Adoro cães

Longsheng, 27 de janeiro de 2011.


Viemos fazer um trekking numa região proxima a Guilin, nos terraços de Longji. Ficamos na vila de Dazhai uma vila de pouco mais de 1.200 pessoas, onde todos são da etnia Red Yao, as mulheres têm os cabelos compridos até o chão. Aqui como é uma região montanhosa, tá bem mais frio que em Guilin, a temperatura deve estar abaixo de zero pois está tudo congelado, tudo está coberto de gelo, as árvores, as casas...
Vila Dazhai
O israelense é muito sangue bom, o cara é muito alto astral, a gente dança no meio da rua junto com os chineses, vive cantando umas músicas em chinês...(que a gente não faz nem ideia do que significa...)sabe aquelas pessoas que tem uma energia lá em cima que combina com a tua? Tenho conhecido muita gente bacana pelo caminho.
Chegamos pela tarde e resolvemos ficar pela vila mesmo e fazer o trekking no dia seguinte. Descendo uma das ladeiras, um camarada nos convidou pra entrar na casa dele fazendo o gesto para comer. A gente pensou que era restaurante...mas era a casa dele, e entramos. Era um jantar de família em volta de um fogo de lenha no chão onde tinha uma panela. O dialeto falado por eles estava difícil para o Gabriel entender e a comunicação não fluiu muito bem  mas dava pra sentir que estavámos sendo bem recebidos por todos. Ficamos lá se aquecendo ao redor do fogo na sala, brincando com os cachorrinhos peludos... onde também estava o irmão do camarada com a esposa e um filhinho de colo que devia ter uns 3-4 meses (respirando toda aquela fumaça coitado). A política de filho único não se aplica para os moradores de zonas rurais que fazem parte de etnias.
Uma certa hora  o cara disse que o que estava na panela cozinhando era carne de cachorro!! Eu não estranhei tanto pois já tinha comido esta 'iguaria' no Vietnã. O Daniel disse que não ia encarar, mas eu e o Gabriel comemos quase a panela toda, ainda lambemos os dedos. Tava uma delícia, um tempero bem melhor que o do restaurante em Saigon. Assim como o sapo é vendido igual peixe nas ruas de todo o sudeste asiático e aqui na China também, eles têm o cachorro aqui tipo como o porco ou boi...criam para comer. Tinham vários pedaços guardados no freezer. 
Participar desse jantar com uma família Red Yao aqui na vila de Dazhai compartilhando com eles um cachorro guizado...passando a noite com eles... foi uma noite bem marcante, daquelas que a gente não esquece nunca.
A sala...o jantar.

De manhã partimos para o trekking nas montanhas congeladas, com certeza as paisagens seriam bem mais bonitas no verão, com os campos verdes e lindos terraços de arroz nas montanhas, mas..tudo bem, foi diferente caminhar por trilhas com a vegetação congelada ao redor. 

Caminhando pelas trilhas nas montanhas aqui e vendo imensas árvores e bambus quebrados pelo peso do gelo sobre as folhas,  me lembrei de um dos princípios do judô, o da mínima resistência. Jigoro Kano, o fundador do judô, observou que as árvores com galhos mais grossos e resistentes quebravam quando acumulavam neve e acabavam morrendo. Enquanto que as que tinham galhos flexíveis , deixavam a neve cair sem se quebrar. Daí surgiu um grande pensamendo do judô: Ceder pra vencer. Baseado nisso, no judô muitas vezes utilizamos a força do adversário contra ele mesmo. Levando essa filosofia para a nossa vida, muitas vezes é melhor sermos flexíveis cedendo algumas vezes, do que oferecer resistência com algo que não podemos impedir ou mudar e quebrarmos a cara!

3 comentários:

Marcelo disse...

Essa do cachorro guisado foi excelente! Aliás, é bom ver neve... montanhas geladas. Aqui na Amazônia difícil! hehehehe...

Kahlyne disse...

"usamos a força do adversário contra ele mesmo" não tinha conhecimento conhecimento sobre esse sábio e simples pensamento de Jigoro Kano. Adore!

O mal por sí só se destroi!

Sandra disse...

Rogério cada dia fico mais sua fã! Maravilhosa sua viagem pela China. E o custo de vida do mochileiro a China como é?