Sangue bom

Hue - Vietnã, 10 de janeiro de 2011.

Chuva e vento frio não combinam com passeio, tá fazendo frio aqui. Hoje não botei o pé na rua, passei o dia todo no albergue. Não fazer nada e mesmo assim não sentir tédio é uma dádiva. Senti definitivamente que estou curado do estresse que eu estava antes de sair de férias. Sentia uma agonia enorme em vadiar, a cabeça não sossegava um instante.  Todo o tempo tinha que ser preenchido de alguma forma...a vida está passando! eu pensava. Muitas vezes não percebemos quando estamos estressados. A gente sente uma ansiedade sem razão aparente, nos preocupamos com coisas que poderiam ser resolvidas ‘no horário comercial’. A única coisa que me fazia relaxar era alguma atividade física, sei lá correr ou pedalar  ou então ler sobre algum assunto relacionado a viagem. Isso me tranquilizava. Aliás, há mais de dez anos que ler sobre viagem pra mim é uma coisa muito prazeirosa. Por ser uma coisa que, digamos, se confunde com meu objetivo de vida, esse assunto me motiva demais pra fazer qualquer coisa. Lembro como se fosse ontem, quando morei no Rio Negro, quando saía pra correr quase toda a tarde sozinho na estrada do aeroporto, mesmo depois de ter corrido uns doze quilômetros pensar em viajar me dava um gás que eu conseguia dar mais velocidade na chegada. É bom isso, é bom ter algo pra pensar que nos motive a fazer outras coisas: trabalhar, malhar, estudar, aprender, conhecer. Quando fazemos alguma coisa motivados por algo que nos deixa feliz fazemos com muito mais amor, mais vontade. Diferente quando fazemos simplesmente por dinheiro.
 Pelo menos ontem não choveu pela manhã e pude visitar o lugar mais importante daqui , a cidade imperial. Hue foi a capital do Vietnã entre 1802 e 1945, e possui uma região murada de estilo bem antigo que era o centro do império. E dentro dessa antiga cidade murada tem um palácio onde era a morada do imperador.Infelizmente uma boa parte foi destruída durante a guerra mas mesmo assim vários locais ainda exibem a exuberância imperial, com uma arquitetura que lembra o estilo chinês. Tinha um grupo de brasileiros fazendo uma visita guiada com explicações em espanhol, aproveitei e segui eles, mas não puxei papo. Fiquei no anonimato perto deles só pra ouvir os comentários em português. Quase dois meses que não cruzava com brasileiros, e aqui eu cruzei além desse grupo que não interagi, com um mineiro, o Arthur,  no albergue. Conversamos por poucas horas mas deu pra aliviar a vontade de encontrar um brazuca. Trocamos uma ideia legal sobre viagem e alguns costumes vietnamitas pois ele já estava há quatro meses morando em Saigon por conta de um estágio. Eu tava  comentando com um camarada dia desses, a diferença quando dois brasileiros se esbarram por aí, é uma conversa bem mais calorosa e enérgica, ficamos felizes em conversar com alguém da nossa espécie, como se fôssemos antigos amigos de um paraíso bem distante...carregamos em nossos genes um nacionalismo incomum. Temos o sangue quente, bem diferente dos alemães por exemplo que, quando se falam, parece que estão na Alemanha, numa frieza sem graça do caramba.  
Na Cidade Imperial 




Cidade Imperial

Debaixo de um chuvisco enjoado segui até o próximo local que queria visitar  umas tumbas numa parte meio afastada da cidade, na região rural. Todo mundo ia pra essas tumbas em passeios de barco mas de teimoso eu queria ir por terra.Depois de quase duas horas pedalando me dei conta que aquele caminho não era muito bom pra fazer na minha bicicletinha, e porque eu não tinha um mapa detalhado da área, só sabia o rumo e esperava encontrar placas no caminho. Nada, rodei entre umas plantações de arroz , quase me atolei na lama e resolvi voltar...tinha rodado uns 2 quilômetros de volta quando vi umas motos trazendo uns gringos, no meio daquele nada. Êpa! Dei meia volta e chutei atrás deles, deviam estar indo pra algum lugar. Tem hora que a gente reza pra ver algum gringo! Eles desceram da moto e entraram num barco, que levaria à uma pagoda(espécie de templo)na margem do rio. Deixei de lado o lamaçal e as tumbas,  e entrei no barco também, não sabia pra onde tava indo, mas era melhor do que ficar se atolando ali. No guia dizia que essa pagoda era um dos mais importantes monumentos do Vietnã...tinha também um templo com escritas em chinês e um jardim com vários bonsais( que são aquelas plantas tipo árvores anãs) eu gosto de bonsai, um dia quero ter um.
Pagoda Thien Mu fundada em 1601

Em frente à pagoda nas margens do Rio Song Huong ('Rio Perfumado')

Comecei a escrever esse post no albergue, e estou continuando agora dentro do ônibus, que nem no post anterior e outros vários. Gosto de escrever no ônibus porque é um tempo morto que faço alguma coisa útil e essa sensação de movimento, de trocar de cidade me dá inspiração...  e tô achando legal descrever algumas situações ‘em tempo real’. Por exemplo , estou num sleeper bus, na parte de trás onde tem cinco poltronas que quase deitam, e elas não têm braço para separar, ou seja, uma cama na largura do ônibus para cinco pessoas. Tem um gordo roncando do meu lado que ocupa muito espaço, a noite vai ser boa... são sete da noite e só chego pela manhã em Hanói. Tive um momento de tensão quando entrei neste ônibus. Como já tinha acontecido antes , o cara quis me cobrar pelo transporte da  bicicleta, ficamos uns quinze minutos na porta do busão, eu me negando a pagar como fiz várias vezes e não paguei mesmo. Simplesmente dizia que não ia pagar(que é o certo, pois é minha bagagem) entrava no ônibus e pronto. Mas dessa vez a coisa engrossou, o japinha ficou nervoso, ligou pro chefe dele, falava comigo tremendo de raiva. Eu também tava ficando nervoso mas me contive e continuei comendo meu pãozinho...e perguntava pra ele por que ele tava nervoso e falando alto. Ele ameaçou tirar minha bagagem e a bicicleta de dentro do bagageiro e disse que eu não iria embarcar caso eu não pagasse o extra. Tinham uns cinco caras da companhia me olhando. Dessa vez eu cedi, muito mordido mas cedi, paguei os dez reais que ele pediu (aqui é muito dinheiro!!!!) e entrei.Desgraçado, primeira vez em dois meses que pago para transportar minha amada bicicletinha. Que sentimento ruim é esse que tenho, que quando alguém me enrola eu quero revidar, preciso mudar isso.








3 comentários:

Eduardo Duarte de Oliveira Jr disse...

hahahha... esse é meu leio...

vai lá, solét's não arrega pra esses japinhas não... qq coisa fala que tu tem um irmão pôco brabo aqui... JJ, Free style!!

hahahah


bjs, te cuida, e deixa de ser miserávi! paga a passagem da tua bicicletinha!!

Kahlyne disse...

tudo culpa da pobre bicicletinha......

Marcelo disse...

Dá raiva mesmo, né! Eu fico irado com isso também. Brigo até! mas tem vezes que não tem jeito.. é abaixar a cabeça e ir embora.. Legal o Vietan, hein!