Tristes museus

Phnom Penh, 16 de dezembro de 2010.

De Siem Reap vim para  Phnom Penh(se lê: Fnom Pén), a capital do Camboja. Trânsito caótico, uma cagada parecida com a de Jakarta...muita moto, cada faixa da rua funciona como mão dupla, portanto são quatro faixas de carros, motos, tuk-tuks, bicicletas...e ninguém respeita nada, não tem esse papo de pisca-pisca, semáforo, preferência....quem se mete primeiro na frente passa. Todo mundo, até os carros passam por cima das calçadas como se fosse a rua...no cruzamento de 2 avenidas grandes é curioso o tamanho da cagada que é....eu encostava a bike às vezes só pra ficar vendo aquela cena... andar de bicicleta esses dias no meio dessa confusão foi muito desafiador. Se alguém quiser perder o medo de andar no meio do trânsito de bicicleta, venha pra Phnom Penh!!!
Passei 4 dias mergulhado na poluição e na história da guerra. Como eu contei no outro post sobre o genocídio que ocorreu aqui há 30-35 anos, não tem como vir para o Camboja e não estudar sobre o assunto. Esses dias todos que passei aqui estudei bastante sobre a desgraça que o Khmer Vermelho fez por aqui liderado por Pol Pot, um dos homens mais perversos que já existiram no mundo. Pra vocês não pensarem que eu estou sendo sensacionalista, vou contar umas atrocidades que vemos quando visitamos os museus aqui em Phnom Penh, e vocês vão sentir o drama. Talvez não sintam a mesma sensação que eu tive ao caminhar pelos campos e extermínio, quem não gosta de desgraça pode parar de ler aqui.
No hotel que fiquei todo dia passava um documentário, assisti ao filme Killing Fields que mostrou uma história real de um repórter americano e outro cambojano que relatam sobre os 4 anos vividos na guerra civil, foi bacana assistir a esse filme pra eu ver em imagens tudo aquilo que tinha lido, assisti também ao documentário S-21 narrado por prisioneiros de guerra que sobreviveram.
Visitei o Killing Fields de Choeung Ek, o campo de extermínio nas proximidades de Phnom Penh, é tipo um sítio num local meio isolado, onde agora tem um monumento em memória dos que foram mortos lá, uma torre com umas 8.000 caveiras...e um pequeno museu onde tem muitas informações , fotos dos membros do Khmer Vermelho e suas trajetórias políticas, utensílios utilizados na matança, roupas...e ao redor umas placas demonstrando cada local: onde paravam os caminhões carregados de gente vindos da cidade,  as valas comuns onde jogavam os corpos, por ser um fato tão recente tem uma área com ossos e dentes pelo chão  e uma horrível, a árvore da morte...a árvore que eles usavam para matar crianças e recém-nascidos...seguravam pelos pés e arremessavam contra a árvore estourando a cabeça para “economizar munição”, tem um quadro num outro museu mostrando a cena...dá até vontade de vomitar só de imaginar essa cena.  A ‘demanda’ era tanta, que chegou a  300 execussões por dia e eles não davam conta,  muitos tinham que esperar até o outro dia para chegar a sua ‘vez’. Todos que visitam o local ficam muito chocados, nada de fotos sorridentes.  Curioso e contrastante é estar aqui andando neste local silencioso, vendo isso e ouvindo ao fundo risos e barulho de crianças brincando numa escola que funciona bem ao lado.    

A árvore...

Outro dia fui no Museu do Genocídio Tuol Sleng, antigo Security Office 21 (S-21), no centro de Phnom Penh, que foi digamos o ‘Quartel General’, considerado o mais secreto órgão do regime Khmer Vermelho. Era uma escola que foi transformada numa prisão pra onde eram levados os ‘opositores’ e militares. Dezenas de salas de aula transformadas em celas, ando pelos corredores num silêncio como de um funeral, e nas salas vejo as camas de ferro onde os presos eram amarrados com fotos terríveis em preto e branco em cada uma das salas. Em outras vejo os ferros onde grupos de 20 ou 30 eram presos pelos tornozelos, e tinham que permanecer sempre deitados e em silêncio, aguardando as ordens. Nada, nem um susurro podia ser emitido sem autorização. Estão expostos os objetos utilizados nas salas de tortura e interrogatório. Várias fotos de detentos e suas fichas, fotos dos  líderes do Khmer Vermelho, assim como várias fotos horríveis de gente morta e quadros pintados por um dos poucos sobreviventes com imagens vistas por ele. Não bati muitas fotos, não deu nem vontade.   
S-21

Uma das salas(celas) da S-21

Quadro dentro da cela

Utensílios utilizados... 

                                                  

Um comentário:

Marcelo disse...

O século XX não é o século dos avanços tecnológicos. É o século dos genocídios... triste.