O mundo real e a TV


Jerusalém, 30 de maio de 2011.

Gosto de documentários e reportagens sobre o mundo. No entanto agora vejo que temos que saber filtrar o que vemos pois eles podem produzir imagens errôneas ou causar falsas expectativas. Temos que ter cuidado para não fantasiar demais ao ver coisas na televisão na hora de decidir um roteiro de viagem. Em muitos lugares que passei, a ideia transmitida pelo vídeo não batia exatamente com aquilo que vi de perto. Não quer dizer que eu tenha me decepcionado, mas a ótica abordada é diferente do mundo real. Quase como a ideia de uma propaganda onde é enfatizado certas vantagens do produto sem mostrar  outros detalhes.
Analisando a situação: essa imagem que criamos no nosso imaginário após ter visto uma reportagem é processada pelo nosso “centro de curiosidade” e ele manda  a resposta para o nosso “centro de opiniões formadas”. Traduzindo: a nossa curiosidade vai avaliar essa informação sobre o assunto e vai dizer se gostou ou não. Vai fazer você trocar de canal, ou sentir vontade de conhecer aquele lugar. Por exemplo, quando eu estava planejando minha viagem, um amigo meu perguntou o que eu iria fazer no Camboja, chegou até a tirar sarro, quase me chamando de doido. -Por que tu não vais para cidades bacanas,Nova York ou pra Europa? Mas eu fiquei fascinado desde que comecei a pesquisar sobre o sudeste asiático. Mostrando que cada pessoa tem uma ideia diferente a respeito de outros lugares, e temos que tomar cuidado e selecionar as opiniões.
Muitos lugares que eu passei, pergunto para os meus amigos se eles já ouviram falar e eles dizem que já viram no Fantástico ou algo do tipo. Mas tenho certeza que a informação passada através da TV nunca é igual àquela que senti na pele. Nos programas de TV eles têm técnicas para prender a atenção do telespectador exaltando assuntos mais vendáveis, inclinado o foco para um exotismo um pouco exagerado. Muitas vezes pintam uma cena mais colorida do que ela realmente é, por meio de jogo de imagens,  músicas e um foco mais jornalístico. Mostrando  muitas vezes locais onde só equipes de jornalismo têm acesso.   
A televisão cria uma fantasia, exemplo do filme antigão do Rocky Balboa quando ele passa correndo na rua subindo escadarias ...é uma cena bacana porque tem uma música empolgante e sabemos que ele está treinando para uma grande luta. Mas se vemos na rua um cara correndo e dando socos no vento, vamos achar no mínimo esquisito. Ou então aqueles documentários da Nacional Geografic sobre safáris na África, com cenas fantásticas de leopardos correndo a 100 km/h e pegando a zebra. Com certeza se formos fazer um safári na África não vamos ver nunca uma cena daquelas. O mesmo acontece com fotos, acredito muito mais em fotos batidas por alguém que foi no local a turismo, do que sites promocionais com fotos aéreas e cores alteradas por computador.
A Índia, depois da novela “Caminho das Índias” da Globo deixou milhares de pessoas curiosas para conhecer aquele país mágico com tradições tão peculiares. Mas tenho certeza que muita gente ficaria desapontada ao ‘visitar pessoalmente’ a Índia e ver uma coisa bem diferente de perto, toda aquela sujeira, pobreza e confusão. O Oriente Médio também carrega uma imagem muito negativa de guerrilha, bomba nas ruas, homens-bomba e tudo. Mas ninguém acredita que aqui é muito mais seguro que qualquer lugar do Brasil, não só aqui como  todos os países asiáticos. Em Israel tem muitos soldados armados pela rua,  um exército e uma polícia que realmente controla a segurança do país, ninguém  se atreve a roubar. Até muitas cenas de guerra nas ruas do Oriente Médio, especialmente em Israel na faixa de Gaza, não são todas reais como se imagina. Existe até um termo chamado “Pallywood” designando as farsas criadas por palestinos para denegrir a imagem de Israel, onde eles fingem estar sendo bombardeados e feridos...justamente são as cenas que vão parar nos noticiários do mundo inteiro (veja aqui), são como atores correndo nas ruas filmados por cinegrafistas também palestinos que armam toda aquela cena e aterrorizam a todos.      
 Ver o mundo com os próprios olhos...sem nenhuma interferência do jornalismo tendencioso. Com imparcialidade, simplesmente com nossos olhos. Sem fantasias ou nenhum recurso para impressionar o telespectador. E sem ajuda de uma equipe de reportagem que organiza tudo e se aprofunda nos assuntos abordados. Sem vistas aéreas e panorâmicas. O mundo sendo visto do chão onde pisamos, da altura dos olhos, sem photoshop, efeitos especiais e sem música de suspense no fundo. Constatamos que ele é diferente, real, palpável, tem cheiro e que podemos interagir com ele.
Gostoso é constatar tudo isso pessoalmente e tirar minhas próprias conclusões. Separar o real do imaginário adicionando cheiros e sensações. A impressão que uma pessoa tem de um local, nem sempre é a mesma sentida por outra, como o remédio que cura sua doença pode não servir pra mim. E com um pouco mais de prática de montar roteiros, refinamos nosso feeling para ver se aquele local vale ou não a pena a visita e nos policiamos a não criar muita expectativa antes de ir a algum lugar.

Nenhum comentário: