Sobre as estranhezas

Beijing (Pequim), 21 de fevereiro de 2011.

 
Depois de mais de um mês na China, tem umas estranhezas que eu já não estranho tanto porque eu vejo todos os dias. Continuo rindo e soltando um ‘égua’ de vez em quando... só que com menos frequência. A abismo cultural que nos separa dos chineses é enorme. Separei aqui algumas cenas cotidianas:

 As escaradas: já falei sobre isso em outro post. Todo mundo, seja homem ou mulher, eles escarram(essa palavra é feia mas é a mais adequada) em qualquer lugar. Não é um simples cuspezinho, é uma puxada que faz um ronco capaz de puxar todo o catarro preso em todo o sistema respiratório!.(eca!) No entanto os mais jovens já não ‘adotam essa prática’ e o governo tem se esforçado para mudar isso, com placas de ‘proibição de cuspe’ em alguns lugares. Principalmente durante da Olimpíada aqui em Beijing e recentemente em Shangai, por exemplo, onde aconteceu a Expo 2010 , campanhas governamentais através de panfletos e programas de TV.

 Outros ruídos: eles arrotam com a mesma naturalidade que se boceja. Soltam outros gases também porém com menor frequência.rsrsrrsrs

 Nas filas ou aglomerações: eles são brutos, te empurram e entram na frente na moral, acho que licença e desculpa são palavras inexistentes em mandarim...

 No metrô: eles ficam esperando abrir a porta igual uma competição, igual a brincadeira da cadeira. Quando abre a porta, é quando a música para e eles correm desesperados para sentar. Já vi uma senhora sentando no colo da outra. Até nos trens onde eles têm assento marcado, eles correm pra sentar primeiro sem necessidade.

 As crianças usando calça com abertura nos fundos. Pra facilitar na hora das necessidades.

 Sinfonia nos restaurantes: é uma cena bem especial. Parece um campeonato. Os caras chupam a comida com toda a força dos pulmões, seja o arroz, o macarrão, com os pauzinhos ou com a colher, fazendo o barulho mais alto possível. Eu frequento geralmente restaurantes populares onde as mesas são compartilhadas com outras quatro ou seis pessoas, aí forma-se uma orquestra de instrumentos de sopro..rsrsrs Tem hora que é engraçado, dá vontade de largar os pauzinhos e falar: tu tá de sacanagem né bicho? tamanho o barulho..rsrsrs Parece que é de propósito o volume do estrondo que eles fazem. E os casais, que coisa romântica, a moça delicada se reclina sutilmente e educadamente com o olhar baixo, encostando a boca na borda do prato que está sobre a mesa. Depois, com a boca aberta, ela varre o prato trazendo a comida com os puzinhos para a boca chupando em alto e bom som (claro...) para ajudar. Enquanto que o rapaz, educado, com bem classe chupa com bem força o seu macarrão. Uma vez tentei imitar, dei uma chupada estrondosa na sopa, eu ri tanto que me engasguei no restaurante. rsrsrsrs

 Os jovens fashion usando óculos sem lente, só como adorno, e roupas e sapatos com uma combinação difícil de entender.

 Os chineses falando alto: tem horas que não dá pra saber se eles estão só conversando ou se é discussão.

 No banheiro muitas vezes não tem o nosso conhecido vaso sanitário que nós sentamos e ficamos lendo uma revista. Tem que ser na posição agachada, (bem ingrata por sinal...)

 As placas de proibição e o Chinglish: vou fazer um post exclusivo para esse tópico em breve!

 

Eu não quero dizer aqui que eles são mal-educados não. Tudo isso faz parte da cultura e da educação chinesa. Eu acho que uma pessoa é mal educada quando comete atos que não condizem com a cultura do seu país. Eu usei alguns adjetivos para descrever algumas dessas estranhezas mas foi em tom de brincadeira, foi apenas a forma como eu interpretei as cenas (com os meus benditos olhos ocidentais...) .Tudo isso é absolutamente normal aqui na China. Eu chamei eles de brutos por exemplo, dá pra entender pois uma nação de 1,3 bilhões de habitantes, onde todo lugar tem muita gente amontoada, não dá muito espaço para as cordialidades.

Talvez a China seja a civilização mais antiga do mundo que sobreviveu até hoje, com mais de 5 mil anos de história, então sabe lá desde quando esses costumes surgiram, e quem somos nós, nascidos em sociedades com alguns séculos de existência para dizer que isso é certo ou errado. Não existem parâmetros para se qualificar uma cultura, o que acontece é que nós adjetivamos essas diferenças de acordo com o que a nossa cultura interpreta.



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