Himalaias - Parte 02

 Manang, 26 de março de 2011.

4° dia – Chame(2.710m) para Pisang(3.250m) 
Foi um dia perfeito, ensolarado e limpo, o trajeto foi muito bonito no vale do rio. As montanhas cobertas de neve já estavam próximas da trilha. Cada vez mais ia esfriando e no final do dia caiu neve ao entardecer. À essa altitude, as caminhadas não são muito longas pois devemos  subir pausadamente dando tempo do corpo se acostumar com a altitude.

A galera: os israelenses e os carregadores, no restaurante do hotel

O Yaniv, se preparando pra atacar o Dal Bhat


5°dia- Pisang(3.250m) para Manang (3.540m)
De altitude subimos só 300 metros, foi tranquilo. De tarde na chegada em Manang, uma vila um pouco maior onde se passa normalmente duas noites para aclimatização, senti dores de cabeça, o sintoma mais comum quando atingimos locais elevados. Em todo o percurso me senti bem e depois que cheguei aqui que fui sentir, mas nada que um analgésico não resolvesse. O resto do dia foi só descanso. Ao nosso grupo juntaram-se mais seis israelenses, agora são mais de vinte. É assim, o grupo é grande mas durante o percurso cada um, ou cada pequeno grupo anda no seu ritmo, e vamos encontrando com a galera no caminho. E no final do dia todos ficam na mesma vila. Em muitas horas preferi andar só. Sinto um contato maior com a natureza, com as montanhas. Atenção que é um pouco desviada quando estou com alguém.




Yaks

6° dia – Descanso em Manang.
A subida tem que ser gradual. Estamos dando um tempo para o organismo se acostumar com a altitude.Foi dia de relaxar ao redor do vilarejo, pequenas caminhadas ao redor do lago Gangapurna e à uma montanha(3.800m)  onde temos uma bela vista bem ao lado da vila  . Desde o início do circuito fiz amizade com todos os carregadores do grupo. Todos os israelenses têm carregador. Eu preferi deixar minha mochila grande em Kathmandu e trazer só o necessário na mochila pequena. Trouxe só a roupa de frio, alguma comida como frutas frescas, frutas desidratadas e uns doces. Ou seja, depois de uma semana eu deveria estar usando toda a roupa, comido todo o estoque de comida, então enfrentaria a parte mais difícil do trajeto com a mochila praticamente vazia. Mas sim, fiz amizade com todos os carregadores que também são guias e conhecem cada pedra que tem pelo caminho, e conversamos bastante durante as caminhadas. Eles explicavam tudo que tinha pela frente, o nome das montanhas, alguns costumes nepaleses...um deles era de família tibetana e falamos muito sobre o Tibet. Ás vezes eu pedia pra eles comprarem alguma coisa nos mercadinhos, pois para eles saía pela metade do preço. Em todo lugar no Nepal é assim, se é para gringo eles pedem um valor 2 ou 3 vezes maior. O que tenho feito também é comer nas pequenas vilas pelo caminho, é bem mais barato do que as pousadas maiores onde dormimos. Seguindo a regra geral de qualquer lugar do mundo: local que recebe turista é bem mais caro que o boteco do lado. Desde o tempo que eu viajava direto de ônibus pelo Brasil era assim, o ônibus fazia a parada naqueles restaurantes grandes de beira de estrada, aí eu andava dois minutos e comia ao lado pela metade do preço.
O esquema na montanha é assim, quanto mais alto mais vai ficando cara a comida. A hospedagem é muito barata(1,50 reais a diária!) ou até de graça, porém somos obrigados a comer no hotel. O que comemos muito por aqui é o Dal Bhat, um prato nepalês servido numa bandeja, com arroz, salada de batata, couve-flor e ervilhas ao curry e um caldo de lentilhas e Dal,  um grão muito consumido aqui. O bom é que esse prato é tipo ‘coma a vontade’ , quando terminamos eles enchem a bandeja novamente. Não é tão nutritivo mas depois de um dia cansativo, a vontade que dá é de encher a barriga! Ás vezes eu sento pra comer na mesa dos carregadores, pra ver bem de perto eles comendo no estilo local: com as mãos! É bem estranho...se fosse comida seca tudo bem, mas uma bandeja enorme de arroz com o caldo por cima e os caras amassando aquilo com a mão....não presenciava isso desde quando estive na Malásia.
Além dos israelenses, conheci várias pessoas no caminho com carregador/guia. Constatei que é desnecessário e caro demais contratar um. Fazendo assim de forma independente, gasto menos da metade do valor que eles gastam. Duas meninas da Inglaterra por exemplo que conheci no caminho disseram que como seria a primeira vez que fariam um trekking longo, preferiram fazer com guia. Essa insegurança de fazer coisas pela primeira vez, eu não sinto mais. Também é meu primeiro trekking demorado mas busquei informação e vi que dava pra fazer sozinho. Essa autoconfiança que tenho adquirido ajuda a fazer passeios muito interessantes e baratos.
No Circuito Annapurna, por ser uma das trilhas de trekking mais populares do mundo, cada vez mais os vilarejos estão se expandindo para receber os trekkers (outro termo que fica estranho quando traduzido: andarilhos?). Em Manang tem um posto de médicos voluntários que além de consultas e medicações, ministram palestras diárias sobre altitude e os problemas relacionados à saúde. Curioso é que os sintomas ligados à altitude não dependem da condição física, uma pessoa sedentária que bebe e fuma pode não sentir nada enquanto que uma outra bem preparada fisicamente pode sentir. Dor de cabeça, náusea, vômito, perda de equilíbrio e conciência são os sintomas mais comuns. A orientação nesses casos é descer até o último ponto que você se sentiu bem. Ainda bem que só senti os três primeiros sintomas, e não precisei descer para melhorar... Estou tomando agora um remédio para prevenir, tomara que não sinta mais nada. À noite assistimos “Sete anos no Tibet” num cineminha da vila, um filme bem apropriado quando se está cruzando os Himalaias.... 
Carlson, o guia/carregador tibetano, conversamos muito sobre o Tibet

Lago Gangapurna

Saí muito com os carregadores, uns caras muito gente boa 

Ganhamos uma faixa para dar boa sorte na caminhada, um costume tibetano.

3 comentários:

Anônimo disse...

Ae Rogério, parabéns pelo mochilão que você esta fazendo!
Muito bom ler as experiencias que você está tendo.
Incentiva muita gente, pode ter certeza. Ainda vou fazer um igual ao seu.
Boa sorte na sua caminhada.

Marcelo disse...

Ae Rogério! Muito legal as paisagens. E realmente, uns mochileiros tinham me falado da necessidade de contratar o carregador. Vc, brasileiro, indo por conta, me animou bastante a fazer as coisas por conta, como gosto de fazer também.

Rogério Oliveira disse...

Ae Marcelo, também tenho lido suas dicas da "Saga do Oriente Médio". Em breve chego por lá.