Preço de turista


 Jaipur, 29 de abril de 2011.

Aqui na Índia tenho evitado cidades grandes ou turísticas demais, não pelos turistas, mas pela confusão, trânsito e multidão de vendedores e pedintes. No começo é diferente e tal, ver toda essa loucura, depois de um tempo fica cansativo, e parece ser um alívio chegar no hotel. Juntando tudo isso,  vai acumulando o estresse, vendedores insistentes que andam do teu lado o tempo todo, e mesmo dizendo não, eles ignoram e ficam te chamando para ver a buginganga querendo negociar preço, os motoristas de tuk tuk e riquixá te perseguem, gente te chamando na rua puxando assunto  besta para te oferecer alguma coisa depois ou só por curiosidade. Até as crianças crescem aprendendo a pedir para estangeiros e a dizer o preço diferenciado. Teve um dia que andando na rua me perguntaram tanto de onde eu era que para não me estressar, cada vez eu dizia um país diferente, fora as dezenas de “Hello my friend!” . Eles são curiosos demais, nos fazem um monte de pergunta.
 Uma vez um camarada puxou assunto comigo enquanto eu andava, e  me pediu para parar e conversar com ele um minuto,  perguntando por que os estrangeiros nunca querem parar para conversar com os indianos na rua e por que ignoramos quando alguém nos chama. Até gostei de ele ter me perguntado isso, eu queria alguém para falar sobre esse assunto mesmo e aproveitei o sujeito. Abri o verbo com ele sobre toda a chateação que é andar na rua,  que todo mundo quer te oferecer alguma coisa e o que mais me chateia: em todo lugar eles dizem o preço maior para turista, por isso que nos comportamos dessa forma. Aí ele desconversou, dizendo que o turista tem mais dinheiro que os indianos e podem pagar mais caro, que eles gostam de praticar o inglês, blá blá blá. Parece brincadeira mas depois de uns vinte minutos sentado na calçada com esse camarada, continuei meu caminho e logo encostou um menino de uns treze anos numa bicicleta e depois de uns cinco minutos me perguntando  as mesmas coisas, perguntou todo contente se eu queria ser seu amigo( eles adoram dizer isso: posso ser seu amigo? ) e logo em seguida perguntou pelo seu dinheiro, não lembro bem que palavra ele usou, mas algo como: cadê minha taxa?     – O quê, rapaz, pagar por ter dado papo pra ti ?!?!   - Sim, meu dinheiro !  .....    Mandei ele pra bem longe, pena que ele não entendeu meu português em alto e bom som.
Uma outra situação foi em Gwalior, fui num cyber e o cara disse 50 rúpias a hora. Ok, o dobro do preço das outras cidades mas tudo bem. Na hora de pagar, dei uma nota de 100 e  ele me pediu para escrever meu nome num livro de controle, e no livro vi o preço pago pelas outras pessoas que era 20 de rúpias:
- Por que você me cobrou 50 se todo mundo paga 20 ?? já comecei meio alterado...
- Porque os outros pagam um depósito. ...   Dizendo na cara de pau, quase gaguejando.
- Mentira !  todo mundo paga 20, tá escrito aqui, só porque eu sou estrangeiro ??
- É um depósito.
- Mentira, você está mentindo, você não é honesto. Eu quero pagar 20 que é o valor correto... ( já quase apontando o dedo na cara dele ...eu queria mesmo é chamar ele de safado ou patife mas não sabia como dizer em inglês... rsrsrsr )

O caso não era o dinheiro, o equivalente a pouco mais de um real, mas pela sacanagem, não gosto que me façam de otário. Ás vezes até sou otário, mas “com meu consentimento” .  Ele se recusou a aceitar os 20 e pediu que eu escrevesse o nome do meu hotel e número do quarto no tal livro. Peguei meus 100 de volta, saí com raiva e ao mesmo tempo rindo do nome do hotel que eu inventei.
 É ridículo isso o que eles fazem de dar o preço mais alto, temos que ter muita paciência para aturar isso na rua. Talvez quem sinta mais isso é quem está a um tempo nessa região de Nepal e Índia viajando de forma independente. Quem vem passar uma ou duas semanas ou vem de pacote turístico não tem esses problemas. Eu já estou há 50 dias aturando isso todos os dias e o dia todo. Essa discriminação começa pelo governo que cobra uma diferença absurda o ingresso nas atrações turísticas, o Taj Mahal por exemplo, pagamos 750 rúpias enquanto que indianos pagam 20 ! Quase  38 vezes mais! Em outros locais, para nós é 250 e os indianos 5...pagamos 50 vezes mais caro. É uma discriminação ridícula que chateia. Temos que nos esforçar para manter o bom humor e sempre perguntar pelo “preço indiano” ao comprar qualquer coisa. Isso está me fazendo ter uma impressão negativa do povo indiano.
No Brasil eu realmente não sei se isso acontece com os estrangeiros, pelo menos o preço das entradas é o mesmo, agora nas ruas não sei se eles são tratados dessa forma. Os motoristas de táxi eu sei que a maioria tira proveito não só de gringos como de turistas brasileiros mesmo, que não conhecem a cidade. Vendedores de rua e camelôs dizem o preço mais alto para todos, acredito que em qualquer lugar do mundo. Os brasileiros, cá pra nós, não temos na nossa genética aquela honestidade invejável ou aquela integridade moral exemplar. Sejamos sinceros, em geral, somos “flexíveis” se pudermos obter alguma vantagem que não seja 100% lícita. Temos a fama de querer levar vantagem em tudo. Agora, estar num lugar onde todos querem te fazer de mané...não é nada confortável.
 Jaipur é a capital do Rajastão, é bem desenvolvida. Conhecida como “Cidade Rosa” é uma cidade bem importante turisticamente na Índia, fazendo parte de Triângulo Dourado : Agra-Delhi-Jaipur.  Um imperador que gostava de rosa, pintou a cidade dessa cor, alguns palácios na cidade mantém a pintura mas nas casas não vemos tanta cor. Muitos fortes, palácios de marajás e museus valeram a visita em Jaipur, não demorei muito poque estava um calor insuportável que tive que pegar o colchão e dormir no terraço do lado de fora as duas noites, estava impossível de dormir na sauna que estava dentro do quarto. 
Entrada do City Palace em Jaipur

Forte de Amber 

Tentando encantar uma cobra

Paredes rosas do City Palace

A maior peça de prata do mundo no palácio do marajá


Palácio do Ventos, na parte frontal tem centenas de minúsculas janelas
 para que as mulheres do harém olhassem para a rua sem serem vistas


Família no Forte de Amber 


Forte de Amber , próximo a Jaipur

5 comentários:

Anônimo disse...

fale rogério, leio de vez em quando teu blog, nao vou nem comentar tua publicação sobre advogados, vou entender como um momento de cartase!

Quanto a cobrança diferenciada tenho a te falar que isso não é uma pratica pouco comum não. No Rio de Janeiro morador da cidade do Rio paga metada na entrada de pontos turísticos como Cristo e Pão de Açucar, é um problema de entendimento ao meu ver.
Me parece que estas entendendo que o turista paga mais que os locais e na verdade são os locais que pagam menos que os turistas, me parece justo.
Já tenho minhas duvidas quanto ao tratamento de serviços privados e de rua, isso pode e deve ser regulado pelo mercado. É uma questão cultural, só não acontece no Brasil pq se ocorrer o turista vai e se muda pro hotel do lado. Apesar que é uma pratica muito comum entre taxistas.

Rogério Oliveira disse...

Ola querido anonimo,
Meu comentario sobre advogados safados nao foi motivado por momento de raiva ou coisa do tipo, acho realmente isso e tenho aversao a eles de qualquer forma.
Tambem acho justo os locais pagarem menos que turistas, mas aqui na India nao se trata de moradores da propria cidade, e sim de todos os indianos. E que essa diferenca fosse menor e nao de 5 para 250 ou 20 para 750...
Quanto aos precos diferenciados, eu nao falei de servicos privados como hotel por exemplo (ate nisso podemos barganhar) mas das lojas nas ruas e bancas de comida, frutas e etc.
Realmente isso eh uma questao cultural, e eh justamente isso que retrato aqui no blog...essas diferencas culturais.Valeu!

José Wellington Barbosa disse...

Rogerio,

Moro na Indonesia e desde novembro do ano passado acompanho o teu blog, muito bom passar por aqui e ler suas experiencias, moro na Asia ha 1 ano e meio e sinto todos os dias essa sensacao dos indonesios tirando proveito por que somos estrangeiros, mesmo falando o idioma deles a nossa cara denuncia que somos de fora eh um saco cara, as vezes faco que nem vc e mando eles pra uma casa bem longe mesmo... meu mas espero que ai no Orienta medio tenha sucesso super abraco...

Anônimo disse...

Depois de ler isso sinceramente a india ta fora da minha lista. . .Rs

Rogério Oliveira disse...

Anônimo,
Esse foi meu ponto de vista, pois andei muito pela rua, andei de ônibus público local, comia em barracas de rua... mas não é por isso que vc deva tirar a Índia da sua lista. É um país fantástico, sentimos um choque cultural tão forte, que de qualquer forma vale a pena. E outra, é o país mais barato da Ásia..mesmo eles tentando te cobrar mais caro por algumas coisas, mas tudo se trata de valores insignificantes...Para se ter uma idea, vc pode mochilar por um mês gastando 600-800 dólares.