Namastê

Kathmandu – Nepal, 17 de março de 2011.

O Nepal é um país bem pequeno  situado entre o Tibet (China) e a Índia. É o quarto país mais pobre de toda a Ásia. A maioria da população, cerca de 80% é hindu. Na verdade aqui se vê uma mesclagem do budismo tibetano e do hinduísmo. Hindus frequentam templos budistas e budistas frequentam templos hindus. São duas religiões que caminham lado a lado, assim como o budismo e o taoísmo na China, isso é bom que pelo menos não existem conflitos religiosos como no Oriente Médio.
A minha cabeça está começando a se situar. Esses cinco primeiros dias em Kathmandu foram bem confusos. Saí de um planeta e horas depois eu estava outro completamente diferente. Desembarquei do voo de Chengdu pra cá com conexão em Lhasa(capital do Tibet).  No caminho do aeroporto para o Thamel , região comercial e  turística da cidade, já senti o impacto cultural muito forte, uns dois dias depois de chegar aqui, eu ainda não entendia direito onde eu estava  e tudo que tava vendo, não consegui nem escrever nada. Não acreditava direito que eu estava vendo tudo isso. 
As vacas "sagradas" no meio da rua

Comendo Momo numa barraquinha de rua

Um caos, uma miséria bem evidente. A cidade toda parece um grande cortiço, um labirinto de ruas sem nome. Muita poeira e lixo. Acabei de chegar da China onde apesar de eles jogarem tudo no chão, tinha muita gente encarregada da limpeza pública, então em geral as cidades eram limpas. Além da sujeira espalhada nas ruas, as condições sanitárias são as piores possíveis, eles não tem a menor noção de higiene, as crianças brincam no meio do lixo e da sujeira. Vi algo parecido no Laos e Camboja, onde a maior parte da população também vive abaixo da linha da pobreza.
O pior é que eu estou adorando tudo isso, quanto mais me sinto um peixe fora d’água, mais eu me atraio por tudo  aqui. O cheiro de incenso, o barulho dos carros e das buzinas, as vacas ‘pastando’ no meio do lixo, o trânsito de veículos muito velhos, bicicletas, riquixás no meio de muita gente, uma loucura.
Kathmandu é conhecida por ser a cidade dos templos. E apesar de estar vendo templo há meses, aqui eu senti renovar o fôlego pois a atmosfera é completamente diferente dos outros países que passei até agora.
Pois bem, todos esses dias tenho circulado pela região comercial do Thamel, onde estou hospedado. Eu acho que 95% das lojas são de: artigos de trekking, roupas/ tecidos e chá/incenso. As roupas todas têm um colorido que eu me identifiquei bastante. Aqui também é a meca do trekking(tenho usado muito este termo e esqueci de traduzir, trekking se refere a caminhada, normalmente por terrenos acidentados como montanhas e florestas), um dos principais atrativos de turistas que vêm para o Nepal, devido às paisagens montanhosas presentes em todo o país.
Saí para conhecer os pontos mais importantes da cidade(todos são templos!!). O Nepal tem 7 Patrimônios Mundias da UNESCO, 4 deles estão em Kathmandu. A  Durbar Square(Praça do Palácio), no centro antigo da cidade é um dos locais mais movimentados da região com vários templos e construções com arquitetura bem típica. Sentei em um dos degraus dos monumentos para tomar  um chá (o chai mais consumido por aqui é feito com leite) e fiquei olhando todo aquele movimento: os riquixás(bicicleta com uma pequena carroceria que serve de táxi), os camelôs, os homens passando de mãos dadas ou abraçados(costume muito comum), mulheres vestindo saris  , com aquela marca vermelha na testa e os olhos contornados por lápis pretos que dão uma expressão bem forte no olhar. Aliás aqui eu vi gente bonita nas ruas, tanto homens(sem viadagem!) quanto mulheres, coisa rarííííssima no sudeste asiático e na China(desculpem se estou descriminando de alguma forma, mas é a minha opnião, baseada nos padrões brasileiros de beleza...) Um ambiente muito diferente de tudo que eu já tinha visto.
Figuras na Durbar Square

Ruas de Kathmandu

Em outra barraquinha esperando minha Samussa chaar

Durbar Square - Centro antigo de Kathmandu

Resolvi ir a pé para outros templos, foram oito ou dez quilômetros que nem senti cansaço porque tudo era novidade pelo caminho. O inglês parece ser a segunda língua falada aqui, mesmo longe das regiões turísticas as pessoas falam inglês.O local que me chamou demais a atenção foi  a região do Pashupati , uma área com vários prédios religiosos e um templo principal dedicado à Shiva. Estava tendo lá uma grande celebração hindu, uma espécie de batismo, onde os jovens recebiam a bênção de um guru e depois recebiam oferendas de sua família como arroz, frutas, flores, dinheiro...
Na entrada de um outro templo: o Templo dos Macacos

Detalhe de um símbolo típico do Nepal: os olhos de Buda.
O nariz é o número 1 em nepalês que simboliza a igualdade

O templo dos macacos, no alto de uma montanha de onde podemos ver toda a cidade.

Jovens na cerimônia hindu no Pashupati

Recebendo as oferendas

O templo de Shiva no Pashupati- só hindus podiam entrar

Um camarada que eu fiquei batendo um papo pra tirar umas dúvidas...

Enquanto estou me adaptando com essa outra realidade, paralelamente estou pesquisado sobre os trekkings, assim como em Ko Tao na Tailândia tudo gira em torno dos cursos de mergulho que a gente acaba fazendo mesmo sem ter planejado, aqui ocorre o mesmo com os circuitos de trekking. Devo ir na semana que vem fazer um circuito de 15 dias pelas montanhas nos Himalaias, depois eu conto.   Nesses poucos dias que estou em Kathmandu deu pra ter uma idéia do que vou ver também na Índia que é meu próximo destino. Esta é uma parte da viagem que eu tô vendo que vai ser muito marcante.Viajar não é só ver paisagens e monumentos, mas ter sensações fortes simplesmente ao andar numa rua de um país como esse.  Gostaria muito que minha família e todos meus amigos tivessem a oportunidade de sentir isso, pelo menos uma vez na vida, pra entender melhor tudo o que eu conto aqui. Me vejo sacudindo eles pelo ombro dizendo que eles precisam fazer isso, precisam sentir esse impacto cultural. Tem países que são maravilhosos, e claro que sentimos a diferença cultural, as ilhas do pacífico, o sudeste asiático onde eu passei quatro meses inesquecíveis(eu amo a Tailândia!), mas impacto mesmo foi na China e agora no Nepal, e acredito que a Índia deve ser a mesma coisa.     

* Namastê é uma saudação em nepalês : olá ou até logo. O seu significado real é: “ O Deus que habita em mim, saúda o Deus que está em você”. Eles falam unindo as mãos, como em oração.
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Um comentário:

Anônimo disse...

"Viajar não é só ver paisagens e monumentos, mas ter sensações fortes simplesmente ao andar numa rua de um país como esse." Ao ler isso em teu blog, compartilhei cada palavra escrita. Viajar é isso! Vivenciar o lugar, respirar o mesmo ar, conversar com pessoas, entender a sua cultura, conhecer suas tradições e sua história. Próxima semana estarei na Romania e viverei mais uma vez esse prazer da descoberta! O encanto de viajar... Que Deus te acompanhe nessa jornada. Beijos!!