Coffee shop


Amsterdã, 30 de julho de 2011.

Seguimos então para a Holanda, a primeira parada foi em Roterdã, cidade onde está o maior porto comercial da Europa e um dos maiores do mundo. A cidade não tem tantos atrativos, incluí ela no roteiro pois queria visitar uma amiga japonesa que conheci no Egito. Conheci muita gente que mora na Europa, mas não tive tempo de visitar todos eles, precisaria de mais uns 2 meses para isso. Durante um passeio  de barco que fiz em Roterdã, passei pelo imenso porto com centenas de navios cargueiros, alguns deles carregando ou descarregando os contêineres através de enormes e sofisticados guindastes. Impossível não lembrar do meu pai, que passou 25 anos “empurrando água” (como ele diz) pela Marinha Mercante e já cruzou o mundo todo comandando navios petroleiros e rebocadores. Acho que meu gosto por  viagem começou quando viajávamos de navio com o papai. Eu era bem pequeno e não lembro tão bem, mas a viagem que fizemos de navio ao Uruguai, que foi a mais longa de todas, me faz lembrar de vez em quando das minhas brincadeiras no navio, quando pescávamos ancorados em algum porto, a enorme sala de máquina daqueles navios...lembranças que tenho toda vez que vejo  navios. Rodei ainda por bonitos parques e praças de Roterdã.  
Roterdã

Guindastes no porto de Roterdã
Um dos famosos moinhos da Holanda


Região da marina de Roterdã






Descansando em um dos lindos parques de Roterdã

Minha amiga Aya

Gosto de assuntos polêmicos. Assim como as religiões que despertaram ainda mais  meu interesse por envolverem tanta polêmica, outros assuntos relacionados a costumes e tabus me fazem refletir. Assuntos que são vistos de forma tão diferente de um país para outro,  nos fazem rever alguns conceitos e causam interesse pela história e evolução das  sociedades.
Quando se trata de assuntos bastante controversos, fica bem difícil se posicionar a favor ou contra. E quanto mais informações temos, aí é que se reforça essa imparcialidade. Vou falar um pouco sobre um tema que divide muito as opiniões: a legalização da maconha. Como estou na Holanda, estou em “território legal” para tocar nesse assunto! É quase impossível andar pelas ruas de Amsterdã e não refletir a respeito desse tema. O uso da maconha aqui é tão comum quanto o cigarro e o álcool. Ela é vendida legalmente nos Coffee shops da cidade, regulamentados pelo governo. E esses locais não são guetos marginalizados e frequentados por delinquentes como qualquer mente puritana pensaria a princípio. A coisa é tão comum aqui, que o sujeito escolhe em um menu, qual qualidade de maconha ou haxixe (um derivado da maconha) ele deseja. Em vááárias lojas da cidade pode-se comprar também qualquer apetrecho para o fumo. Um aparato interessante que vi foi um vaporizador, onde a erva é aquecida com vapor e a fumaça criada não se dá pela queima(ou seja, não se cria substâncias tão nocivas, quanto aos criados pela queima), então o vapor é puramente vindo da planta. Visitei inclusive o “Museu da Maconha e Haxixe”  onde mostra toda a história do uso da Cannabis, incluindo outras formas de utilização da planta, é o único museu do mundo deste tema. O cânhamo, por exemplo, uma fibra provinda da cannabis, feita de uma espécie de canabis que não possui a substância entorpecente, era muito utilizado antigamente para a confecção de tecidos, cordas e papéis. Além de várias informações no museu, grande destaque também é dado ao seu uso medicinal, mostrando que há muito tempo ela é utilizada com êxito na medicina, inclusive uma rainha da Inglaterra já fez uso de suas propriedades terapêuticas. Eles têm também uma pequena livraria que disponibiliza vários livros sobre últimos estudos médicos desenvolvidos com a planta.
Ouvindo uma conversa de um dos funcionários do museu com outros visitantes, ele fez um relato contando  sua experiência por ter trabalhado por dois anos em um hospital em Amsterdã, onde se utiliza a cannabis em pacientes portadores de doenças degenerativas musculares. Ele contou que o relaxamento muscular causado pela substância ativa, o THC( que é administrada de outra forma, não em forma de cigarros!) auxilia bastante na fisioterapia e consequentemente na melhora da condição desses pacientes. Além disso ela tem comprovada eficiência no tratamento ou prevenção de várias outras doenças como a doença de  Alzheimer, vários tipos de câncer,desordens mentais e esclerose. Em outros países como os EUA e a Alemanha, também se pode comprar com uma autorização médica, o medicamento nas farmácias.
Antigos medicamentos à base de cannabis

No museu, a demonstração do vaporizador

As letrinhas mais fotografadas de Amsterdã


Por que a maconha é tão marginalizada no mundo? Por que quando se vê alguém embriagado por ter bebido uma grande quantidade de álcool é uma cena completamente normal, enquanto que alguém que fumou um baseado é visto como um ‘drogado’ e transgressor? Por que se criou uma imagem tão negativa e hipócrita em relação ao uso da cannabis, sendo considerado um assunto proibido em rodas sociais, fazendo tantas mães chorarem ao descobrirem que seus filhos são usuários? Enquanto que se o menino chegar com cheiro de bebida é absolutamente normal, e a mãe ainda prepara uma sopinha para curar a ressaca do rapaz !!?? Talvez o álcool tenha mais probabilidade de levar à dependência, mas é uma droga que é totalmente aceita e a tolerância social é reforçada com a propaganda que estimula o seu uso fazendo uma relação com alegria e descontração de quem usa.
A maconha já era utilizada na China há mais de 5 mil anos, e de poucos anos para cá, quando foi considerada ilegal, criou-se uma imagem bem discriminadora de seus usuários.  Nos anos que morei no rio Negro, aprendi muita coisa sobre os índios Yanomamis através da minha amiga Socorro que desenvolve um trabalho excelente junto a eles. Assim como as outras dezenas de etnias indígenas que vivem na região do alto rio Negro, os Yanomamis têm muitos de seus costumes preservados. Ela me contou de um entorpecente poderosíssimo utilizado por eles. É colocado um pó extraído de uma planta em um enorme cachimbo, onde basta uma puxada para o sujeito ficar completamente transtornado. E eles fazem suas danças e rituais à base desse entorpecente. E aí?, alguém teria coragem de dizer que o índio está errado, contra a lei e é um delinquente passível de punição?  O homem usa plantas e raízes com efeito entorpecente há pelo menos 10 mil anos...                                                                  
É muito difícil formar uma opinião simples diante de um tema tão complexo como este. É impossível fazer uma previsão exata das consequências da legalização, por mais que se tome por base os modelos de outros países. Questões do tipo: Iria aumentar ou diminuir a criminalidade? Os problemas de saúde em consequência do maior número de usuários seriam realmente piores?, já que haveria um maior controle de qualidade e uma maior atenção na saúde pública para esses problemas... Se todo o dinheiro público investido na tentativa de controle do uso, fosse usado em campanhas de educação, seria melhor para a sociedade? Com a descriminalização, teriam menos mortes relacionados à guerra ao tráfico e melhoraria o problema carcerário no Brasil? Essas e outras dezenas de perguntas no âmbito econômico, social, da saúde, da moral... são difíceis de se prever, pois em cada sociedade, uma política pública tem um resultado diferente. A verdade é que a guerra contra as drogas nunca será vencida e milhões são gastos inutilmente. Enfim, é fato que a cannabis tem efeitos prejudiciais à saúde se utilizada em excesso, estudos demonstram que o prejuízo no organismo se dá após o uso diário por mais de 15 anos consecutivos(como a diminuição de 2 a 3% da concentração e memória).  Mas se vermos com calma toda a história da humanidade que já utiliza substâncias psicoativas há milênios, e vermos algumas sociedades que não existe qualquer tabu sobre o uso de algumas delas, se trataria o assunto sem nenhum preconceito e os dependentes procurariam ajuda e tratamento sem medo de serem expostos e rejeitados.
Eu vi na Índia, na cidade de Jailsaimer uma loja de cannabis autorizada também pelo governo, pois na Índia também é considerado o lado religioso do seu uso pelos hindus. Outras substâncias alucinógenas também são utilizadas por outras religiões, e nem por isso são marginalizadas.
  Não estou fazendo aqui apologia ao uso, muito menos defendendo a legalização. Como eu disse, é um assunto tão controverso que nem os especialistas do assunto fazem uma análise concreta do caso, isso é uma longa discussão. Só não sou de acordo com o tabu criado em torno da canabis, tanto é que resolvi tratar esse assunto no blog, justamente por estar vendo aqui na Holanda a normalidade que se vê a coisa. A Holanda é definitivamente um lugar para exercitar a quebra de tabus.
Amsterdã é toda entrecortada por canais



Ouvi dizer que em Amsterdã tem mais bicicletas
do que habitantes!

O outro “ponto forte” de Amsterdã, é o Red Light District , ou ‘Bairro da luz vermelha’, onde se concentram inúmeros sex shops e cabarés onde garotas de programa ficam em cabines  com frente de vidro, como vitrines, oferecendo seu ‘produto’. A prostituição por aqui também tem uma longa história, e é uma profissão regulamentada. Elas têm uma casa de apoio, tipo um sindicato(que fica bem ao lado de uma igreja!) onde mostra a história da prostituição em Amsterdã. Esses são os principais temas das lojas de souvenirs de Amsterdã: sexo e maconha! E eles têm uma criatividade incrível para fazer souvenirs sobre esses temas!!! Fui também no Museu do Sexo, que tem um acervo meio fraco..rsrsrsr....mostrando a evolução do tema ao longo dos tempos. O ‘acervo’ dos sex shops é muito mais interessante!
Bati um papo legal com o Melvin, o camarada do couchsurfing que nos hospedou aqui, que morou a vida inteira em Amsterdã. Sobre como o governo faz para controlar os coffe shops e sobre a legalidade desses assuntos aqui.
Melvin, que nos hospedou pelo couchsurfing

Inocentes coelhinhos das lojas de souvenir

Cinto de castidade exposto no Museu do Sexo

Amsterdã é muito linda!


Um comentário:

vanessa madeira disse...

Passei no teu Orkut e também no Blog e achei formidável... Fantástico principalmente tuas postagens e observações em cada destino turístico. Sentir-me “viajando... Deu p/ perceber que o Oriente mexeu muito com VC, realmente é bem exótico aos olhos ocidentais, imagino o choque cultural para quem mora no Ocidente, mas à Europa particularmente, é magnífica! A arquitetura as igrejas os castelos medievais contrastando com a arquitet/ moderna a CULTURA os museus a história, os jardins e parques simplesment adoro plantas, flores e paisagismo, acho deslumbrant, enfim, WONDERFUL... Espero que um dia VC me conte uma parte da viagem q/ n foi e nem pode ser publicada no blog p/ motivos óbvios?! Rsrsr