar para respirar a cada 5-10 minutos. O frio, o vento forte e o ar rarefeito fizeram desse dia o mais difícil e glorioso ao mesmo tempo. Enchi minha garrafa de água na saída e coloquei no bolso de fora da mochila, uma hora depois estava cheio de gelo dentro!
Quando chegamos ao pico(5.416m) foi uma comemoração geral, todos se cumprimentando felizes e dando parabéns. Talvez naquele momento, em todo o planeta, eu fosse o brasileiro que estivesse no ponto mais alto.

Depois da festa no pico, começamos a descida. Foram 900m de subida até o topo, depois 1.600 de descida(na vertical) ou seja 2.5 km de deslocamento vertical. Chegamos na vila de Muktinath exaustos. Descer não é tão fácil como se imagina, forçamos bastante os joelhos. A história de que “pra baixo todo santo ajuda” não é bem verdade. A outra expressão que foi por água abaixo: aqui está com clima de montanha! ( quando um lugar está com uma temperatura agradável...) dependendo da montanha, o clima é de congelar os dedos a ponto de sentir dor.
Missão cumprida.
A subida


Finalmente, o pico!!

Parabéns!
 Thorong La Pass : 5.416 metros

A festa

Logo após o pico, iniciando a descida



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