Me senti em casa

Don Khon – Laos, 4 de dezembro de 2010.

Cheguei no extremo sul do Laos, região conhecida como 4.000 ilhas, fronteira com o Camboja. Foi muito bacana, fiz esse trecho a noite num ‘sleeper bus’, um ônibus que não tem poltronas, e sim camas!!  Sentar do lado de um desconhecido numa viagem longa é uma coisa...mas dividir uma cama de solteiro de 1 metro e dormir junto num saculejo da porra é outra história...mas dormi bem, não tenho problemas com o sono(aquela noite fria na Austrália na calçada do aeroporto não conta!!), teve uns buracos de madrugada que a gente se batia um no outro...tirando isso foi tranquilo.
Sleeper bus


Nessa paerte do rio Mekong formam-se várias ilhas antes dele continuar seu curso pelo Camboja. Don Khon e a sua irmã Don Det são duas pequenas ilhas onde pouquíssimos turistas chegam. É um lugar muito tranquilo(até demais) que lembra muito a região amazônica. Sem brincadeira, me senti num ambiente tão familiar que às vezes não me sentia um turista...pra um europeu isso aqui é muito diferente, mas pra pra um caboco da beira do rio Guamá...é tudo muito nomal. (Só faltou o açaí e a farinha....ehehe) Claro que a comida, a língua e a fisionomia dos habitantes locais são completamente diferentes, nessa hora que eu lembrava que tava no Laos.

Fiquei num hotel na beira do rio, com varanda pra curtir o clima ribeirinho(6 reais a diária !!). Eles tem aqui vários restaurantes e hospedarias para os turistas apesar de ser uma vila minúscula...acho que moram na ilha umas 500-700 pessoas...e eles sabem tirar proveito do turismo. Coisa que não vemos na região amazônica...já rodei por vários interiores do Pará, Amazonas e Amapá, e não se vê nada voltado ao turista estrangeiro...tipo alguém no hotel que fale inglês, menu em inglês, atividades: passeios de barco ou de caiaque, trekking, visita a vilarejos... exceto nas cidades um pouco maiores, ou resorts na floresta caríssimos no Amazonas, mas mesmo assim pouquíssima coisa. E temos belezas naturais que deixam isso aqui no chinelo...o rio Negro por exemplo, onde morei mais de dois anos, tem paisagens muito lindas com cachoeiras, aldeias indígenas ao redor com costumes bem diferentes... Temos cidadezinhas muito ricas tanto em beleza natural quanto em cultura, com um povo muito pobre,  que pederia estar ganhando uns dólares com o turismo. Se o governo desse um empurrãozinho com treinamentos e orientações, financiamentos e divulgação na internet, em pouco tempo essas cidades entrariam na rota do turista que passa pelo Brasil. Gringo gosta de coisa exótica por mais simples que seja, de riqueza cultural, costumes nativos...temos tudo isso!! além de uma culinária riquíssima, música e gente alegre. Por exemplo, se um gringo lê num guia que numa pequena vila na região amazônica ele pode fazer um passeio de canoa para acompanhar um caboco pescando, pegando camarão... e ver o boto cor-de-rosa...depois ir num mangue ver eles pegando carangueijo, de lá pra uma comunidade ver a produção de farinha de mandioca de forma artesanal...e nessa vila tem uma pousada onde ele terá uma boa recepção com ambiente agradável...basta isso pro cara pegar horas de ônibus e mais dois dias de barco  pra ir pra lá. Enfim...
Fui numas cachoeiras, corredeiras, praias...rodei de bike pelas trilhas que passam por casas de pescadores e agricultores. Tudo muito simples. Entrei  no Laos lá no norte cruzei o país todo e estou saindo pelo extremo sul, passei 15 dias... daqui sigo pro Camboja. Cada cidade, cada região, com uma peculiaridade diferente mas com a mesma simplicidade e cultura intocada.Vou embora feliz.

 Esqueci de contar aqui...comprei uma bicicleta! Faz uns 15 dias já....ela é pequena e dobrável...está sendo muito útil. Chego numa cidade, abro ela e saio pedalando...eheheh... e com a bicicletinha dá pra ir muito mais longe, meu ‘raio de ação’ aumentou consideravelmente, qualquer lugar num raio de 30-40 km dá pra ir tranquilo. Adoro bike. Falando nisso, esses dias conheci um coroa de uns 70-75 anos que veio da Inglaterra pra cá PEDALANDO !!! Ele disse que na primeira semana é meio cansativo...depois acostuma, e está viajando há um ano e meio !!!!  sem data pra voltar. O pior é que eu me amarrei na ideia, será que um dia vou fazer uma viagem dessas?...Cara, parece que eu tava falando com um cara de vinte e poucos anos, ele falando que dorme em barraca em alguns lugares, me mostrou a bike toda equipada, contou sobre umas montanhas na Turquia, sobre as estradas do Paquistão e do Irã...uma juventude, uma vitalidade no olhar que fiquei impressionado, acho que a verdadeira idade de uma pessoa  percebemos pela alma, pela energia e não pela carteira de identidade. Vemos tanta gente com cinquenta e poucos anos que entraram na senilidade,  sem ambições... e sem nunca terem experimentado nada além do seu quintal. Cruzamos com tantas pessoas durante uma viagem e cada uma delas ,mesmo sem saber, nos ensina ou nos confirma algo diferente. E com o tempo vamos melhorando nossa percepção para ler essas mensagens. Isso que eu tô falando parece com as palavras do Paulo Coelho... mas são esses detalhes, essas mensagens que assimilamos que às vezes mudam nosso rumo, nosso modo de pensar e de planejar o futuro. Ou seja, mudam nossas vidas.  



Um comentário:

Marcelo disse...

Ae Rogério! Cara, que impressionante!! setenta e poucos anos.. pedalando da Inglaterra até ai!! Uau!!! Essa eu fiquei babando. Coisas que só encontra quem mochila pelo mundo. Legal!