Dormindo sob as estrelas


Jaisalmer, 05 de maio de 2011.

Jaisalmer fica no meio do deserto de Thar, conhecida como Cidade Dourada pela cor de praticamente todas as casas com fachadas de pedra e o forte da cidade também em cor de mel, tomando uma cor mais acentuada no por-do-sol. Passei os dias andando nas ruas estreitas apreciando os detalhes das havelis, janelas e detalhes das casas ricas em ornamentos. Parece mesmo que estamos num livrinho de história.

Detalhe da arquitetura em Jaisalmer

Havelis  

Imagens de Jaisalmer

Às vezes, um bom papo é melhor do que procurar monumentos na cidade. Conheci um camarada numa loja de tapetes, e perguntei pra ele sobre o casamento na Índia. Se eles escolhem a esposa ou são obrigados a casar por causa da família. Passei um bom tempo ouvindo ele contar sobre o assunto e outros costumes indianos.. No hinduísmo as famílias, pertencentes à mesma casta, selecionam os jovens para o casamento. Ele me contou, no entanto,  que as tradições hindus onde a família do noivo e a da noiva entram em acordo e firmam o casamento antes mesmo dos noivos se conhecerem está perdendo as forças hoje em dia, e muitos casamentos já são por livre arbítrio. Assim como o Hinduísmo, que é uma das religiões mais antigas do mundo, esses costumes hindus são muito antigos, a sociedade indiana de um modo geral, é baseada em costumes milenares, como a divisão da sociedade em castas, por exemplo. Quem nasce em uma determinada casta, sempre será daquela casta, não pode “subir de categoria”. Só pode casar com alguém da mesma casta, e todos seus descendentes serão da mesma linhagem. Essa civilização funciona desta forma e habita essa região há milhares  de anos. Jaisalmer por exemplo, é uma cidade de mais de 800 anos. 
Perguntei sobre o seu casamento, ele me disse que foi a 15 anos atrás, foi arranjado por seus pais, até hoje ele vive com sua esposa numa boa e tiveram 2 filhos. Perguntei sobre seus filhos (o mais velho está com 14 anos), se ele iria interferir em alguma coisa, e ele me disse que não, deixaria ele escolher a época certa e a mulher que quisesse independente da casta.
Numa outra loja onde eu estava escolhendo uns bordados(minha vó vai adorar essas capas de almofada coloridas, cheias de elefantes bordados com fios dourados)  e o dono muito gente boa chamado Shankar, me ofereceu um chai. Muitas lojas de tecidos e bordados na Índia têm ambientes confortáveis, como um carpete no chão forrado de tecido e algumas almofadas, onde os clientes escolhem os tecidos sentados no chão com uma conversa bem amigável acompanhada de uma rodada de chai. Os indianos são bons comerciantes, e existem sim, muitos que continuam educados e gostam de conversar mesmo que você não compre nada. Pois bem, voltei a perguntar  sobre o assunto que tinha me deixado curioso, o casamento. O caso dele foi diferente, ele se casou há 5 anos mas teve a oportunidade de conhecer a noiva uns dias antes. Ele me contou como foi o primeiro contato, durante a conversa de cinco minutos que teve com sua futura esposa. Só deu tempo de fazer algumas perguntas básicas e ela, de tão envergonhada, não respondeu, quem respondeu foi a irmã que também estava presente no primeiro encontro. Ele disse que foi muito engraçada a situação, e aceitou casar-se com a moça mesmo assim. Sim, ele teve a oportunidade de se opor ao matrimônio, mais um outro aspecto que mostra as regras sendo flexibilizadas.  Eles vivem juntos há cinco anos, e se disse feliz.
Perguntei sobre o divórcio, se é aceito normalmente. Assim como os costumes do casamento estão mudando, explicou ele, o divórcio, apesar de não ser uma prática muito comum, está ganhando mais espaço ultimamente. Em todo momento, quando ele falava alguma coisa sobre a esposa e sobre casamento, na verdade não só ele como os outros caras  que toquei no assunto, senti claramente a posição submissa que a mulher ocupa na sociedade indiana. Ele finalizou, “ se eu largar ela, quem vai preparar minha comida e lavar minha roupa...?, tá bom assim”.
Por-do-sol no forte, onde fiquei hospedado

No terraço do hotel

Vendedor de leite

Fui com a galera do hotel(paguei caríssimo o hotel em Jaisalmer : 2,80 reais!) para um safari de camelo numa parte mais afastada do deserto, já bem póximo do Paquistão, uns 40 Km. Ficamos brincando com o assunto que está em todas as manchetes do jornal, sobre a morte de Bin Laden que tinha sido no dia anterior no Paquistão. Passeamos pelo deserto(que não é do jeito que imaginamos um deserto com imensas dunas) algumas horas de camelo até o ponto que seria nossa base para passarmos a noite. No nosso acampamento os guias prepararam nosso jantar, à lenha, no meio do deserto e dormimos deitados na areia olhando um céu lindo, limpo e cheio de estrelas. Foi uma noite muito gostosa.     
Vilarejo no deserto




Deserto de Thar





Detalhe das unhas pintadas, muitos indianos usam


Preparando o jantar

Jantar no deserto

Teve até aniversário de um alemão do grupo, com direito a bolo


Antes daqui, passei uns dias em Pushkar, uma cidade sagrada também para os hindus. Com um lago e umas piscinas ao redor com águas sagradas por ter sido criado pelo Deus Brahma, o Deus da criação de acordo com a mitologia hindu. Inclusive uma parte das cinzas do Gandhi foram jogadas por lá, em um  Ghat que leva seu nome. Gostei da tranquilidade de lá e do lassi vendido nas ruas, uma bebida bem comum na Índia que é a coalhada batida com gelo e um pouco de água, às vezes com alguma fruta ( banana e manga são as mais comuns), é como um iogurte natural. O lassi e o chai são as bebidas nacionais, encontramos em toda esquina, uma delícia.   
Lago sagrado em Pushkar

Em um dos ghats

Ruas tranquilas de Pushkar

Eu também tomei banho nas piscinas de águas sagradas,
junto com esse tiozão aí que me deu umas pulseiras e anéis abençoados

Pushkar

Ao lado do Ghandi Ghat , onde foram jogadas as cinzas de Mahatma Gandhi



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