Terras Sagradas


 Jerusalém, 31 de maio de 2011. (Parabéns pai!!)

Passei quase uma semana em Jerusalém, capital de Israel. Uma cidade muito importante para judeus, muçulmanos e cristãos. Quase toda a Bíblia se passa por essa região... Fiz questão visitar e passar um dia inteiro em Belém. Não, ainda não voltei pra casa! Essa Belém aqui é a original, onde Jesus nasceu. Estou feliz em estar conhecendo este lugar. Uma curiosidade: Belém em hebraico se diz Bethlehem, e significa ao pé da letra: casa – pão, antigamente isso devia significar o nome de algum lugar que vendesse pão, portanto Belém significa em outras palavras: padaria!  Nunca pensei que minha cidade se chamava padaria!
Visitei a Basílica da Natividade, uma das igrejas mais antigas do mundo, construída em 326 para abrigar a gruta onde se acredita que nasceu Jesus. No local tem uma estrela de prata marcando o local exato. Por ser um local tão importante para os cristãos, que vêm de todo o mundo visitar a tal gruta, se tornou um   ponto turístico tão disputado pelos grupos de excursão que as pessoas nem tem tempo suficiente para observar com calma ou fazer sua oração em sossego. Foi uma coisa que me deixou meio chocado, ver tanta gente vindo de todo o  mundo todo esperar mais de uma hora na fila para passar 5 segundos no local com o guia turístico avisando para não demorar. Em Bethlehem está também uma outra gruta onde Maria o amamentou, na cidade antiga em Jerusalém está o local onde Jesus percorreu a Via Crucis, o local onde ele morreu, ressucitou...é tudo aqui!    
Basílica da Natividade em Bethlehem, construída sobre
a gruta onde se acredita que Jesus nasceu
A estrela prateada, marcando o local de nascimento


Basílica da Natividade
A humilde porta de entrada da Basílica


Bethlehem

Gruta onde Maria amamentou Jesus

Pinturas no muro que separa o Estado de Israel
da Palestina (onde está Bethlehem)


Fiquei na casa do Rafael, um amigo de Belém(do Pará!)...fazia quase dez meses que não via um paraense, foi muito bacana passar esses dias com alguém da minha raça, ...comi até farinha !  Ele me explicou algumas coisas que eu não entendia bem a respeito do judaísmo e sobre alguns conflitos entre israelenses e palestinos. Sempre fui péssimo e nunca gostei de história, mas por estar visitando um país envolvido em tantos conflitos de repercussão internacional, tentei entender um pouco mais, ver como os moradores desses países do Oriente Médio encaram essa situação e como eles convivem com isso.
Assim como algums cidades na Índia como Pushkar ou Varanasi, Jerusalém é a cidade em Israel onde se vê a religião muito mais evidente no dia-a-dia. Diferentemente de Tel Aviv, que é considerada uma “bolha” em Israel, onde aparentemente se vive uma vida com pouca influência de doutrinas e práticas religiosas, a cena é outra em Jerusalém. Os judeus, que são maioria em Israel, têm o Torá (como a Bíblia para eles, ou livro sagrado) como o livro de palavras sagradas que foi recebido por Moisés diretamente das mãos de Deus(que é o Velho Testamento contido na Bíblia).  Existem também outros  livros, de tradições orais , onde estão contidas as tradições judaicas, algo como um código de conduta, norteando os seus comportamentos. Existe dentro do Judaísmo várias subdivisões, como os chamados “judeus ortodoxos” que se diferenciam usando longas roupas pretas, chapéu e longas barbas, que inclusive têm algumas regalias concedidas pelo Estado, como direito a uma ajuda de custo mensal para lhe financiar enquanto se dedica aos estudos religiosos, e a não obrigatoriedade de prestação de serviço militar. Uma outra subdivisão, e a mais forte delas, é chamada de “Judeus Nacionais” a qual tem uma organização muito forte, uma espécie de Maçonaria ou congregação que dá uma ajuda enorme para seus integrantes. Fiquei impressionado com isso: se um judeu que mora em qualquer lugar do mundo quiser vir para Israel, essa organização paga todos os custos, tipo concede um pacote turístico de 10-15 dias para que ele venha conhecer o país. E se algum deles queira vir morar em Israel, ele tem direito a uma série de benefícios e ajudas monetárias, auxílio para estudo e um monte de coisa. É realmente uma congregação que ajuda demais os seus filhos, eu achei muito bacana essa característica do judaísmo. E para se tornar judeu não é tão simples, não se pode simplesmente se converter. Se não for de família judia, a pessoa precisa estudar, mostrar conhecimento e possuir uma conduta condizente para ser aceito.
A antiga rixa entre árabes(incluindo os palestinos, que são árabes) e judeus, é uma das principais causas da instabilidade nessa região. Pelo que percebi, os árabes – onde abrange os grupos extremistas que tanto vemos na televisão fazendo desgraça,  como o Hamas e sua tropa famosa Al-Qaeda – são os responsáveis por grande parte desses conflitos. Esses árabes de comportamentos extremistas têm várias desculpas para fazer guerra... de querer a terra que lhes pertence, entre outras causas religiosas e econômicas. São eles que  fazem desordem na faixa de Gaza(que é aqui pertinho), na Palestina e em todos os países que circundam Israel. E pelo que percebi também, apesar de Israel ter um exército muito mais forte que seus vizinhos e ainda ser considerado apadrinhado dos Estados Unidos, é o país que mais tenta manter a paz. Inclusive pouco tempo atrás Israel devolveu terras (que tinha conquistado em guerra) para a Jordânia, Egito e Palestina, tudo para tentar reestabelecer a paz.
O caso é que esses conflitos entre extremistas e governantes acaba envolvendo toda a população, onde a maioria, na verdade, não está nem aí pro assunto e não tem nada contra os árabes(a ponto de querer jogar uma bomba neles!). Como muitos israelenses que conheci pela Ásia e também aqui em Israel, eles dizem algo do tipo: - O que nós temos a ver com esses problemas, somos todos iguais, independente da religião ou raça. Mas somos impedidos até de entrar em países árabes, se tentarmos entrar lá eles nos matam!
Israelenses são impedidos de entrar em países vizinhos como Síria e Líbano(entre outros), inclusive na Palestina que está dentro do território de Israel. E em outros países ‘amigos’ , como Jordânia e Egito eles evitam ir pois não se sentem seguros. A maioria não gosta de abrir um jornal ou ligar a TV e ver notícias ruins de guerra e bomba o tempo todo, isso querendo ou não acaba tirando a tranquilidade de todos que moram aqui.

Pois bem, foi um lugar muito importante de ter conhecido e muito enriquecedor ter visto tudo isso de perto. Reencontrei em uma rua estreita da cidade antiga o Jeff , o americano que fiz uma trilha junto na Jordânia e que me deu a dica para escalar as montanhas de Wadi Rum...falei pra ele que ele tinha razão que não foi nada fácil e contei também das minhas sensações de quase-morte vividas no deserto. Encontrei também uma turma do couchsurfing, como devo ter dito, é também um site que ajuda a fazer amigos em outras cidades, e combinamos de acampar no Mar Morto. Foram dois dias muito bacanas acampando na praia, com direito a banho divertido de novo (dessa vez no lado de Israel, já que o Mar Morto está na divisa Israel/ Jordânia) fogueira, violão junto com a turma da barraca ao lado, banho numas piscinas de água doce que tem na margem do mar salgadíssimo. Tinha até uma galera lá praticando nudismo, só o que nos deixou um pouco preocupados foram os escorpiões que saíram pra passear de noite, de vez enquando um gritava de susto, mas ninguém foi picado, rsrsrsrs. Acordamos vivos no outro dia para passear pelo parque En Gedi, antes de voltar pra casa de carona...foi um fim de semana  diferente.
Sobre o muro que circunda a cidade antiga em Jerusalém,
ao fundo o Monte das Oliveiras

"Dome the Rock" - a Mesquita da cúpula dourada, a mais
importante para os muçulmanos em Jerusalém

Local sagrado do Islamismo em Jerusalém

Percorrendo os muros da cidade antiga

Um dos pontos da Via Crucis

A mesquita dourada ao fundo
 e o Muro das Lamentações, sagrado para os Judeus

Muro das Lamentações

Judeu orando no muro

Interior da Igreja do Santo Sepulcro,
onde Jesus morreu e ressussitou, dentro dessa capelinha
tem uma pedra de mármore mostrando o local

Acampando no Mar Morto

Parque Nacional En Gedi




    

2 comentários:

Sandra disse...

Rogério, eu estou adorando esa parte da sua viagem, é como voltar no tempo e star de novo em Israel. Sabe que em Jerusalem lugar que eu mais gostava de ir era o muro das lamentações, a energia lá é enorme, emociona e não havia aquela coisa de oba oba que tem nas igrejas católicas. A impressão que eu tive foi de que os católicos só vão lá pra tirar foto enquanto que os judeus se entregam de verdade.
aproveita!

bj

Tati disse...

Oi nego!!!! Concordo com tudo que vc disse a respeito da intolerância dos palestinos (e outros povos árabes) com os israelenses. E entendo que tu tenha essa opinião Pq ouviu tudo isso de um israelense. Mas é importante salientar que toda história tem dois lados. Israel é um estado criado após a segunda guerra pela ONU e Eua para os judeus por causa do genicidio nazista. Mas para estabelecer esse Estado milhares de palestinos que moravam lá há dois mil anos foram desapropriados de suas casas junto com suas famílias e confinados nos "guetos" palestinos. Como se não bastasse isso, Israel desrespeitou a delimitação da Onu e ampliou seu próprio território cerca de 30 vezes desapropriando mais milhares de pessoas. Não respeita a religião e costumes palestinos (teve um episódio de um chefe de Estado israelense entrar numa mesquita CALÇADO (um desrespeito absurdo pra eles) no meio de uma das cerimônias mais importantes da religião islâmica e mandar o exército botar todo mundo pra fora. Construíram um muro no meio da cidade e submetem os palestinos a filas e revistas diárias para passarem para o outro lado e irem trabalhar, etc. Esse território que vc menciona eles levaram mais de 40 anos pra devolver, é só devolveram por ameaça americana de cancelar acordos comerciais, não foi pra manter a paz. Essa guerra entre esses dois povos já dura mais de 50 anos e não há previsão de ter fim, é um das guerras mais longas da história pela disputa de terras (um povo que já estava aí há dois mil anos contra um que chegou há apenas 50 Pq recebeu financiamento americano e já vinha comprando terras e estabelecendo kibutz judaicos desde o século XIX).
Então nunca esqueça: toda história tem dois lados.
Justifica a violência? Não. Mas enquanto não aprenderem a conviver em harmonia essa carnificina não vai acabar